quinta-feira, 8 de outubro de 2009

UMA FLOR

Uma flor quando se abre,
todo seu esplendor desnuda,
pétalas abertas como mãos que pedem,
mas na verdade seu perfume oferecem;
o olfato em seu esvaiar, se inunda.

Olha a cada um que passa,
nem mesmo um inseto lhe é despercebido,
fica alegre ao ser tocada,
e com este, seu perfume é dividido.

Vida curta,
mas já eternizou grandes paixões,
quando em juras de amor foi testemunha.
É ofertada, de mão às mãos de mães.
Ela é sempre oferecida...
pela jovem enamorada,
com amor é recebida.

A vejo sempre no altar,
colocada aos pés da Virgem Santíssima,
selando a fé e devoção de fieis,
representado numa flor lindíssima.

Com a vida humana tudo tem incomum,
quando vive para si,
é como flor entre espinhos... intocável,
pouco a pouco a murchar-se,
um dia, num lampejo de consciência,
o que fiz?, nada para lembrar-me.

Adilson Silveira – 09-2008

DEFENDENDO A NATUREZA

Nesta era tão evoluída,
O progresso é má solução.
Todos preocupam com ele
E esquecem o valor do sertão.

Com petróleo jorrando da terra
Cada dia uma perfuração,
Quanto mais petróleo jorra
Mais aumenta a poluição.

Com tristeza a gente vê,
Por toda parte, grande desmatação.
Nosso verde está sendo queimado,
Que faremos em defesa do sertão?

Precisamos de oxigénio
Pra manter nossa respiração,
E o roceiro precisa da terra
P’ra poder cultivar o pão.

Se a coisa continuar assim,
Nossa terra vai virar torrão.
E onde nos vamos tirar
Sustento para nossa nação?

Meu bom Jesus, o que será de tudo isso?
O que será dos filhos que virão?
Aqui na terra a coisa tá ficando feia,
Meu Jesus, busco em Ti a solução!

Poe na mente dos nossos governos
Uma lei para toda a nação,
Pra acabar de uma vês, para sempre
No Brasil, a devastação.




Adilson Silveira
Morro da Garça/MG

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O MANTO, MEU PRESENTE AO MESTRE

____ Meu Deus, quanta injustiça!...
Clamava em prantos uma pobre viúva apertando sua filha ao corpo, tentando tapar-lhe o rosto com uma das mãos.
____ O domínio dos poderosos é como paga de nossos pecados, reduzindo-nos á escoria de um povo que não tem o direito a crenças ou opiniões, sempre dominados pelos poderosos.
A pobre mulher assim dizia, porque o poder do Império Romano, abafava e limitava o povo ás suas vontades.
____ Quando Senhor?... virá a verdadeira libertação que é sua promessa, e nossos antepassados acreditaram a ter vivido ao seguirem Moises. Senhor, como podem condenar a morte humilhante de cruz a um homem que só fez o bem, ensinou nas sinagogas e campos, esclareceu as escrituras dos profetas, e falou do reino de Deus pai com a autoridade de um verdadeiro filho.
Clamava em prantos, seguindo a passos lentos um cortejo de dor, que culminaria na maior injustiça que a humanidade já cometeu, um condenado em que o próprio rei não lhe achou culpa alguma.
____ Pobre Jesus, por sua mansidão e realizar grandes milagres, despertou o ciúme do Cinédrio, que fez de Cristo um inimigo e jogou os miseráveis contra Ele.
A multidão dos injustos está inflamada pela influencia dos sacerdotes do cinédrio, que são homens de posses e de grande influencia junto ao Imperador e ao rei. Indignada a mulher tentava mostrar á filha as qualidades do homem que carregava a cruz.
____ Veja filha, este homem que passou por nos, todo desfigurado sob o jugo de chibatadas e chutes, levado ao topo do calvário como se leva um animal ao abate, é o mesmo Jesus que um dia em nossa casa lhe devolveu a vida quando você jaz morta a horas, Este Santo adentrou a nossa casa e pedindo a todos que se retirassem lhe tomou pelas mãos e mandou que se levantasse e lhe déssemos de comer, pois, certamente você estaria com fome. Filha. Quanta dor ao vê-lo cair mais uma vez e quase ser esmagado pelo peso de sua cruz, que lhe é mais leve que todos os pecados e erros da humanidade. Se eu tivesse força e poder, lhe daria meu socorro, lhe livrando deste humilhante fim. Vejam!... mais um milagre, uma mulher limpou-lhe o rosto do sangue que lhe brotava por toda a face, escorrendo dos espinhos da coroa lhe cravada na cabeça com zombaria e insulto, por ser chamado rei dos Judeus. Vamos filha ver nas mãos da mulher o milagre na toalha que se tornou mais branca e em seu meio retrata a imagem limpa do inocente.
____ Ainda então todos admirados com a estampa na toalha quando o estalar dos martelos chama a atenção dos que seguem contritos aquela injustiça.
____ Meu Deus!, vejo Maria que chora o martírio do filho injustiçado, e seu clamor não ultrapassa nem mesmo as primeiras fileiras dos guardas que cortejam com zombaria o pobre Galileu. Minha dor também é imensa e se torna mais aguda ao ver os guardas que dividem os pertences de Jesus, e por acharem de valor a túnica tecida sem emendas que eu um dia lhe presenteei em gratidão por tê-la salvo, e Ele quando a usava, me enchia de orgulho ao saber que o Santo de Deus aceitou um presente desta humilde serva. Com ódio vejo-os lançarem sorte sobre o manto que representa toda minha gratidão e nela limparem as mãos para tirarem o sangue deste inocente que agora já está pendurado no alto de uma cruz, em meio a dois ladrões merecedores do castigo.

O tempo se fecha e uma chuva tempestuosa começa a cair lavando o corpo do Santo que levou toda a sujeira dos homens e mesmo aqueles que lhe fizeram tanto mal, o ouvem implorar o perdão por suas ignorâncias. Muitos já estão voltando para suas casas, assustados com o furor da chuva que mais parece um sinal do céu. A pobre mulher que não pode fazer nada, agora ouve o capitão da guarda dizer:
____ Guardas, acabem logo com isto, não quero ficar a tarde toda sob esta chuva, aguardando a morte destes condenados, quebrem suas pernas e vamos logo embora.
A pobre mãe ao lado de Maria, sente uma amargura ainda maior ao ver que, o guarda após quebrar as pernas dos ladrões se caminha para o lado de Jesus para cumprir a ordem de seu mandante. Mas Deus que é fiel em suas palavras, fez cumprir as escrituras que dizem: “nenhum osso lhe será quebrado”, assim o homem percebe que Jesus não respira mais, mas para ter certeza se sua morte o homem pega sua lança e lhe defere um golpe entre as costelas de onde jorra apenas uma liquido que não tem mais o vermelho do sangue. O guarda certo de sua morte, pega suas ferramentas acomodando tudo embaixo do braço, abaixa-se para pegar o manto que é sua paga pela sua sorte, mas pegando-o apenas com as pontas dos dedos, sente nojo ao ver o sangue que lhe escorria misturado ás gotas da chuva que lhe encharcara as fibras. Com repugno joga-o caminho abaixo, e aquela cena é vista pela mulher que um dia o tecera com tanto carinho. Rapidamente ela corre e o apanha, com carinho como quem ganhou um grande presente ela o afaga dobrando-o sobre seu braço e com ternura o aperta contra seu peito. Pega a filha pela mão e puxando-a para casa, descem a escorregadia lama daquele palco de horrores.
Três dias depois, proclamavam que Jesus havia ressuscitado, incrédula também corre ao túmulo para confirmar os boatos. Com emoção, sente um aperto no peito e um formigar nos olhos, enquanto as lagrimas lhe escorrem o rosto, da garganta a vós lhe salta
_____ “Ele vive!!!”. Oh! Senhor, como estou feliz!.
Mas agora o preciso encontrar, para lhe entregar o manto que lhe foi tirado e lançaram sorte sobre ele, e o guarda com nojo do sangue que dele escorria, o jogou fora.
Os dias passam e muitos falam do ressuscitado, mas a pobre mulher não o consegue encontrar, passado quarenta dias ela fica sabendo que Jesus subiu ao céu, deixando o apostolo Pedro responsável pelo rebanho cristão, assim toma uma decisão:
____ Entregarei este manto a Pedro, pois Jesus lhe confiou tudo que Ele ama, Sei que Pedro ficará feliz em receber o manto que cobriu as chagas de nosso Senhor.
Adilson Silveira
10-05-2007.

A ESTÓRIA DO BOI DA MANTA

Boi da Manta, é fantasia
e sua estória vou contar,
Boi símbolo de alegria,
por toda gente do lugar.

Quer em noite de lua cheia,
Ou numa festa popular.
Alguém pega o boi da manta
E sai pelas ruas a vagar.

Boi da Manta é boi tranqüilo,
Muito manso... eu vou contar,
razão porque apareceu
este boi, neste lugar.

Foi nas terras da D. Joana,
(A Joaninha do arraia).
Existiam umas juntas de bois
Todos treinados a carrear.

Num dia santo de guarda,
Por devoção, ninguém foi trabalhar.
Estavam os bois soltos no pasto
Dividido por arame de farpar.

A lavadeira da fazenda
Pôs as roupas pra quarar,
Entre elas uma manta vermelha
Muito bonita de se olhar.
Nisso vem um boi carreiro,
O mais manso que já vi .
Vendo aquela manta vermelha
Logo, pegou a mugir
Ficou com raiva da manta,
Acho que sua cor não o agradava.
Pois lembrava o sangue de boi,
Que muitas vezes, no serviço pingava.

Avançou com raiva na colcha,
e encima dela pisou.
Mandou-lhe os chifres com força,
com vontade de rasgar
e saiu correndo pro mato,
quando eu a quis tomar.

Embrenhado no meio do mato,
muito tempo ele ficou,
só voltando quando a manta,
do seu chifre desgarrou.

Dizem que esta manta,
ninguém mais pode encontrar.
No outro dia bem cedo,
quando eu fui carrear,
perguntei então à patroa,
qual boi devia pegar?

O que ela então me disse,
Na hora me causou espanto:
___ Pega aí qualquer boi,
mas não me pega o boi da manta,
vou chamar o açougueiro,
para este boi matar,
pois boi que me der prejuízo,
aqui não pode ficar,
vou dar sumiço em seu couro,
pra nunca mais mingúem lembrar,
este boi foi desordeiro ,
ao minha manta rasgar.

Fui então pra labuta,
pensando no pobre do boi,
sentia seu triste fim,
Para um carreiro, que tão bom foi!

Trabalhava todo dia ,
na guia do carroção ,
não merecia este fim,
mesmo sendo um pobre pagão.

Não trabalhei direito,
pois meu coração doía.
Sentindo pena do boi
e do triste fim que teria.

Voltei mais cedo pra sede
sentindo a tristeza no ar,
cheguei a sentir raiva da Patroa,
por aquela atitude tomar.
Se pudesse eu comprava, outra manta
praquele animal salvar.


No meio do caminho eu vi
O tempo então se fechar.
Ouvi um mugido distante
e pude então perceber,
era o fim do boi carreiro
que acabara de morrer.

Pedi as contas da fazenda,
pra outras bandas mudei.
Nunca mais vou ser carreiro!
Esta jura, eu deixei:

Só quem já carreou,
é que sabe, o que senti,
aquela mulher ao mandar matar o boi,
Matou um pouco de mim.

O tempo passou. . . ! e um amigo me disse,
que pelas bandas da fazenda,
nada mais ali restou.
D. Joana enlouqueceu, com uma assombração que surgiu,
mugindo em noites clara,
causando grade arrepio.

É a assombra do boi que um dia,
por ignorância mandou matar.
O seu sangue manchou a terra,
com um desenho a reparar.
É o mesmo desenho da manta
Que nunca mais se pode achar.

E até hoje ele aparece,
a quem por ali passar.
Escuta-se ao longe um mugido
E depois se vê formar,
um boi coberto com uma manta.
Acho que é a tal. . . que alguém jamais
Conseguiu encontrar.


Adilson Silveira – 07-2003

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A PESCARIA FRUSTRADA

Arruma as traias mulher
fim de semana nós vamos pescar,
tenho tudo combinado
com o compadre Ademar.

Vamos levar também os meninos
pra não ficar preocupação,
bateremos anzol por três dias,
leva arroz, tempero e feijão!

Com a carne, não se preocupe
das águas nós vamos tirar
pescado fresco, da hora,
pra pinguinha acompanhar.

A comadre Ana, também vai
acompanhando o Ademar,
levarei também o zezinho
pois na pescada, melhor não há.

Quando foi na quinta-feira,
logo cedo, os pescadores seguiram,
todos em uma carroça
com toda a traia que levava,
levaram alimentos para três dias
e a cachaça não faltava.

O cavalinho choteava
parecia sentir prazer,
mesmo levando peso,
seus passos, eram quase um correr.



A mulher do totônho indagou
o local da pescaria,
o Ademar lhe respondeu:
____Desta vez você vai gostar,
na lagoa tem peixes acumulados
pois ninguém lá vai pescar.

É a lagoa do finado Afonso
do outro lado da passagem
desde que ele morreu
na lagoa, ninguém faz paragem

contam de lá muitas coisas
mas em nenhuma eu acredito ,
só creio no que vejo
e não no que está escrito.

Na hora um vento frio
por todos eles passou ,
não seria um mau presságio
pois nenhum deles ligou.

Seguiram alegre o caminho
que levava rumo à lagoa,
contavam casos e riam muito
tomando uma pinga da boa.

Por volta das nove horas
daquela manhã lá estavam,
acampados na beira das águas
e as primeiras redes armavam.

Logo então alguns peixes
no anzol também saiu,
fartando a mesa do almoço
que alegre Ana serviu.


As crianças brincavam na grama
enfrente ao rancho improvisado,
na lagoa os homens pescavam
esquecidos de um assunto passado

... É que o dono destas terras
há muito que já morreu,
sentindo-se acuado por um caso
que com ele sucedeu.

Não aquentou a vergonha
que este caso causou,
pensou então sua vida
e um plano traçou:

_____ O remorso me coroe
pelo mal que a minha filha fiz,
estraguei a minha vida
e ela nunca mais será feliz
pois em meio a sua adolescência,
sua inocência desfiz.

Findarei a minha vida
pois não mereço mais viver,
peço a Deus que me perdoe
pelo que pretendo fazer...

No outro dia bem cedo
o seu corpo foi achado ,
pendurado a uma corda,
tinha o pescoço quebrado.

Vou pegar lenha, disse Osmar aos amigos
pois a noite vai chegar
vamos fazer uma fogueira
pra todos nós se esquentar.


Já envolta das chamas ardente
aquele grupo se sentou ,
contavam casos e bebiam muito
e do falecido se lembrou.

Como que em resposta ao chamado
uma grande gargalhada se ouviu,
parecia que vinha do mato
outra hora do meio do rio

A mulher então exclamou:
_____ Homem, você ouviu?
esta risada espantosa
que me causou arrepio.

Vocês falam em gente que já morreu
isto não é coisa que se faz,
devemos viver nossos momentos
e deixar os mortos em paz..

Todos fizeram silencio
pensando no que seria,
aquela risada no mato
em uma noite tão fria.

Nisso então o zezinho
já quase bêbado gritou:
_____ Se for gente vem pra cá!
Se és morto, com medo não estou.

Aí então a risada
novamente se ouviu,
vindo em direção ao fogo
causando mais arrepios.




As mulheres agarraram os meninos
e começaram a rezar,
os homens, alto gritaram,
se és defunto, pode voltar.

A risada para de repente
e todos ficam aliviados,
nisso um forte chute na fogueira
joga brasas pra todos os lados.


O susto agora foi tanto
que de costas uns até caíram,
as chamas subiram de repente
e a risada novamente ouviram.

Seu Osmar ficou nervoso
nesta hora ele gritou:
___ Some daqui, branco safado
vai assustar quem te soltou.

A mulher pediu para ir embora
mas os homens estavam irados,
daqui não sairemos, não vamos voltar
sem levarmos os nossos pescados.

Parece que a bronca deu certo
pois na hora tudo acalmou,
não se ouvia nenhum barulho...
mas, o silêncio também assustou.

Todos estavam apreensivos
com medo do que poderia acontecer,
nisso ouviram o relincho do cavalo
que sozinho começou a volver.



_____Veja Osmar, o cara agora tá pegando o cavalo,
o que será que ele vai fazer?
Viram o cavalo, ser arreado a carroça,
sem da assombra poder correr.

O vagabundo está roubando nosso cavalo
vamos logo dele tomar,
mas nesta hora ouviu uma forte risada
e o cavalo começou a marchar.

Correram em direção à lagoa
não deram conta de pegar,
o cavalo entrou nas águas
com a carroça a puxar.

O zezinho gritou em desespero
____ O safado quer matar o cavalo!
Vai atolar a carroça
e o pobre animal morrerá afogado.

Ma a turma abismada viu
da beira da lagoa, o cavalo nadar,
atravessou arrastando a carroça
e do outro lado chegar.

A risada se tornou mais forte
e um vento com ela veio,
um redemoinho se formou no acampamento...
aí, o povo viu o que é feio.

As panelas caíram no chão
por todo o pasto se espalhou,
o rancho foi arrancado,
nem um pau ali ficou.




Todos ficaram pensando
o absurdo que a assombra fez,
Assim que raiou o dia
tiveram então que voltar
não tinham nenhuma comida
e nem peixes para mostrar.

Hoje estando sóbrios e em casa
Nem do caso querem lembrar,
Ficam todos arrepiados
Quando alguém vem perguntar,
Pela pesca na lagoa do Afonso
Lugar assombrado, este é um, pode apostar.


Adilson Silveira
20/03/2005


“Esta estória é mera ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos da vida real, é mera coincidência”

sexta-feira, 24 de julho de 2009

ACRÓSTICO A UM AMIGO

Abençoado o dia que vieste ao mundo!
Risos eufóricos comemoravam sua chegada.
Instinto a mim revelava, imagem e semelhança de menino Deus.
Seu semblante de anjo,
Isto sempre mostrou ,
Ostento de mansidão, paz e amor.

Era um dos filhos mais desejado.
Ungi-vos ainda em feto,
Seguirás o caminho de Cristo,
Tomaras para Ti responsabilidades,
Andarás sempre nas linhas certas que o Senhor escrever,
Quando o menor lhe procurar
Urgi-se em atender.
Ignore o tempo em seu favor
Onde alguém o chamar, atenda-o com amor.

Conheces o caminho a trilhar,
Obstáculos a serem ultrapassados.
Escolhas sempre o caminho do bem,
Lembra-te dos ensinamentos em ti fundados.
Haja sempre com luz e luz também serás
Orgulho, para os que querem a paz.

Marque sua passagem terrena,
Avance em águas mais profundas,
Ganhe anjos para o Senhor,
Aliviando a dor do mundo.
Levante suas mãos aos céus,
Horas e horas trabalhai,
Ancião serás, como símbolo bíblico,
Espere firme em Mim, seu senhor.
Sempre estarei contigo.

Adilson Silveira
Feliz 2009 – muita saúde e paz

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A ASSOMBRA, ASSOMBROU...

Contava meu pai certa vez, de um caso que com ele se passou. . .
____ cheguei na praça todos comentavam do susto que o Juliano levou, olha que este moço não era molenga, tinha até fama de brigador, tomava cachaça e mascava fumo; coisa de matuto rasgadô.
Trabalhava embutido nos matos, usava um machado pesado, de um lado um corte luzente e de outro lado um pontinho agussado.
Desprezava montaria mesmo se o patrão lhe oferecesse, fazia seu trajeto a pé, calçando umas precatas de couro de bichos que ele mesmo cassava. Comentavam todos admirados, como pode um homem tão bravo, chegar assim assustado.
Contava ele que viu, com os olhos que a terra há de comer, duas velas acessas sobre a cruz, pavoroso, credo em cruz, Deus me livre de rever.
Perguntaram a ele onde viu tanto pavor, o homem parecia até gaguejar: foi na virada de estrada, sobre uma cruz que tem lá.
Será que o defunto quer missa, o padre tem que celebrar, alma penada sofre muito e ainda vem nos assombrar, temos que dar um jeito, desta coisa fuguetar.
Quando o Juliano me viu, veio logo me alertar. . . Zé Cândio, Zé Cândio espera, oce tem que me escutar, na curva lá da estrada, eu vi o bicho pegar, foi bem perto da porteira, que dá pras terras do Alagado, sobre aquela cruz de madeira, ao lado da porteira fincado.
O que foi que você viu seu jú, que estão todos a comentar, parece que viu sombração e agora quer também assombrar:
Zé Cândio é o seu caminho, que leva pras terra arrendada, cê passa lá todos os dias, ainda vai encontrar a roubada.
Você cria juízo e para de beber, isto é coisa da marvada, já comeu seus miolos que eram poucos, agora até a visão ta embaralhada.
Vai gozando de mim, vai, vai. Se um dia lhe acontecer, quero ver você voltar, do meio do caminho para esta estória contar, vou dar tanta gargalhada que até meus bofes vão se soltar.
Não estou nem um pouco assustado, com estas coisas eu não brinco, não abuso de quem já foi, mas aposto com quem quiser, quando marco meu caminho, vou até o fim, e dele não arredo o pé.
Passaram então alguns dias, numa tarde, eu tinha de voltar pro roçado, arrumei minha matula, a mula já estava amarrada, depois das crianças dormirem, atravessei o povoado.
Chegando então numa curva, perto da porteira dos alagados, eu vi uma coisa estranha, acima do chão parado.
Lembrei logo do Juliano, no grande susto que tomou, a mula deu um corcovo, mas nem isto me assustou.
Firmei encima dos arreios, logo a chibata estralou, minha mula estribava, e nervoso me deixou.
Animal que eu montar é que tem de me obedecer, cravei as esporas na bicha, senti ela encolher, saiu pulando que nem doida, mas nas rédeas tinha que me obedecer.
Chegando mais perto eu vi, parecia mesmo duas velas acessas, a mula não queria passar, gritei então com clareza.
Sai de meu caminho coisa tinhosa, não vê que quero passar, não arredo um passo da porteira, é você que vai se afastar.
Esperei um minutinho, foi como se um ano passou, as velas continuavam acessas, parecia até que o fogo aumentou.
O jeito foi dar no trinta, na hora a mula empinou, atrapalhou minha mira, os dois tiros não pegou, nisso a coruja bateu asas, deu um pio e vou.
Acabou-se a assombra das velas acessas, ninguém mais se preocupou, com a luz dos olhos da coruja, que para o sertão, voou, voou, voou...


Adilson Silveira
Janeiro de 2009

JUVENTUDE INTERROMPIDA

Não meu filho, é melhor você não ir.
Assim dizia a mãe tentando convencer o filho a não ir a uma festa religiosa, em uma comunidade ali próxima.
O tempo ta muito frio... e este povo não tem horário para voltar. É melhor você ficar com a mamãe.
Mas o menino empolgado com o convite do irmão, o mais velho da casa e sabendo que outros colegas seu irão, insiste com sua mãe que não se importava com o frio, queria mesmo ir.
A condução para no pátio da igreja, eufóricos todos descem e aquele jovem observa a paisagem ao redor. Fica vislumbrado com o lugar que abriga a pequena igrejinha erguida em louvor a Nossa Senhora. Firmando a vista mais longe percorre os cerrados percebendo pés de pequis, araticuns e em meio a arrueiras a vegetação do cerrado. Em frente a igreja uma área bastante grande exibia uma grama comum, muito verde, que se contrastava com o branco da capela, enquanto a seu lado, um estaleiro equilibrava um sino de bronze na ponta de uma corrente mascada pela corrosão do tempo. Olha mais em volta e vislumbra-se com as luzes da barraquinha, onde uma estrutura bem típica da roça, mostra vários conjuntos de mesas com cadeiras alinhadas, prontas para receberem as pessoas que nesta hora estavam no interior da igrejinha, assistindo a santa missa. No pátio perto da barraquinha, inúmeros carros, motos e até mesmo três charretes de alguns sitiantes ali de perto. O menino se caminha para a igreja, mas não entra, fica parado recostado ao portal de onde deu uma rápida olhada no interior da singela casa de Deus. Logo voltava sua atenção para o movimento no interior da barraquinha. A noite se aproxima rápida e junto com ela um barrado avermelhado na linha do horizonte, o faz lembrar de sua casa, quando da varanda, observava o dia se acabando com este mesmo efeito, ouvia sempre sua mãe dizer: entra e feche a casa que esta noite vai ser muito fria. Acaba-se a missa, e como num passo de mágica, em poucos minutos os lugares da barraquinha são ocupados pelos freqüentadores do culto ali celebrado. O som ligado alto, fazia as pessoas conversarem sempre próximas ao ouvido das outras. O adolescente caminhava em torno da festa, vislumbrado com a alegria que emanava daquela gente simples, ali presentes em busca de diversão. O barulho de mais carros e motos chegando o faz perceber que o negro da noite agora queria ocupar todo o espaço que antes a luz do dia cobria, respeitava somente as luzes da barraquinha, que as vezes pareciam até piscarem embaladas pela potencia do som que animava a festa. Aonde parecia não caber mais ninguém, a cada instante se enchia mais e mais, pois a luz de motos e carros chegando, riscavam a escuridão da noite vindo em direção à festa. Horas alegres passam, agora pouco a pouco as famílias se levantam, despedem muito alegres e seguem para seus carros, felizes com a harmonia daquela noite. Percebe que os motoqueiros não param de chegar, agora porem estes que chegam, imbicam suas motos quase dentro da barraquinha e antes de as desligarem, aceleram forte, mostrando a potencia em que estão montados. Adentram a barraquinha conversando sempre entre si, parecem não verem as pessoas que ali ocupam o mesmo espaço. Suas atitudes são de animais enlouquecidos, não se acomodam em nenhum lugar, sempre inquietos e conversando o mais alto que podem, chegam a incomodar outras pessoas, que mudam de lugares ou se levantam e vão embora.
Um alvoroço se forma pelos lados dos banheiros, alguém grita: é briga, é briga...
A musica alta encobre a confusão, e aparentemente tudo se acalma. Quando ninguém mais se preocupa, o disparo de um revolver rompe a barreira da musica, enquanto gritos de horrores quebram a harmonia do lugar. Por instinto todos se levantam empurrando mesas e cadeiras, o desespero aumenta ao se ouvir mais dois tiros. Olhos incrédulos se estarrecem ao ver o corpo caído na linha perimétrica da barraca, o barulho de uma moto em retirada deixa um cheiro forte de poeira no ar. Aquela noite escura e fria, jamais será esquecida. Enquanto mãos amigas acodem o infeliz, o sangue já banhava a terra, marcando tragicamente aquela noite festiva. Vozes pesarosas exclamavam: meu Deus, ele é apenas uma criança... petrificado, o irmão mais velho só conseguia chorar, enquanto pensava: como contar para minha mãe que mataram meu irmãozinho.
Mas a noticia rasga o frio da noite e chega à sua mãe... seu sofrimento é tanto que roubou minha capacidade de descreve-lo nesta crônica.
A dor da mãe, também ainda doe em mim ...


Adilson Silveira-
- Julho de 2009-

PEDRO GATO - CONTO

Em um cantinho do sertão, onde a lei não havia chegado, formou-se um vilarejo a muitas léguas da cidade. Chamada de Pedro Gato, (Vila do Pedro Gato), vilarejo ao pé da serra, escondida no meio do mato. É terra de gente valente, povo que medo de nada tem, vivem numa certa harmonia, ariscos, provoca-los não convém.

Um tal de Pedro mudou pra lá, casinha simples, quase no centro do povoado, homem de cor escura, mulato ao sol torrado. O caboclo tinha dois filhos, o mais velho era rapaz já feito, muito educado e trabalhador, nele não era achado defeito.

O mais moço era gazeteiro, de tudo dava noticia, e certa vez, por falar demais, prometeram fazer de seu couro, cortiça. Senhor Pedro para intimidar os inimigos do filho seu, um aviso mandou rolar, “fala aí a estes garotos, que querem em meu filho tocar, sou da paz, mas não sou veludo, viro leão se me acuar, por meus filhos dou a vida, não me tente, posso estourar”. Cutucar onça com varra curta é suicídio, cuidado, o bicho vai pegar.
Na entrada da casa do senhor Pedro, um jardim de folhagens ornamentavam o espaço, protegidos por um estacado de aroeiras, muitas flores penduradas aos cachos. Tinha uma cancela de pau, cravada em um esteio bem alto, no seu tôpo um sino de bronze, por uma corrente amarado, era para espantar os coiotes que vinha por estes lados.

Para dar sinal de alerta o sino também servia, tocavam-no na hora do almoço e também na Ave- Maria. Porem virou ponto de mira para o revolver de senhor Pedro, que sentado na mureta da varanda, disparava com certeza, a bala resvalava no bronze mostrando sua proeza.

Logo a noticia correu “Seu Pedro está trinando, certamente para matar, a quem tocar em seu filho, este é o rosnado que o leão dá”.
Assim virou mania, atirar no sino só pra ver o seu cantar, tinia retumbando na noite, logo alguém começava a comentar, “isto é tiro de Seu Pedro treinando para matar”.
Os rapazes acovardaram da briga, logo a paz voltou a reinar, Seu Pedro guardou um segredo, que só muito velhinho contou, “dos tiros que dei no sino, nem todos acertaram, mas o tinido do sino sempre se ouvia, vou contar como ocorria, resultado de um plano que bolei na manhã de certo dia, para respeito impor, e livrar desta ingrisia”.

Cada tiro que disparava a noite no sino, era difícil de acertar, mandava meu filho bater-lhe com pau na hora que eu disparar. O sino tinia na noite, fazendo todas acreditar, que eu era mesmo valente, disposto até mesmo a matar.

Assim só três conheciam o segredo, eu, meu filho e o sino... este é metal, não pode me falar.

Adilson Silveira
fevereiro/2009