quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A saga de Serafim e seus filhos...

A lua se esconde por entre uma nuvem mais densa, o cano do rifle cuspiu fogo por entre a moita de arbusto no descampado da serra. O corpo cai quando o cavalo dispara, o pé preso nos arreios puxou o corpo por alguns metros. A botina frouxa no pé deixa escorregar o corpo pesado do homem que agoniza tentando entender quem o teria emboscado... no pensamento vagueia as palavras da mulher que diz ___ não vá sozinho, é perigoso... com uma nuvem cinzenta lhe roubando a luz dos olhos, tudo desfigura tal qual se distanciava as batidas do coração, que pouco a pouco perdia as forças ...

No outro dia:
___ Coronel, o que fui fazer, já está feito.
___ já despachou o safado, Serafim?
___ Sim Senhor.
___ sem rasto?
___ Ele nem sabe de que banda veio o tiro. Tombou de costas já se arrumando para o inferno.
___ E bom assim... passa pela cerva, peque um daqueles porco na engorda, e vá pro seu rancho fazer sua farrinha, tira o resto da semana por conta, depois se junte aos empregados na cuida da lida.

Dali para sua casa, Serafim seguiu arrastando suas precatas feitas com couro de bicho do mato que ele mesmo caçou, levando atravessado nas costas um porquinho já sangrado para comemorar o sucesso da empreitada.
Seu filho João se adianta para o receber, enquanto no alpendre do casebre, Mané Quindim, assentado num tamborete, se apóia na parede e lustra com carinho o rifle que foi sarrafiado de um infeliz tombado numa emboscada.
Em meio ao descanso de Serafim, o patrão manda lhe avisar que fique quieto em sua casa, pois tem gene procurando o responsável pela morte do homem no descampado da serra.

Serafim alerta seus quatro filhos, pedindo: fiquem de olho, cuidado com estranhos. Os filhos, Mane Quindim, João (apelidado de quebra toco) Lourenço e Maria, que astutos já eram, muito mais ficaram, com o olhar esperto, conseguindo ver de perto o que de muito longe é que vinha.
(São três machos e uma fêmea, por sinal MariaQue com todos se pareciaTodos de olhar esperto para ver de pertoQuem de muito longe é que vinha)

São filhos de duas uniões desgraçadas, a primeira união foi conquista de bordel,.... onde, por causa da mulher, Serafim fez destrincho em um moço, a moça, por medo ou gosto pela aventura, pegou garupa na mula e ainda levou o dinheiro junto com a caixa de sapato que a cafetina guardava. Mane quindim é filho desta união marcada por sangue, mas, durou apenas quatro anos. Morreu, vitima de tramóia por alguém que seguia os passos do casal para vingar o destrinchado no bordel.
Da segunda união mais três filhos. Maria era a que mais chamava a atenção, pois era a que com todos se parecia. Era o xodó do pai, mas mesmo assim a vida não lhe dava moleza. Quantas vezes sufocou as lagrimas para se mostrar valente.
(Filhos de dois juramentos, todos dois sangrentosEm noite clarinhaÊ A ÔO João quebra toco,Mané Quindim, Lourenço e Maria)
Serafim um dia falou pros filhos: ___ Tem morto que depois da vida, todos o querem ver voltar, este povo da cidade não quer deixar o finado descansar em paz e isto está tirando meu sossego, assim pra mim não dá. Vamos arriba o pé no mundo hoje mesmo, ou logo haverá mais defunto neste lugar.
Noite alta de silencio e lua, Serafim deixa o casebre. Não levam malas, somente trouxas de algumas roupas surradas, uns levavam rifles, outros fumo e farinha. Serafim foi ficando surtado, tinha medo de parar, foi se embreando no mato, dormindo em qualquer lugar.
(Noite alta de silêncio e luaSerafim o bom pastor de casa saíaDos quatro meninos, dois levavam riflesOutros dois levavam fumo e farinha
Bandoleros de los campos verdesDom Quixotes de nuestro desiertoÊ A Ô)
Serafim bom de corteMané, João, Lourenço e Maria)
Numa noite de lua sinistra, o calor do trópico escaldando, todos dormiam no mato, ninguém viu se aproximado, uma fera com olhos de fogo, de sua boca, baba pingando.
Atacou o grupo com a velocidade de um raio, mas Serafim seu pulo escutou, a fera bôcou o Juvêncio, na hora o facão silvou, foi fundo na sua artéria, na mesma hora seu sangue escorreu, mas a fera deu pulos cruzados e no escuro da noite se escafedeu.
A família acudia o irmão, que de susto estava gelado, mas Lourenço esta bem, só ficou com o braço aranhado.
Serafim falou pros filhos vamos seguir o rasto deixado, meu facão cortou profundo, o bicho tem que ser achado, nem o capeta escapava com o couro assim furado.
Seguiram o rasto de sangue e por um longo trecho vão, num trieiro logo adiante, a poça de sangue aumentou, sinal que o animal perdia as forças, logo na frente João gritou.
___ Corre aqui meu pai, vem ver a desgraça que aconteceu, o bicho matou mais um e daqui se soverteu.
Serafim ficou intrigado com aquele defunto no chão. Se o bicho atacou, cadê o sinal da luta, as folhas estão arrumadas no chão, este desgraçado é um lobisomem, este corte no pescoço quem fez foi meu facão.
Lourenço, teremos que beirar a cidade, ocê tem que um remédio tomar, este bicho te feriu e encima a baba pingou, esta desgraça pode ti contaminar.
O dia amanhece e num vilarejo a beira- mato, Serafim deixa seu filho para se cuidar, o charlatão lhe contava estórias vividas em outro lugar.
Falava de trabalho honrado, salário para receber, montar uma casa, ter família, isto sim é um viver.
Lourenço levado pelo sonho, de vida melhor poder levar, partiu num pau de arara p’ro sul, não quis o seu pai esperar, foi logo p’ra cidade grande, mudar de vida e trabalhar.

(Mas o tal Lourenço, dos quatro o mais novoEra quem dos quatro tudo sabiaResolveu deixar o bando e partir pra longeOnde ninguém lhe conhecia)
Depois de duas semanas escondido no mato, Serafim com seus filhos falou, ___ Mane, João, vão seu irmão buscar, este lugar está esquentando, precisamos logo mudar.
Na casa do curandeiro, os dois jovens logo perguntou, cadê Lourenço seu moço, o viemos buscar e ao senhor pagar, papai quer juntar a família, temos muito chão para andar.
___ Acalmem meus jovens o Lourenço não está, resolveu partir p’ra cidade grande, quer o seu destino mudar.
___ Ai, aiai ai ai... papai não vai gostar de saber, o Lourenço largou a família, o sangue do velho vai ferver. Voltaram e contaram para o pai, o velho tinha que saber, dizendo que Lourenço foi para o sul, querendo se enriquecer.
Mas Serafim jurou vingança, filho meu não dança conforme a dança! Vocês dois peguem a estrada, tragam meu Lourenço de volta, lhes peço com confiança.
Treze semanas passaram, por sorte os três irmãos se encontraram, ___ Lourenço, viemos te buscar, papai esta muito amolado, hoje você volta com a gente nem que seja amarado.

(Serafim jurou vingança,Filho meu não dança, conforme a dançaÊ A Ô)
No longo caminho de volta, Lourenço quase nada falou, queixava tremura no corpo, e o sangue lhe fervia, fazendo-o gemer de dor.
Deu um grito desesperado quando a lua cheia se mostrou, deu um urro e se embreou no mato, Mane Firmino assustado falou:
___ Lourenço esta fugindo, vai pra cidade voltar, pega ele João, senão papai vai nos matar.
João que mais agia que pensava, com a ordem ele avançou, fundou no meio do mato gritando feito um maluco, volta aqui sô, volta aqui sô!...
De repente um grito de horror quebra na noite, Mane por entre a moita arriscou espiar, viu uma fera lutar com seu irmão, entrou firme em sua defesa e com a fera começou a lutar.
Golpes de facão cotavam no ar, fazendo silvos no relance, a fera se defendia, urrava e se debatia, vendo seu sangue a esvair, atacava com grande desespero pra sua vida salvar, mas os homens eram bravos, e medo não conheciam, picaram a fera toda de facão, até sua ultima gota sangue pingar.
De repente o corpo no chão começa a se transformar, toma traços delicados e João começou a falar:
___ É Lourenço, Mane! Ele é assombração, a lua mansa o transforma em lobisomem, cruz-credo meu Deus, me livra desta maldição.
Em casa contaram p’ro o pai o que tinha acontecido, lutaram com um lobisomem mas não tinham percebido, depois do bicho morto, tudo foi esclarecido, Lourenço virava lobisomem, urrava e dava grandes ganidos.
Valemos de nossos facões p’ra do bicho nos defender, lutamos bravamente pois ele era forte, não tínhamos escolhas, era matar ou morrer.
(E mataram LourençoEm noite alta de lua mansa)

Serafim mudou para uma cidadezinha distante, onde a lei lá não chegava, morava numa casinha afastada, não queria se misturar.
Hoje no povoado contam que o tal Lourenço virou trem do outro mundo, unido com as forças do inferno, roubou de Maria o sossego, a fez cair na vida, em flor noturna virou, bebia cachaça e dançava na noite, nem seu pai ela respeitou.
(Todo mundo dessas redondezasConta que o tal Lourenço não deu sossegoFez cair na vida sua irmã Maria
(E os outros dois matou só de medo)

Fez a cartucheira disparar contra João, na hora em que os dois irmãos caçavam, o desespero de Mane quindim foi tanto e muito assombrado ficou, quando viu o espectro de Lourenço pisando sobre o corpo de João, dando urus de horror.
De repente começou a se transformar, num bicho peludo, de dentes afiados, Mane desabafou um grito do peito:
___ então foi tu, cabra safado, quem fez a espingarda disparar!

Rapidamente Mane disparou contra o lobisomem, mas por estar descarregada, o tiro não saiu, se viu obrigado a correr, embreando no mato sumiu.

O corpo de João foi achado, Mane Quindim nunca mais ninguém viu, Serafim deparou com o Lourenço, mas era noite de lua cheia e logo em lobisomem virou, pobre Serafim pirou, vagou por anos nos campos e montanhas, hora chorava outra dava um sorriso, assim morreu, morreu sete vezes, até abrir caminho p’ro paraíso.
(Serafim depois que viu o filhos LobisomemPerdeu o juízoÊ A ÔE morreu sete vezesAté abrir caminho pro paraíso)


Adilson Silveira
12-2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MINHA PEQUENA CIDADE E SEUS GRANDES ENCANTOS

“Salve Morro arrebatador e belo!
Salve da natureza, imortal primor!
Tu és um trono;um altar erguido,
A honra e a glória do teu criador!”


APRESENTAÇÃO
PATRIMÔNIO CULTURAL
“PARA PROTEGER PRECISAMOS CONHECER”


O
Patrimônio Cultural é o conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo, de uma comunidade. Ele está presente em todos os lugares e atividades: nas ruas, em nossas casas, em nossas danças e músicas, nas artes, nos museus e escolas, igrejas e praças. Nos nossos modos de fazer, criar e trabalhar. Nos livros que escrevemos, na poesia que declamamos, nas brincadeiras que organizamos, nos cultos que professamos. Ele faz parte de nosso cotidiano e estabelece as identidades que determinam os valores que defendemos. É ele que nos faz ser o que somos. Quanto mais o país cresce e se educa, mais cresce e se diversifica o Patrimônio Cultural. O Patrimônio Cultural de cada comunidade é importante na formação da identidade de todos nós, brasileiros.
PREFÁCIO

O
reconhecimento de que todo indivíduo nasce no contexto de uma cultura e, ao longo da vida, deve participar de sua preservação e seu significado. O projeto de resgate “Morro da Garça e sua História” contribui na formação de indivíduos, para que conheçam, apropriem-se e valorizem os aspectos já considerados como parte da memória e identidade coletiva de nosso município “Se você quiser conhecer o mundo, comece por sua aldeia” (Dostoievisk).
Com base nessa premissa, durante o ano de 2010 estaremos desenvolvendo nas escolas do município o projeto “Morro da Garça e sua História” tendo como base, levar ao conhecimento dos alunos a nossa história, escrita de uma maneira bem leve, de fácil entendimento que dê ao aluno prazer em ler e conhecer a história de seus ancestrais, usando o concurso de desenhos “Escolha o mascote do Patrimônio Cultural de Morro da Garça e dê um nome a ele” como uma maneira de envolver e fazer com que eles se sintam co-responsáveis no desenvolvimento do projeto.
Sendo assim, o projeto “Morro da Garça e sua História” propõe que todos (principalmente os alunos da rede de ensino do município) tomem conhecimento da História de Morro da Garça de maneira leve, gostosa e prazerosa, enfatizando a importância da valorização de suas peculiaridades culturais que a diferenciam de outras cidades.

DEDICATÓRIA

D
edicamos este livrinho a toda população de Morro da Garça, aos alunos das Escolas Municipais: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora Imaculada Conceição e Carlos Pereira Mariz e especialmente aos vencedores do concurso “Escolha o mascote do Patrimônio Cultural de Morro da Garça e dê um nome a ele”
1º Lugar – “Morrão, o Imperador do Sertão” Diêgo Pacheco Araújo (9º ano da E. M. Carlos Pereira Mariz)
2º Lugar – “Garsolina” Ana Clara Matoso Rodrigues (6º ano da E. M. Carlos Pereira Mariz)
3º Lugar – “Cruzeirito” Jéssica Pereira (5º ano da E.M. Nossa Senhora Aparecida)
Que se empenharam no Desenvolvimento do Projeto “Morro da Garça e sua História”.




MINHA PEQUENA CIDADE E SEUS GRANDES ENCANTOS










O Senhor Cruzeirito numa certa manhã, faz contato com o Senhor Morrão, o Imperador do Sertão.
- Chamando o Senhor Imperador – câmbio, chamando o Imperador – câmbio...




O Senhor Morrão que nunca cochila, mas mesmo quando assim o faz, a tudo vê, escuta e cuida, responde:
- Morrão na escuta, pode falar Cruzeirito...

- É que acaba de chegar na porta da Igreja de Nossa Senhora Imaculada Conceição um grupo de homens que estão comprando nas vendas do povoado, estão montados em cavalos possantes e cobertos de muita poeira da estrada. O que devo fazer? – câmbio...










O Senhor Morrão responde:
- Já captei, provalmente são integrantes de uma comitiva que vem trazendo uma boiada. Fique tranquilo – câmbio...

- Grande Imperador, nossa gente humilde se alegra com seus visitantes mas preciso saber de quem se trata – câmbio...

- Não se preocupe, atento Cruzeirito, vou mandar a Senhora Garsolina investigar – câmbio e desligo.













Atendendo as ordens do Senhor Imperador do Sertão, Dona Garsolina voa sorrateira por entre o cerrado em direção ao mugido da boiada, que descansando da viagem, pastava tranquila numa clareira às margens do ribeirão que serpenteia em direção a cidade.
Dona Garsolina pousa junto à boiada e para observar os visitantes, caminha disfarçadamente em direção ao acampamento. Passo aqui..., passo ali..., devagar vai se aproximando dos boiadeiros, que em grupos conversam alto, demonstrando grande alegria, embora cansados da viagem.
Muito astuta e atenciosa, vê algo que lhe chama a atenção:
- Aquele homem sentado em meio aos demais, tem algo de estranho: é muito elegante, de pele lisa, mãos finas, e além do mais está sempre anotando em uma caderneta tudo que observa dos amigos e da paisagem ao redor.

- Este fato eu devo comunicar ao Senhor Imperador do Sertão.












Lançando vôo, Dona Garsolina logo pousa em um varjão formado por lagoas do Rio Bicudo. O Senhor Imperador lhe interroga:
- Então Garsolina, fiel garça branca, que me diz da comitiva que se aproxima?

- Existe entre os vaqueiros um homem que se comporta de uma maneira diferente dos outros.

- O que de diferente você reparou nele?

- Ele é um senhor muito elegante, refinado, de roupas de qualidade e muito atencioso com tudo que vê, usa até uma caderneta onde anota toda paisagem, os rios, lagoas e até a conversa dos outros, meu Imperador!

- Já entendi, este certamente é o médico prodigioso que saiu em comitiva da Fazenda Sirga, município de Três Marias em direção a Fazenda São Francisco, município de Araçaí, ele irá transformar essa aventura em uma linda obra de arte. Vá e diga ao atento Cruzeirito para não se preocupar com as pessoas da comitiva, diga-lhe também que daqui de cima mandarei bons ventos e noites maravilhosas para que assim possam aproveitar o máximo de nossa hospedagem no campo ou na cidade, e assim poderão aproveitar o melhor de nosso Patrimônio que um dia graças a linguagem escrita do Senhor João Guimarães Rosa será criado neste município um Conselho de Patrimônio Cultural para melhor cuidar de nossos bens móveis e imóveis.

- Senhor Imperador, é uma comitiva muito grande, é como as outras que por aqui passaram, só tem um porém...

- Um porém? Diga-me logo que porém é este?













































Dona Garsolina voa rápido para levar a mensagem a Cruzeirito.
Cruzeiritojá muito confuso com as previsões do Senhor Imperador, entra em contato com ele perguntando:
- O que será este Conselho Municipal de Patrimônio Cultural? O que ele fará?
- Será de sua responsabilidade catalogar todos os bens do município, que desde sua construção ajudaram a formar a história do nosso povo.









- É que todas as famílias que escolheram morar aqui, pouco a pouco estão escrevendo suas histórias, definindo seus costumes e crenças. crenças.

- Não entendi.


- Isto está complicado... responde o vigilante Cruzeirito.


- Mas vamos entender, este Conselho de Patrimônio será criado justamente para não deixar que a história desta gente seja esquecida ou seus legados materiais sejam demolidos se perdendo ao longo dos tempos.



- Realmente, mas logo teremos nossos bens tombados e protegidos, como a Imagem de Nossa senhora da Imaculada Conceição, o casarão que abrigará a Casa da Cultura de nosso município e você também Cruzeirito, que está imponente em frente a nosa Igreja Matriz. Os outros bens, serão catalogados e ficarão inventariados, em processo de tombamento.

- Isto vai dar uma trabalheira!













- Já estou adorando esta história e imaginando ver toda nossa cidade bem cuidada, mesmo que tiver uma nova estrutura não afetará o que retrata nosso passado.














- Mas não é só isso, serão também catalogados todos os bens imateriais, que são nossas festas, danças, saberes e também nossas crenças.






- Que lindo! Que zelo!

- Diga-me Senhor Imperador! Quais festas serão destacadas?



- Em primeiro lugar a Festa da Lavoura, que retrata a força e o trabalho do homem do campo, depois as festas religiosas e danças folclóricas.






- Gostei de ver! Acredito que assim se constrói uma comunidade avançada, mas consciente e respeitando seu passado, certos que não serão esquecidos. E o Senhor Imperador? Como ficará? Pois és uma Pirâmide Verde que se ergue tão imponente como quem aponta para o trono do Criador.



- Cruzeirito, serei dos orgulhos, o maior que teremos, serei visto como o que inspirou o mais dos intelectuais dos escritores e serei também marco de grandes viagens que cortarão este sertão. Fique firme aí amigo Cruzeirito, mantenha seus braços abertos e mostre a todos a magia e encantos deste lugar abençoado.











ADILSON SILVEIRA



FIM




MORRO DA GARÇA

O
povoado de Morro da Garça teve suas raízes no século XVII, como caminho de boiadeiro no circuito entre a Bahia até a Vila de Sabará no centro da então Província das Minas Gerais. Antes das descobertas das minas, começaram a chegar os baianos e paulistas com sua pecuária e agricultura de subsistência. Em 1650, já se tem notícia da Fazenda da Garça. A fazenda situada a poucos quilômetros de sede de Corinto,foi o estabelecimento mais antigo da região, competindo em idade somente com os da Barra do Guaicuí e Matias Cardoso (Morrinhos). Antes, porém, a região era habitada pelos índios Coroados, parentes dos Jês ou Tapuias. Às margens do São Francisco, até o município de Três Marias, eram habitadas pelos Cariris, que haviam fugido de Pernambuco, após a derrota dos holandeses, dos quais eram aliados. O sertão do Rio das Velhas esteve, no período colonial, sob jurisdição da Comarca do Rio das Velhas. Embora distante de Sabará – sede da Comarca – a sua inclusão naquele território explica-se pela indefinição dos limites territoriais de cada jurisdição. Como a região era distante da Comarca, desenvolvendo uma economia que era bem sucedida (atividades agro-pastoris responsável por uma parcela importante do abastecimento das Gerais, das minas de Goiás e Cuiabá) esteve desligada dos interesses do “exclusivo metropolitano” (mineração), e, portanto, pouco propícia à ação fiscalizadora da Coroa. Isto possibilitou que a região pudesse constituir um reduto de ordem privada, onde os proprietários negavam-se a serem incorporados à ordem político-administrativa estendida aos sertões do Rio das Velhas e São Francisco. Várias tentativas de integrar os Sertões à fiscalização da Metrópole foram feitas, sempre recebidas por ondas de rebeldias e motins. Até que em 1736, uma expedição militar da Coroa reprimiu violentamente os sublevados. Registra-se assim que o movimento dos rebeldes dos sertões do Rio das Velhas foi confronto com a ordem colonial, ao se opor ao avanço do poder público na região.
O Município foi emancipado em 30 de dezembro de 1962, através da Lei Estadual Nº 276 e sua instalação foi realizada em 1º de março de 1963. A partir daí, houve crescimento demográfico maior e reestruturação física da cidade. A sede urbana se estendeu e a estrutura do município foi pensada para atender de forma satisfatória e funcional uma população cujos valores estavam ligados ao campo.






O município de Morro da Garça preserva um diversificado patrimônio material e imaterial que revela a história de formação da cidade e do nosso povo, apresenta as nossas tradições e enriquece o nosso município. Conheça agora alguns deles.






PATRIMÔNIO IMATERIAL
FESTA DA LAVOURA
A Festa da Lavoura, que teve sua primeira edição em 1966, se chamou Festa da Colheita. Foi criada com a motivação de homenagear o trabalho do homem do campo, sua sabedoria no manejo da natureza e sua confiança no fruto da terra




FOLIA DE REIS

Também faz parte da nossa cultura a Folia de Reis ou Reisado, um folguedo popular tradicional. Em Morro da Garça é uma celebração que vem passando de geração em geração e tem como objetivo principal, manifestar sua fé quando representam os três Reis Magos, Gaspar, Baltazar e Belchior.



GUAIANA
A Guaiana começou em Morro da Garça por volta de 1900 para limpeza da roça grande. Os componentes do grupo levam consigo enxadas, estandarte, bandeira colorida e, de dois em dois, são entoadas cantigas específicas: “de vera meu patrão, vai escutar o que eu vou falar. Sua roça está no limpo, Nossa Senhora que vai ajudar. Guaiana entrega o pé de milho...” No final da roça limpa, o patrão oferecia o jantar, onde era levado o pé de milho. Pela tradição, no final da limpeza da roça recebiam jantar oferecido pelo patrão.


PATRIMÔNIO MATERIAL
CASA DA CULTURA DO SERTÃO

O casarão em posição de destaque, na esquina da Rua Boaventura Pereira Leite com a Rua Deputado Manoel Pereira da Silveira, em frente à Praça de São Sebastião, segundo relato de moradores, era composto por “baldrame de estacas e escadarias de pedras tapiocanga, com o tempo e a modernização as ruas foram aterradas para receber calçamento, desaparecendo então as estacas”. Abriga hoje a Casa da Cultura do Sertão (Bem Tombado).

IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA CONÇEIÇÃO

A imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, localizada na Igreja Matriz Nossa Senhora da Imaculada Conceição, situada à Praça São Sebastião, tem suas características barrocas e grande valor artístico, histórico e religioso (bem tombado).


PATRIMÔNIO NATURAL
MORRÃO

Elevação rochosa (a mais elevada da região), gloriosa, bela denominado pela população local como “Morrão”, com cerca de 1.000 m de altitude. Ao seu sopé ficava a Fazenda da Garça (motivo de seu nome). Ao que parece, o arraial se formou em torno da Capela de Nossa Senhora das Maravilhas, construída em 1720 nas terras da referida fazenda.
Na imensidão plana do cerrado mineiro, esse morro serviu ao longo dos últimos três séculos como um guia para viajantes, tropeiros e “comitivas” de gado. Os viajantes faziam paradas de descanso na Fazenda da Garça, a última no caminho entre a Bahia e as minas de ouro de Sabará.

“O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando...”
João Guimarães Rosa
GLOSSÁRIO
Aldeia - Pequena povoação, sem categoria de vila ou cidade.
Ancestrais - Que diz respeito aos antepassados; antigo, primitivo.
Apropriar - Tomar para si; apossar-se, usurpar: apropriou-se do que não era seu.
Arraial - Acampamento, campo. /Bras. Aldeia, lugarejo.
Astuta - Astucioso, ardiloso. / Sutil, sagaz.
Baldrame – Alicerces de alvenaria. / Base de parede ou de muralha.
Bens imóveis – Que não se move. / Diz-se de um bem ou propriedade que não é móvel.. Casa, edifício, prédio
Bens móveis - Direitos Bens móveis, todos os objetos materiais que por sua natureza não possam ser compreendidos entre os bens imóveis, e todos os direitos inerentes a esses bens. Também se diz simplesmente móvel
Captar - Atrair para si, granjear, conquistar
Catalogar – Inscrever em catálogo; inventariar, classificar: catalogar livros.
Cochilar – Adormecer quase sem perceber e dormir pouco tempo; dormir sono leve e passageiro; dormitar.
Coletiva - Que compreende, abrange muitas pessoas ou muitas coisas, ou lhes diz respeito; que pertence a um conjunto de pessoas ou de coisas
Comitiva - Acompanhamento, séquito
Contexto – Conjunto do texto que precede ou sucede uma frase, um grupo de palavras, uma palavra. / Conjunto de circunstâncias que acompanham um acontecimento
Cotidiano – De cada dia: trabalho cotidiano. (Sin.: diário.) / &151; s.m. Aquilo que se faz todos os dias, o que acontece habitualmente: a monotonia do cotidiano.
Crenças – Ação de crer na verdade ou na possibilidade de uma coisa. / Convicção íntima. / Opinião que se adota com fé e convicção. / Fé religiosa
Cultos – Homenagem religiosa que se tributa a Deus ou aos entes sobrenaturais; liturgia; ofício divino. / Religião
Demográfico - Relativo à demografia: estudo demográfico.
Demolidos - Destruir, arrasar, derrubar pedra por pedra: demolir uma casa. / Fig. Arruinar, destruir: demolir uma instituição.
Diversificado – Tornar diverso, fazer variar
Empenhar - Dar em penhor; hipotecar. / Impelir, obrigar. / Empregar ou aplicar com toda diligência. / Arriscar: empenhava a vida em jogo perigoso.
Entoada – Fazer soar. / Cantar, começar um canto: entoar/ Fig. Entoar loas (ou louvores), celebrar, louvar.
Específica – Descrever, determinar; enumerar todos os detalhes; esmiuçar.
Folguedo – Ato de brincar; brincadeira, divertimento.
Funcional – Que responde a uma função determinada: arquitetura funcional.
Incorporados - Reunir intimamente: incorporar óleo à cera. / Proceder à incorporação de: incorporar os novos alunos. / Reunir (condôminos) para construção de imóvel. / &151; V.pr. Entrar na composição de algum corpo ou nele se meter. / Fig. Congregar-se, reunir-se, juntar-se a.
Içando – Levantar, erguer: içar as velas de uma embarcação; içar uma bandeira.
Identidade - Conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa (nome, idade, sexo, estado civil, filiação etc.): verificar a identidade de alguém. // Identidade pessoal, consciência que alguém tem de si mesmo.
Indefinição - Que não se pode definir, explicar; vago. / Incerto, indeciso, indistinto.
Imponente – Que é próprio para atrair os olhares, as atenções, o respeito; que impõe admiração: figura imponente. / Considerável: forças imponentes. / Arrogante, sobranceiro: falou-me com modo imponente. / Majestoso
Indivíduo - Todo ser, animal ou vegetal, em relação à sua espécie: o gênero, a espécie e o indivíduo. / Pessoa considerada isoladamente, em relação a uma coletividade
Inventariado – Registro, catálogo por escrito e por artigos, dos bens, móveis, títulos, papéis de uma pessoa: fazer o inventário de uma sucessão. / O papel em que se acham escritos e descritos esses bens. / Avaliação das mercadorias armazenadas e dos diversos valores, para conhecer lucros e perdas: o comerciante deve fazer de vez em quando seu inventário.
Jurisdição - Poder ou direito de julgar. / Extensão territorial em que atua um juiz. / Alçada: a jurisdição da Corte estendeu-se a todo o país. / Competência: minha jurisdição não chega até aí.
Legado – Valor ou objeto que alguém deixa a outro em testamento.
Manejo – Ato de manejar, de servir-se de: o manejo de um instrumento. // Manejo de armas, exercícios regulamentares executados pelos soldados com suas armas, seja para se servirem delas em combate, seja para desfilar, para render homenagens etc.
Mascote – Fetiche, amuleto para dar felicidade. / Animal de estimação que se crê trazer sorte e que, por isso, se adota como símbolo totêmico de clubes, corporações etc.: a mascote dos Fuzileiros Navais é um carneiro.
Metrópole - Nação, considerada relativamente aos países que dela dependem. / Cidade principal de um país, de um estado, de uma região; cidade grande.
Motim - Revolta contra a autoridade. &151; O termo ficou popularmente restrito a uma tentativa ilegal por parte da tripulação de um navio para assumir o seu comando, mas se aplica também a qualquer tentativa ilegal de um grupo militar para assumir ou derrubar a autoridade militar. O motim é uma das mais graves ofensas militares.
Peculiaridade - Que é próprio de alguém ou de alguma coisa; que constitui atributo característico de alguém ou de alguma coisa. / Relativo a pecúlio.
Possante - Que tem força, robustez. / Poderoso.
Prazerosa – Satisfação, deleite, delícia. / Boa vontade, agrado. / Distração, divertimento.
Premissa – Lógica Cada uma das duas proposições de um silogismo (a maior e a menor), das quais se tira a conclusão. / P. ext. Ponto de que se parte para armar um raciocínio.
Privada - Impedir ou tirar alguma coisa de alguém: privar uma criança de brincar; privar um homem de seus direitos civis. Estar em convivência íntima; conviver: privar da intimidade dos governantes. / &151; v.pr. Impor-se privações; abster-se.
Prodigioso - Que tem o caráter de prodígio; miraculoso; maravilhoso; espantoso; extraordinário.
Professar – Declarar; reconhecer publicamente; confessar. / Preconizar, ter a convicção de: professas idéias socialistas. / Ensinar. / &151; v.i. Fazer votos, entrando para uma ordem religiosa.
Propícia - Tornar propício, favorável. / Proporcionar.
Província– Divisão territorial colocada sob a autoridade de um delegado do poder central: as províncias romanas. / Qualquer parte do território de um país que não é capital; interior: viver na província. / Distrito de ordem religiosa.
Rebeldia - Ato de rebelar-se; não-conformidade, reação. / Fig. Oposição, resistência. / Birra, teimosia.
Reduto - Pequena obra de fortificação isolada. / Espaço fechado. / Recinto demarcado. / Ponto de concentração.
Reestruturação - Dar nova estrutura a; reformular em novas bases estruturais: reestruturar o setor agrícola da economia. / Reorganizar./ &151; v.pr. Adquirir nova estrutura; reorganizar-se
Relato- Narrar, expor: relatar o ocorrido. / Apresentar relatório. / Resumir, verbalmente ou por escrito, o conteúdo de um processo, de um projeto de lei etc., e sobre ele manifestar-se, para orientar a votação de seus pares em órgão de deliberação coletiva. Resgate – Recuperar algo cedido a outrem mediante pagamento do preço: resgatar um objeto. / Libertar a preço de dinheiro ou concessões: resgatar prisioneiros. / Salvar: Jesus veio
Serpentear- Mover-se como as serpentes fazendo curvas; serpear: o regato serpenteia entre as rochas.
Sopé – Falda, base de montanha, parte inferior da encosta. / Parte da rocha ou muro mais próxima do solo.
Sorrateira – adj. Que faz as coisas com manha, à calada; matreiro. // Olhar sorrateiro, olhar disfarçado, olhar oblíquo.
Sublevados - Levantar de baixo para cima. / Incitar à revolta; insurrecionar: sublevar as massas. / &151; V.pr. Amotinar-se, rebelar-se, revoltar-se.
Subsistência - Estado daquilo que subsiste; estabilidade, permanência, sobrevivência. / Conjunto de coisas necessárias para a manutenção da vida; sustento, alimentação, víveres: garantir a subsistência da família. // Serviço de subsistência, serviço da intendência militar que tem a função de fornecer o necessário para a alimentação da tropa.
Tombado– por sob guarda para conservar e proteger os bens (móveis e imóveis) de interesse público.
Varjão - Planície, terreno plano em vale extenso e cultivado. / Bras. Terreno cultivável junto aos rios e ribeirões.
Vigilante- Que vigia. / Cuidadoso, atento, zeloso. / &151; Pessoa encarregada de vigiar. // Maçon. Irmão vigilante ou vigilante, indivíduo encarregado de zelar pela segurança do templo.



BIBLIOGRAFIA

· Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre;
· Padre joão Batista Boaventura Leite, CSSR/Morro da Garça No Centenário da Paróquia/1966;
· Agenda 21 de Morro da Garça;
· Arquivo da Casa da Cultura do Sertão.






EQUIPE TÉCNICA
COORDENAÇÃO:
LILIANE DIAMANTINO BOAVENTURA
CAPA:
ADRIANO NEVES
FOTOS:
ADRIANO NEVES
MARIA DE FÁTIMA COELHO E CASTRO
LILIANE DIAMANTINO BOAVENTURA
ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO DE TEXTOS:
FÁTIMA BOAVENTURA
COLABORADORES:
DIVA MARQUES DA SILVA
ALINE GOMES BARBOSA
ILUSTRAÇÃO:
DIÊGO PACHECO ARAÚJO
ANA CLARA MATOSO RODRIGUES
JÉSSICA PEREIRA
TEXTO DA HISTÓRIA “MINHA PEQUENA CIDADE E SEUS GRANDES ENCANTOS:
ADILSON SILVEIRA



Lançamento deste livro e noite de autografos no dia
28 de setembro de 2010, na Casa da Cultura doSertão
Por ocasião do XV Encontro de Arte e Cultura ao Pé da Pirâmide do Sertão – de 25 de setembro a 02 de outubro de 2010.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A INGRATIDÃO DE UM HOMEM

Meu Deus que faço nesta vida?
E da minha vida...
O que foi que eu fiz?

Queria ter algum orgulho,
Mas como ter
Se no fundo do poço
Não tenho orgulho nem do comer.

Caído nas sarjetas
Muitas vezes eu me vi,
Pedindo um pedaço de pão
Ou um paninho p’ra dormir.

Virei escoria do mundo
Não sou contado como mais um
Sou isto que virei,
Mais um, no mundo de nenhum.

Sem perspectiva de vida
Tornei um mane ninguém,
Sou lembrança de um passado
Tornei-me nada, sem valor de vintém.

Mas ainda lembro de onde vim
Esperança nos braços a balançar
Minha mãe em mim confiava ...
Como a pude decepcionar.

Ao lembrar de minha mãe
Sinto algo em mim despertar
Será a benção que é todas as mães
Querendo agora me levantar?

Se lembro de quem amei
Caio novamente no chão
Se falo em minha mãe
Sinto inquietar meu coração!





Me acabei nas dores do mundo
Não acho forças para levantar
Mas quando penso em mamãe querida
Me sinto na obrigação de mudar.

Se eu ficar como estou
É puro egoísmo, posso dizer
Desiludi tantas pessoas
Esta confiança não pode morrer.

As moedas que me jogarem
Uma a uma vou guardar
Vou comparar uma roupa nova
Esta derrota vai passar.

Seu moço me vende um terno,
Do nada, vou me levantar
Vou comparar uma passagem de trem
Esta vida eu vou mudar.

Vou embarcar p’ro meu sertão
Consertar o meu passado
Pedir perdão minha família
Recomeçar um lar honrado

Me sinto estranho voltando p’ra casa
Neste ônibus, nenhum conhecido tem
Parece até que peguei o carro errado
Aqui não conheço ninguém.

Sinto meu peito amargurado
Como estará minha mulher
A quem a tempos deixei
sem uma noticia siquer.

Fui levado pela aventura
Dôidura que não tem perdão
Uma cabroxa formosa
Me enfeitiçou o coração.





Larguei tudo que eu tinha
Nem a ultima colheta fiz
Saí de casa a galope
Procurando ser mais feliz

Tava cego seu moço, Eu juro
Se eu tivesse pensado um segundo
Esta doidura não faria
Não trocaria toda a felicidade do mundo
Por aquela que eu já tinha

Junto com a noite chego na cidade
Sem coragem de procurar
Alguém ali conhecido,
P’ra poder lhe perguntar?

O que é feito de Maria dos anjos?
Amor que a muito deixei
Partindo com uma ingrata
A minha honra manchei.

O dinheiro que eu guardava
Para na velhice gastar
Foi-se embora em pouco tempo
Com uma vida de esbanjar

Um homem sem dinheiro não tem valor
Descobri num despertar
A ingrata me largou
Com muitas contas p´ra pagar.

A mobilha da nova casa
Tive então que vender
Já não tinha um teto p’ra guarda-la
E precisava comer.

Voltar p´ro meu rancho não tinha coragem
Como eu iria enfrentar,
Pedir perdão a Maria dos Anjos,
Sei que fui um ingrato, mas não vou assim me humilhar.




Nasce o dia, estou chegando no rancho
Fico incrédulo ao perceber
Cadê o canavial e o arrozal no brejão
Cadê tudo isto, cadê.

Sigo o caminho entristecido
Não escuto as criação
Não escuto um só galo cantar
Já me dói o coração.

Não posso acreditar que estou no terreiro
Só vejo mato ao meu redor
A casa que foi meu lar
Desmoronada, virou pó

O que terá acontecido,
meu Deus vem me dizer,
Onde está Maria dos Anjos.
Porque não vem me receber?

Estou ainda de joelhos no chão
Quando um cavaleiro chegou
Perguntei o que aconteceu,
Porque tudo aqui se acabou?

___Tudo foi obra de um desgraçado
Que, com Maria um dia casou,
Desprezou a coitadinha
E nunca noticias mandou.

Maria descobriu que estava grávida
Chorava o pai que se afastou
A menina foi crescendo nesta amargura
Cadê papai, cadê, busca ele por favor.

De uma bronquite fatal
A menina veio a falecer
Falando sempre no pai
Que não pode conhecer.




Aumentou o sofrimento de Maria
Que de tristeza se definhou
Foi ficando fraquinha e miúda
Até que a morte, um dia a levou

Do covarde maldito ninguém soube mais nada
Aqui na fazendinha a tristeza se arriou
De sede e fome morreram os porcos.
Fogo um dia a pastagem queimou

A casinha abandonada
Sem morador, começou a se afundar
A estrada da fazenda criou mato
Por aqui, é difícil alguém passar.

Mas todos conhecem a historia
Aqui já foi um grande lar
Era um cantinho feliz
Que a ingratidão de um covarde
Um dia fez tudo se acabar.



Chamou o animal na trilha
Seu caminho seguiu
Me deixou ali solitário, minhas lagrimas
se emendaram feito um rosário,
na poeira do chão sumiu.

Eu que pensei ter sofrido
Toda dor ao ser desprezado,
Descobri que o remorso dói mais
E me tornou um desgraçado.

Desprezei quem me amava
Nem minha filha conheci,
Meu Deus que vagabundo eu fui?
Só me resta esta dor me consumir.

Fim

Adilson Silveira
Maio de 2010.

Heloisa, festa à pequena cristã

A oferta me chega pela ponta do fio
___ Como vai meu irmão, quando você vem p’ra cá?
Preciso de sua presença e nesta você não pode faltar
Minha filha já faz três meses e o senhor vem batizar.

___ Querido irmão você ta doido, em São Paulo não quero ir
Tenho muito que fazer, não arredo o pé daqui,
fico honrado pelo convite, mas tem coisas que não dá
confira seus planos direito, faz as malas e vem p’ra cá.

___ Meu irmão vamos combinar, para o próximo feriado
Você cuida das coisas por aí, que a peteca não cai do meu lado.
Vou juntar minha família, o batizado tem que sair
Prepare tudo e me aguarde, esta promessa eu vou cumprir.

___ Aproveita e traz meus irmãos que há muito tempo não vejo
César, família e Joaquim, todos tem que estar presentes,
O branquinha e sua família estes não podem faltar
Dos daqui eu me encarrego, estaremos todos a esperar.

É minha sobrinha e afilhada, eu tinha que me orgulhar,
Programamos a festa, construí barraca, pus pindoba p´ra enfeitar,
Instalei som, fiz musica ao vivo, contratei gente p´ra tocar,
O batizado se aproximava, não via a hora de chegar.

Era para cinco de setembro, mas dia três começou tudo a se engrenar,
Chegavam os primeiros convidados, na churrasqueira carvão a queimar,
Cada carro que chegava mais alegria trazia,
Vinham amigos e parentes meus, de alegria eu quase explodia.
Minha afilhada tão bela, foi a segunda vez que a vi,
Tinha crescido tanto e tão linda, quase não a reconheci,
Os pais tão vaidosos, tinham alegria no olhar,
Esperavam com ansiedade o dia do batismo chegar.

Tudo é festa, sábado a noite a alegria multiplicou,
Convidados, amigos e irmãos. A minha casa transformou.
Tinha gente p´ra todo lado, em harmonia e amor,
Cerveja é dona do sábado, a carne assada acompanhou.

A energia elétrica fez sua graça, piscou três vezes depois se apagou,
A lua tímida foi vencida pela escuridão, mas a festa não parou.
Sob luz de velas e lanternas, as cordas do violão bradaram,
Modas rancheiras e sucessos da hora, em roda de viola todos cantaram.

Com o efeito das velas acessas, o requinte aumentou,
As pessoas se juntaram mais, aumentando a força do amor.
Violão, música e fogão aceso, o tira gosto não faltou,
Foi assim por mais de duas horas, de repente a energia chegou.

Veio saudar aquela gente, festejando com satisfação,
Éramos todos uma só família, pois com o Carlinho,
Não tinha separação, ambientado, carismático e delicado,
O japonês se adaptou logo ao povão.

A festa se manteve por quatro dias, era alegria no coração
Deste anfitrião privilegiado, nem parecia o menor dos irmãos!!!


Adilson Silveira
Mês de setembro de 2010.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O MATADOR DE DRAGÕES

O MATADOR DE DRAGÕES
Adilson Silveira/ 2005


Um dia um velhinho me contou uma estória muito interessante,
sabe? Ele disse que tem duzentos e trinta e três anos...
isto só que ele mora aqui no Morro, porque na verdade ele tem mais de seiscentos anos.

Ele me contou que quando era jovem, foi caçador de dragões.

Depois de matar muitos dragões enormes na região onde nasceu ficou sabendo que num lugar chamado Garças, isto mesmo! Garças, este era o nome da nossa cidade a centenas anos atras. Ele me garantiu que aqui em Morro da Garça havia um enorme dragão, e como ele só matava dragões grandes então veio correndo para cá, lógico, montado em seu cavalo branco que é a melhor cor de cavalo para quem mata dragões.

Ele me disse que quando chegou aqui, isto tudo era uma grande planície, com muitos córregos e um rio bem largo escondido no meio da mata. Então ele seguiu a margem deste rio até encontrar uma grande árvore, ela era tão grande e antiga que suas raízes brotavam para fora da terra formando varias conchas. Ele pensou assim:
_____ Que árvore esquisita, tem as folhas grandes e suas raízes formam grandes bacias que mais parecem uma gamela, é isto, vou chama-la de gameleira, e vou ficar morando aqui, junto a ela, porque assim não corro o risco de ser atacado por dragões, todo mundo sabe que eles têm medo de chegar perto da água para não apagar seu fogo e assim não poderão mais atacar ninguém, nem colocar fogo nas roças de milho, arroz ou feijão.

Ele me disse também que colocou o nome no rio de Bicudo, isto porque toda vez que sentia cede, tinha que pegar um canudo de folha de mamona ou mamão, colocar na boca para chupar a água e assim matar a cede, pois no rio tinha muita qualidade de peixes e muitos deles eram carnívoros.

Contou-me que ficou muitos dias na copa da árvore, esperando que o dragão aparecesse, quando de repente, um clarão em uma lavoura de milho lhe despertou a atenção e ele gritou:
_____ É o fogo, o fogo do dragão! Vamos Nevada! (este era o nome do cavalo, porque era branco como a neve), vamos enterrar este malvado, queimador de tudo que vê.

Saiu correndo em seu cavalo em direção ao fogaréu, e, quando chegou no campo em chamas, o dragão se escondeu no meio da fumaça, ele sabia que eu era caçador de dragões.Então fiquei correndo em roda com meu cavalo que já estava acostumado com estas brigas e estava-mos prontos para apagar aquele fogo.

Aí, ouvi um barulhão de asas, e quando olhei para cima, lá estava o dragão, era dos grandes mesmo, batia suas asas fazendo as chamas se aumentarem com os redemoinhos que de propósito formava.

Quando eu olhei nos olhos dele o danado abriu a boca que mais parecia um bico de bule velho, daqueles bem grandes e cuspiu uma bola de fogo na minha direção.

O meu cavalo que era ensinado e adorava brigar com dragões, nesta hora, deu uma refugada, e saiu de banda desviando da bola de fogo, aí eu dei o meu grito de guerra!

MATADOR... AVANTE!!!!!

Nesta hora nasceram duas grandes asas brancas em meu cavalo e ele deu um vôo em direção ao dragão, aí a briga ficou ainda melhor, ele me cuspiu duas bolas de fogo, uma atras da outra, fazendo com que meu cavalo se virasse rápido e desse um coice nas bolas de fogo, jogando-as contra o próprio dragão. Acertando em cheio, fazendo-o experimentar seu próprio veneno.
O fogo pegou na sua barbicha e queimou seus olhos deixando-o cego para sempre.

Ele ficou mais bravo ainda e começou a cuspir fogo em todas as direções, parecia que queria por fogo no mundo todo.

Então para evitar que ele queimasse o Brasil eu fui obrigado a lhe dar o golpe final.
Fui para cima dele com meu cavalo alado e ele lhe deu um coice tão grande em direção ao chão que quando ele bateu na terra, ela se abriu, engolindo a fera.

Mas eu sabia que dragão tem nove vidas e para garantir que ele nunca mais vai se levantar.
Desci de meu cavalo e pequei minha pá com cabo de prata cravejado com unhas de tatu que sempre trago comigo e comecei a cavar a terra, jogando encima da cova com o dragão ainda jogando fogo pra todo lado.
Aos poucos o fogo foi se apagando e o dragão por fim ficou enterrado, mas como ele era muito grande e forte, eu precisei fazer um mote de terra enorme encima dele fazendo um grande morro,

cavei tanta terra que de repente criou uma nascente no buraco formando uma grande lagoa ao lado do morro e atraído pelo frescor das águas, vieram as garças mais brancas que já vi e ali fizeram seus ninhos e reproduziram em grande quantidade.

Dizem que, muitos anos depois, veio um fazendeiro para cá e observando o grande bailado das garças ao redor do morro, se encantou e aqui fundou uma cidade, lhe colocando o nome de MORRO DA GARÇA.

Então eu perguntei ao velhinho se o dragão realmente está morto, e ele me disse o seguinte:
_____ Morrer ele ainda não morreu, mas está bem preso debaixo do morro. De vez em quando ele solta uma cuspida de fogo que sai flutuando de um ponto a outro, iluminando os cerrados e assustando as pessoas com intenção de me acertar para se vingar da surra que lhe dei.

Foi assim então que eu entendi o aparecimento da misteriosa luz que vez ou outra voa vagando do morrinho ao tope do morro, chamuscando as cercas quando rola de poste em poste queimando a causando pânico às pessoas.

Pergunto- me?
Será verdade que a lagoa, chamada de Lagoa Assombrada é a mesma que o velhinho cavou para enterrar o temível dragão?

Adilson Silveira / l2 - 05 – 2005

Aventuras do Médico do PSF - I

____ Por aqui, por favor.
____ obrigado.
____ Não, não; não precisa tirar os sapatos!
____ Estão empoeirados, é melhor assim.
____ Bobagem, o chão está muito frio. Então espere que vou trazer-lhe um chinelo.
Eram felpudos e cor de rosa, constatava o médico enquanto os calçavam, mas acolhiam muito bem os pés.
____ sua bolsa, deixe que eu a leve para o Senhor.
____ Não, obrigado, isto não é uma bolsa, é uma valise, ela completa o uniforme de um médico, quando em visitas a domicilio. Cadê o moribundo?
____ Ô Doutor, não fale assim de meu marido, o coitado já não está bom e o senhor lhe coloca este apelido horroroso, isto é até maldade.
____ Ora, não falei por mal, moribundo é como chamamos qualquer um doente.
____ Uái,.. será que meu marido ficou moribundo depois que um marimbondo lhe meteu o prego na perna, e foi. . .
____ Por favor, me leve até ele, sim?
____ Venha doutor, eu lhe mostro o caminho.
Seguindo atrás da mulher, o medico ouve um barulho que vinha do quarto logo adiante, acompanhando o barulho um odor insuportável tomou conta do estreito corredor da casa, o médico logo pergunta:
____ Haaá, que cheiro é este?
Já alcançando a soleira da porta, ela responde:
____ Aposto que é o meu zé, aliviando a buchada de bode que comeu no almoço; Eta comida poreta, viu? Se o nego ta caído, dá um sustento que até defunto levanta... Mas se achegue; sete-se aqui.
____ Obrigado... e aí senhor José, como tem passado?
____ Há seu doutor, esta perna não sara, tô pensando até que isto é coisa ruim que fizeram pra mim, pois...
____ Não, não; estas coisas não existem, e lhe digo mais, pelo cheiro seu estomago está muito pior que sua perna.
____ Mas seu doutor, eu num agüento nem pisar no chão direito, e minha perna dói de dia e dói de noite, só tenho um aliviuzim quando a coloco pra’cima, aí a dor acalma.
____ Dona Ana, a senhora tem feito o cataplasma de fubá para o José como eu mandei?
____ Tenho sim doutor, mas este homem é ignorante demais, faço tudo com muito carinho pra ele, pode vim cá pro senhor ver, é trêis vezes no dia, e eu aí, com o umbigo colado na fornalha, cozinhando o fubá com folhas desinchadeiras, lhe trago ainda quentinho, mas este pirracento so come um tiquinho, doutor!
____ Tudo bem Dona Ana, vejo que por um milagre ele ainda esta vivo e a perna já esta bem melhor. Agora a senhora vai lhe fazer o cataplasma, e o colocar sobre a perna machucada, ta bem entendido?
____ ta sim, seu doutor.
____ Muito bem, agora vou embora, pois tenho muitos pacientes para serem visitados nesta região, mês que vem eu volto para ver como está o senhor José, cuida bem dele, viu?
____ pode deixar seu doutor, até logo...

Cum Deus!...
Adilson Silveira 04-2009

A INGRATIDÃO DE UM HOMEM

Meu Deus que faço nesta vida?
E da minha vida...
O que foi que eu fiz?

Queria ter algum orgulho,
Mas como ter
Se no fundo do poço
Não tenho orgulho nem do comer.

Caído nas sarjetas
Muitas vezes eu me vi,
Pedindo um pedaço de pão
Ou um paninho p’ra dormir.

Virei escoria do mundo
Não sou contado como mais um
Sou isto que virei,
Mais um, no mundo de nenhum.

Sem perspectiva de vida
Tornei um mane ninguém,
Sou lembrança de um passado
Tornei-me nada, sem valor de vintém.

Mas ainda lembro de onde vim
Esperança nos braços a balançar
Minha mãe em mim confiava ...
Como a pude decepcionar.

Ao lembrar de minha mãe
Sinto algo em mim despertar
Será a benção que é todas as mães
Querendo agora me levantar?

Se lembro de quem amei
Caio novamente no chão
Se falo em minha mãe
Sinto inquietar meu coração!





Me acabei nas dores do mundo
Não acho forças para levantar
Mas quando penso em mamãe querida
Me sinto na obrigação de mudar.

Se eu ficar como estou
É puro egoísmo, posso dizer
Desiludi tantas pessoas
Esta confiança não pode morrer.

As moedas que me jogarem
Uma a uma vou guardar
Vou comparar uma roupa nova
Esta derrota vai passar.

Seu moço me vende um terno,
Do nada, vou me levantar
Vou comparar uma passagem de trem
Esta vida eu vou mudar.

Vou embarcar p’ro meu sertão
Consertar o meu passado
Pedir perdão minha família
Recomeçar um lar honrado

Me sinto estranho voltando p’ra casa
Neste ônibus, nenhum conhecido tem
Parece até que peguei o carro errado
Aqui não conheço ninguém.

Sinto meu peito amargurado
Como estará minha mulher
A quem a tempos deixei
sem uma noticia siquer.

Fui levado pela aventura
Dôidura que não tem perdão
Uma cabroxa formosa
Me enfeitiçou o coração.





Larguei tudo que eu tinha
Nem a ultima colheta fiz
Saí de casa a galope
Procurando ser mais feliz

Tava cego seu moço, Eu juro
Se eu tivesse pensado um segundo
Esta doidura não faria
Não trocaria toda a felicidade do mundo
Por aquela que eu já tinha

Junto com a noite chego na cidade
Sem coragem de procurar
Alguém ali conhecido,
P’ra poder lhe perguntar?

O que é feito de Maria dos anjos?
Amor que a muito deixei
Partindo com uma ingrata
A minha honra manchei .

O dinheiro que eu guardava
Para na velhice gastar
Foi-se embora em pouco tempo
Com uma vida de esbanjar

Um homem sem dinheiro não tem valor
Descobri num despertar
A ingrata me largou
Com muitas contas p´ra pagar.

A mobilha da nova casa
Tive então que vender
Já não tinha um teto para guarda-la
E precisava comer.

Voltar p´ro meu rancho não tinha coragem
Como eu iria enfrentar
Pedir perdão a Maria dos Anjos,
Sei que fui um ingrato, mas não vou assim me humilhar.





Nasce o dia, estou chegando no rancho
Fico incrédulo ao perceber
Cadê o canavial e o arrozal no brejão
Cadê tudo isto, cadê.

Sigo o caminho entristecido
Não escuto as criação
Não escuto um só galo cantar
Já me dói o coração.

Não posso acreditar que estou no terreiro
Só vejo mato ao meu redor
A casa que foi meu lar
Desmoronada, virou pó

O que terá acontecido,
meu Deus vem me dizer,
Onde está Maria dos Anjos.
Porque não vem me receber?

Estou ainda de joelhos no chão
Quando um cavaleiro chegou
Perguntei o que aconteceu,
Porque tudo aqui se acabou?

___Tudo foi obra de um desgraçado
Que com a Maria um dia casou
Desprezou a coitadinha
E nunca noticias mandou.

Maria descobriu que estava grávida
Chorava o pai que se afastou
A menina foi crescendo nesta amargura
Cadê papai, cadê, busca ele por favor.

De uma bronquite fatal
A menina veio a falecer
Falando sempre no pai
Que não pode conhecer.




Aumentou o sofrimento de Maria
Que de tristeza se definhou
Foi ficando fraquinha e miúda
Até que um dia a morte a levou

Do covarde maldito ninguém soube mais nada
Aqui na fazendinha a tristeza se arriou
De sede e fome morreram os porcos.
Fogo um dia a pastagem queimou

A casinha abandonada
Sem morador, começou a se afundar
A estrada da fazenda criou mato
Por aqui, é difícil alguém passar.

Mas todos conhecem a historia
Aqui já foi um grande lar
Era um cantinho feliz
Que a ingratidão de um covarde
Um dia fez tudo se acabar.



Chamou o animal na trilha
Seu caminho seguiu
Me deixou ali solitário, minhas lagrimas
se emendaram feito um rosário,
na poeira do chão sumiu.

Eu que pensei ter sofrido
Toda dor ao ser desprezado,
Descobri que o remorso dói mais
E me tornou um desgraçado.

Desprezei quem me amava
Nem minha filha conheci,
Meu Deus que vagabundo eu fui?
Só me resta esta dor me consumir.

Fim

Adilson Silveira
Maio de 2010.

ERA UMA VEZ NOS GERAIS – III

Nonato ainda adolescente matou para vingar sua mãe, anos mais tarde...

Homem típico da roça, com instrução escolar apenas de segundo ano, depois, só serviços para ajudar sua mãe e se manter com o pouco que ganhava. Este homem traz uma historia de muito sofrimento e falta de afeto de um lar bem constituído. Cresceu criado quase sempre de mãos em mãos, e agora entendendo melhor as coisas da vida chegou a dizer que sua mãe quando o trouxe ao mundo, ao invés de lhe dar a luz, fez foi a roubar. Mas como sempre foi muito valente e bom de serviços, nunca faltou um fazendeiro que lhe desse teto e comida por seus serviços. Hoje casado e pai de três filhos, se considera feliz, pois é homem de confiança de seu patrão. Que para não perder seus serviços para outros fazendeiros, lhe permite manter algumas criações em seus pastos, lhe dá casa boa para morar na fazenda e o alegra dizendo:
___ Na fazenda é você quem manda.
Um dia ao chegar para almoçar, mau o coitado desceu da mula, ainda do terreiro, seus tímpanos vibraram com a voz de sua mulher!
___ Nonato, o menino esta com tosse e não há chá de sabugueiro que de volta, almoça e aproveita o animal arreado, vai lá dentro (centro da cidade), compre um vidro de xarope para ver se assim ele dorme melhor esta noite.
Ainda com o gosto da comida na boca, sem apear do animal, ouvi-se o barulho da porteira se fechando e seguidamente o estalar da chibata no lombo da besta. O sol se inclinava do centro do céu em meio a um azul chuviscado com nuvens ralas. No bolso da calça de Nonato se percebia o volume do vidro da infusão comprada na farmácia para combater a tosse do filho. Lembrando da recomendação de seu filho menor, lhe pedindo que comprasse balas na venda, apeia da mula junto a uma sombra fresquinha, passa um nó no estacado e vai em direção a um armazém. Depois de bater a poeira das botinas, tira o chapéu da cabeça puxando-o pelo bico com a mão esquerda. Dizendo boa-tarde se debruça no balcão de madeira, logo, pede uns trocados de bala e deixa escorregar pelos dedos algumas moedas que conferindo-as, logo são catadas pelo comerciante. Apesar da pressa de voltar para casa, movido pelo instinto de sobrevivência, Nonato se voltar para um canto escuro do comercio, de onde um homem recostado na ponta do balcão, segurando um copo de pinga junto a boca, o observa como bicho que atocaia a presa. Os dois olhares se cruzam e Nonato percebe que o homem é o soldado Medeiros, este trajava uma farda empoeirada da Policia Militar, e os seus olhos miúdos e brilhantes, demonstram que aquela não era sua primeira pinga do dia. Por sua vez, o militar aprumando o corpo se dirige a ele com uma pergunta que denota autoritarismo e presunção:
____ O que é isto aí no bolso? Passe para cá este revolver.
Nonato se surpreende com a indagação e rindo lhe responde:
____ Que revolver que nada Medeiros, isto é vidro de remédio, vou lhe mostrar agora o que te deixou cismado...
Neste instante Nonato leva a mão no bolso para tirar o xarope, mas o soldado que tem experiência com este tipo de conduta, se lança sobre ele, tentando imobilizar-lhe os braços temendo que este fosse arrancar uma arma. O choque dos dois homens faz o vidro de remédio cair no chão e quebrar. Nonato se estica tentando evitar perder o remédio esperado por seu filho, mas, é inevitável, o soldado o mobiliza de tal maneira que somente seus olhos acompanham o medicamento que se derramaria em frações de segundos ao se estalar no chão. O matuto que nunca se permitiu um desaforo como bagagem, dá uma rodada no corpo e se solta do gancho de seu agressor. Olha rapidamente o liquido vermelho do xarope escorrendo no chão e xinga baixinho “ bebum safado”. Um pensamento toma conta de seu juízo “agora sim esta fazendo falta minha peixeira”. O soldado esbravejando palavras de ordem militar, se encaminha para prender o matuto que já bufava como um touro no brite.
Já aconteceu!... Agora só Deus segura a fera despertada do homem, um vôo espetacular leva Nonato a pousar na garganta do infeliz, que com o impacto rola porta afora levantando uma nuvem de poeira. O comerciante grita por ajuda e tenta apartar os dois... mas, nesta hora nem mesmo a madrinha de Nonato seria ouvida, coices, muros e pontapés eram distribuídos entre os dois e a quem mais chegasse perto. Já havia juntado uma boa torcida quando o Jipe da policia trava os freios junto aos brigões. Nonato é algemado e levado á delegacia, onde por desacato à autoridade, ficou preso por três dias. Infeliz decisão do comandante em serviço, pois a cada instante crescia mais e mais o ódio por aquele que o fez passar esta vergonha. Em meio a um dia de sexta-feira, a cancela se abre e o seu ranger traz para a porta da casa, toda a família de Nonato que o recebeu com alegria. O menino que estava doente parece ter tomado chá de milagre, pois estava curado e brincava alegremente com os irmãos. A mulher serve o almoço, mas, Nonato que calado chegou, calado ficou, nem buliu na comida, sua mulher puxa conversa, mas só silencio, conhecendo bem seu marido esta também se cala.
De repente Nonato diz:
____ Vou embora amanhã!
Sua mulher já esperava esta decisão, então tenta acalmar seu amado.
____ Está pensando naquele desgraçado que fez você ir pra cadeia, não é isto?...
____ Nunca tolerei desaforo, este também não vou engolir.
____ Mas você não pode abandonar assim a fazenda, seu patrão confia em ti, e tem também nossas coisas, quem vai cuidar, os meninos ainda são pequenos...
____ Pode deixar mulher, vou entender com o patrão, arrumar um lugar pra vocês e terminar o que aquele safado começou.

Na cidade comentam que Nonato vendeu tudo que tinha, comprou uma casinha pra mulher e os filhos e vai atrás de sua vingança. Numa manhã, junto ao cântico de cigarras, em uma casa no fim da rua, os eixos de pau, fazem parada trazendo a mudança. Por sua vez, o comandante da policia já prevendo o que poderia acontecer, a muito havia transferido o soldado Medeiros para longe de sua guarnição. A mulher de Nonato ao vê-lo lustrando suas armas, e sabendo que desta vez o desfecho será desigual, pede ao marido que desista de sua vingança e fiquem juntos para melhor criarem os filhos. Alerta-o:
____ desta vez você não vai lutar com um homem, mas sim com a policia que nunca te deixará em paz.
È madrugada... uma chuva fina banha a morte montada em uma mula, que segue em direção ao norte do estado, nas pegadas do homem jurado.
A busca é minuciosa, de vilarejo a vilarejo ou cidade a cidade, ninguém dá noticia de um militar novato naquela comunidade. Depois de seis meses andando e já muito longe de casa, alguém lhe informa que estava de férias em sua cidade natal, e, a alguns meses atrás, foi completado o contingente da policia local com um soldado que pelo ouvido dizer não é flor que se cheire, é fanfarrão e de poucos amigos. Com uma pista a seguir, mais três dias a passos de animal, junto com a noite Nonato pede pouso em uma pensão.
Amanhece... montado em sua mula a vasculhar as ruas da pequena cidade, ouvi o batido do sino da igreja. Nonato pergunta a um desocupado porque o sino batia tão cedo naquele dia:
____ É que roubaram uns bois na fazenda do filho do prefeito e dizem ter encontrado a pista do gado e dos ladrões que os vão tocando, agora a polícia está juntando gente armada para os ajudarem na recuperação do gado.
Nonato não perde tempo, em poucos minutos se junta ao grupo de cavaleiros que na porta da pequena delegacia aguardam as ordens do delegado em comando. Por terem que fazer a perseguição pelas montanhas os três policiais usam cavalos cedidos pelo proprietário do gado. Nonato em meio aos voluntários puxa o chapéu na testa com intenção de ocultar sua face, ao mesmo tempo sente o coração bater como quem ganha um presente, pois na verdade seus olhos avistaram em meio aos oficiais o motivo de sua jornada.
Um forte tropel corta a rua principal da cidade e segue pelo estradão de poeira solta, que afunila na direção das montanhas, cai a noite, nem a beleza da lua faz o trote diminuir a marcha. O delegado grita:
____ Vejam há um clarão de fogueira logo adiante, soldado Medeiros, se adiante e verifique se são os canalhas.
Os sete cavaleiros diminuem a marcha enquanto se arrumando melhor sobre a cela, o batedor vai fazer o reconhecimento. Logo volta e comunica ao delegado que realmente são os bandoleiros, os safados estão comemorando o roubo fazendo churrasco e dizem que ao descerem a montanha o gado será embarcado. Sobe o comando do delegado o grupo se aproxima o máximo do bando, procuram descansar para fazerem o ataque logo ao amanhecer. Nonato sempre de olho no soldado Medeiros, agora pede ao seu anjo protetor que o mantenha vivo, certamente até que eles se encontrem. No primeiro sinal que o sol logo se apontaria, ouve-se a voz de prisão, bradada pelo delegado que se aproximou a pé com a milícia. Os bandidos fazem um alvoroço danado, se levantam atirando a esmo e rapidamente tentam se esconder atrás das pedras ou arbustos. Junto ao manto escuro da madrugada, era visível o fogo que reluzia das armas em serviço. Nonato agia com cuidado para não perder na escuridão seu jurado, as balas luziam e cantavam uma melodia mortal. O soldado Medeiros percebe um dos bandidos se distanciando do grupo como quem tenta fugir ou se proteger melhor. Medeiros se desloca sorrateiro, abrigado por umas pedras grandes, com a intenção de pegar o bandido, Nonato percebe a manobra e faz o mesmo. O bandido atalha o caminho por entre as pedras descendo atrás de Medeiros, que pasmo engole sego ao ouvir um tiro disparado pelas suas costas. Por facões de segundos, seu intimo experimenta o horror de ser surpreendido por uma bala. Com as pernas trêmulas, vira rapidamente e se alivia ao ver o bandido que ele perseguia, caído sobre seu rasto. Incrédulo, com a ponta do revolver, levanta o chapéu na testa como quem agradece aos céus sua salvação. Por instinto percebe um homem que se aproxima, ainda com o revolver encostado na aba do chapéu, arrisca perguntar ao militante que se aproxima:
____ Foi você que me salvou?
A resposta lhe gela a alma.
____ Não podia deixar este ladrão de gado roubar a vida do canalha que a muito eu procuro.
Diante do espanto do soldado, Nonato tira o chapéu para clarear sua memória e seguidamente lhe diz:
____ Aquele vidro de remédio que você quebrou, marcou uma nova vida para mim e decretou o fim da sua.
Em tempo tão rápido que só a mente consegue percorrer, Medeiros relembra o equivoco acontecido a meses atrás. Reconhecendo o matuto e sabedor de sua intenção, rapidamente desce a mão com o dedo apertando o gatilho, mas suas forças lhe faltam antes de concluir sua defesa. A bala da espingarda de Nonato viajou tão rápido, que lhe perfurou o coração jogando seu corpo para traz.
A caçada ao pé da montanha ainda fervilhava enquanto Nonato segue seu rumo com a alma lava.
O delegado ao encontrar o corpo do soldado Medeiros caído a alguns passos do bandido, deduz que os dois se alvejaram ao mesmo tampo, declarando que o militar morreu no cumprimento do dever. (Num vacilo da lei, não perceberam que o bandido portava um revolver calibre 38 e no peito do policial descansava uma bala calibre 22 disparada pela falobé de Nonato).
Trinta e seis dias depois deste ocorrido, Nonato chega em sua casa, antes dele, chegara a noticia que em uma pega a bandidos, o Soldado Medeiros morreu em cumprimento do dever.
Recebido com alegria pela família, Nonato diz que vai falar com seu ex-patrão e tentar voltar para a fazenda. Se entristece quando sua mulher lhe conta que dois meses depois de sua partida, o homem vendeu as terras para uma firma que vem plantando eucalipto por todo o sertão. Conta mais... as terras já estão sendo cultivadas e todo o cerrado vai virar carvão. Consola-o dizendo:
___ É meu velho, é melhor você mudar de profissão, por aqui agora so se fala em eucalipto, carvão e ferro guza.

Nonato se adaptou ao novo serviço tornando-se carvoeiro, sem hora para pegar ou largar no batente... tenta juntar dinheiro para comprar seu pedacinho de terra, se Deus lhe permitir.

Adilson Silveira
Agosto de 2009

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ERA UMA VEZ NOS GERAIS – III

(A Ignorância Deu Em Nada)

Nonato ainda adolescente matou para vingar sua mãe, anos mais tarde...

Homem típico da roça, com instrução escolar apenas de segundo ano, depois, só serviços para ajudar sua mãe e se manter com o pouco que ganhava. Este homem traz uma historia de muito sofrimento e falta de afeto de um lar bem constituído. Cresceu criado quase sempre de mãos em mãos, e agora entendendo melhor as coisas da vida chegou a dizer que sua mãe quando o trouxe ao mundo, ao invés de lhe dar a luz, fez foi a roubar. Mas como sempre foi muito valente e bom de serviços, nunca faltou um fazendeiro que lhe desse teto e comida por seus serviços. Hoje casado e pai de três filhos, se considera feliz, pois é homem de confiança de seu patrão. Que para não perder seus serviços para outros fazendeiros, lhe permite manter algumas criações em seus pastos, lhe dá casa boa para morar na fazenda e o alegra dizendo:
___ Na fazenda é você quem manda.
Um dia ao chegar para almoçar, mau o coitado desceu da mula, ainda do terreiro, seus tímpanos vibraram com a voz de sua mulher!
___ Nonato, o menino esta com tosse e não há chá de sabugueiro que de volta, almoça e aproveita o animal arreado, vai lá dentro (centro da cidade), compre um vidro de xarope para ver se assim ele dorme melhor esta noite.
Ainda com o gosto da comida na boca, sem apear do animal, ouvi-se o barulho da porteira se fechando e seguidamente o estalar da chibata no lombo da besta. O sol se inclinava do centro do céu em meio a um azul chuviscado com nuvens ralas. No bolso da calça de Nonato se percebia o volume do vidro da infusão comprada na farmácia para combater a tosse do filho. Lembrando da recomendação de seu filho menor, lhe pedindo que comprasse balas na venda, apeia da mula junto a uma sombra fresquinha, passa um nó no estacado e vai em direção a um armazém. Depois de bater a poeira das botinas, tira o chapéu da cabeça puxando-o pelo bico com a mão esquerda. Dizendo boa-tarde se debruça no balcão de madeira, logo, pede uns trocados de bala e deixa escorregar pelos dedos algumas moedas que conferindo-as, logo são catadas pelo comerciante. Apesar da pressa de voltar para casa, movido pelo instinto de sobrevivência, Nonato se voltar para um canto escuro do comercio, de onde um homem recostado na ponta do balcão, segurando um copo de pinga junto a boca, o observa como bicho que atocaia a presa. Os dois olhares se cruzam e Nonato percebe que o homem é o soldado Medeiros, este trajava uma farda empoeirada da Policia Militar, e os seus olhos miúdos e brilhantes, demonstram que aquela não era sua primeira pinga do dia. Por sua vez, o militar aprumando o corpo se dirige a ele com uma pergunta que denota autoritarismo e presunção:
____ O que é isto aí no bolso? Passe para cá este revolver.
Nonato se surpreende com a indagação e rindo lhe responde:
____ Que revolver que nada Medeiros, isto é vidro de remédio, vou lhe mostrar agora o que te deixou cismado...
Neste instante Nonato leva a mão no bolso para tirar o xarope, mas o soldado que tem experiência com este tipo de conduta, se lança sobre ele, tentando imobilizar-lhe os braços temendo que este fosse arrancar uma arma. O choque dos dois homens faz o vidro de remédio cair no chão e quebrar. Nonato se estica tentando evitar perder o remédio esperado por seu filho, mas, é inevitável, o soldado o mobiliza de tal maneira que somente seus olhos acompanham o medicamento que se derramaria em frações de segundos ao se estalar no chão. O matuto que nunca se permitiu um desaforo como bagagem, dá uma rodada no corpo e se solta do gancho de seu agressor. Olha rapidamente o liquido vermelho do xarope escorrendo no chão e xinga baixinho “ bebum safado”. Um pensamento toma conta de seu juízo “agora sim esta fazendo falta minha peixeira”. O soldado esbravejando palavras de ordem militar, se encaminha para prender o matuto que já bufava como um touro no brite.
Já aconteceu!... Agora só Deus segura a fera despertada do homem, um vôo espetacular leva Nonato a pousar na garganta do infeliz, que com o impacto rola porta afora levantando uma nuvem de poeira. O comerciante grita por ajuda e tenta apartar os dois... mas, nesta hora nem mesmo a madrinha de Nonato seria ouvida, coices, muros e pontapés eram distribuídos entre os dois e a quem mais chegasse perto. Já havia juntado uma boa torcida quando o Jipe da policia trava os freios junto aos brigões. Nonato é algemado e levado á delegacia, onde por desacato à autoridade, ficou preso por três dias. Infeliz decisão do comandante em serviço, pois a cada instante crescia mais e mais o ódio por aquele que o fez passar esta vergonha. Em meio a um dia de sexta-feira, a cancela se abre e o seu ranger traz para a porta da casa, toda a família de Nonato que o recebeu com alegria. O menino que estava doente parece ter tomado chá de milagre, pois estava curado e brincava alegremente com os irmãos. A mulher serve o almoço, mas, Nonato que calado chegou, calado ficou, nem buliu na comida, sua mulher puxa conversa, mas só silencio, conhecendo bem seu marido esta também se cala.
De repente Nonato diz:
____ Vou embora amanhã!
Sua mulher já esperava esta decisão, então tenta acalmar seu amado.
____ Está pensando naquele desgraçado que fez você ir pra cadeia, não é isto?...
____ Nunca tolerei desaforo, este também não vou engolir.
____ Mas você não pode abandonar assim a fazenda, seu patrão confia em ti, e tem também nossas coisas, quem vai cuidar, os meninos ainda são pequenos...
____ Pode deixar mulher, vou entender com o patrão, arrumar um lugar pra vocês e terminar o que aquele safado começou.

Na cidade comentam que Nonato vendeu tudo que tinha, comprou uma casinha pra mulher e os filhos e vai atrás de sua vingança. Numa manhã, junto ao cântico de cigarras, em uma casa no fim da rua, os eixos de pau, fazem parada trazendo a mudança. Por sua vez, o comandante da policia já prevendo o que poderia acontecer, a muito havia transferido o soldado Medeiros para longe de sua guarnição. A mulher de Nonato ao vê-lo lustrando suas armas, e sabendo que desta vez o desfecho será desigual, pede ao marido que desista de sua vingança e fiquem juntos para melhor criarem os filhos. Alerta-o:
____ desta vez você não vai lutar com um homem, mas sim com a policia que nunca te deixará em paz.
È madrugada... uma chuva fina banha a morte montada em uma mula, que segue em direção ao norte do estado, nas pegadas do homem jurado.
A busca é minuciosa, de vilarejo a vilarejo ou cidade a cidade, ninguém dá noticia de um militar novato naquela comunidade. Depois de seis meses andando e já muito longe de casa, alguém lhe informa que estava de férias em sua cidade natal, e, a alguns meses atrás, foi completado o contingente da policia local com um soldado que pelo ouvido dizer não é flor que se cheire, é fanfarrão e de poucos amigos. Com uma pista a seguir, mais três dias a passos de animal, junto com a noite Nonato pede pouso em uma pensão.
Amanhece... montado em sua mula a vasculhar as ruas da pequena cidade, ouvi o batido do sino da igreja. Nonato pergunta a um desocupado porque o sino batia tão cedo naquele dia:
____ É que roubaram uns bois na fazenda do filho do prefeito e dizem ter encontrado a pista do gado e dos ladrões que os vão tocando, agora a polícia está juntando gente armada para os ajudarem na recuperação do gado.
Nonato não perde tempo, em poucos minutos se junta ao grupo de cavaleiros que na porta da pequena delegacia aguardam as ordens do delegado em comando. Por terem que fazer a perseguição pelas montanhas os três policiais usam cavalos cedidos pelo proprietário do gado. Nonato em meio aos voluntários puxa o chapéu na testa com intenção de ocultar sua face, ao mesmo tempo sente o coração bater como quem ganha um presente, pois na verdade seus olhos avistaram em meio aos oficiais o motivo de sua jornada.
Um forte tropel corta a rua principal da cidade e segue pelo estradão de poeira solta, que afunila na direção das montanhas, cai a noite, nem a beleza da lua faz o trote diminuir a marcha. O delegado grita:
____ Vejam há um clarão de fogueira logo adiante, soldado Medeiros, se adiante e verifique se são os canalhas.
Os sete cavaleiros diminuem a marcha enquanto se arrumando melhor sobre a cela, o batedor vai fazer o reconhecimento. Logo volta e comunica ao delegado que realmente são os bandoleiros, os safados estão comemorando o roubo fazendo churrasco e dizem que ao descerem a montanha o gado será embarcado. Sobe o comando do delegado o grupo se aproxima o máximo do bando, procuram descansar para fazerem o ataque logo ao amanhecer. Nonato sempre de olho no soldado Medeiros, agora pede ao seu anjo protetor que o mantenha vivo, certamente até que eles se encontrem. No primeiro sinal que o sol logo se apontaria, ouve-se a voz de prisão, bradada pelo delegado que se aproximou a pé com a milícia. Os bandidos fazem um alvoroço danado, se levantam atirando a esmo e rapidamente tentam se esconder atrás das pedras ou arbustos. Junto ao manto escuro da madrugada, era visível o fogo que reluzia das armas em serviço. Nonato agia com cuidado para não perder na escuridão seu jurado, as balas luziam e cantavam uma melodia mortal. O soldado Medeiros percebe um dos bandidos se distanciando do grupo como quem tenta fugir ou se proteger melhor. Medeiros se desloca sorrateiro, abrigado por umas pedras grandes, com a intenção de pegar o bandido, Nonato percebe a manobra e faz o mesmo. O bandido atalha o caminho por entre as pedras descendo atrás de Medeiros, que pasmo engole sego ao ouvir um tiro disparado pelas suas costas. Por facões de segundos, seu intimo experimenta o horror de ser surpreendido por uma bala. Com as pernas trêmulas, vira rapidamente e se alivia ao ver o bandido que ele perseguia, caído sobre seu rasto. Incrédulo, com a ponta do revolver, levanta o chapéu na testa como quem agradece aos céus sua salvação. Por instinto percebe um homem que se aproxima, ainda com o revolver encostado na aba do chapéu, arrisca perguntar ao militante que se aproxima:
____ Foi você que me salvou?
A resposta lhe gela a alma.
____ Não podia deixar este ladrão de gado roubar a vida do canalha que a muito eu procuro.
Diante do espanto do soldado, Nonato tira o chapéu para clarear sua memória e seguidamente lhe diz:
____ Aquele vidro de remédio que você quebrou, marcou uma nova vida para mim e decretou o fim da sua.
Em tempo tão rápido que só a mente consegue percorrer, Medeiros relembra o equivoco acontecido a meses atrás. Reconhecendo o matuto e sabedor de sua intenção, rapidamente desce a mão com o dedo apertando o gatilho, mas suas forças lhe faltam antes de concluir sua defesa. A bala da espingarda de Nonato viajou tão rápido, que lhe perfurou o coração jogando seu corpo para traz.
A caçada ao pé da montanha ainda fervilhava enquanto Nonato segue seu rumo com a alma lava.
O delegado ao encontrar o corpo do soldado Medeiros caído a alguns passos do bandido, deduz que os dois se alvejaram ao mesmo tampo, declarando que o militar morreu no cumprimento do dever. (Num vacilo da lei, não perceberam que o bandido portava um revolver calibre 38 e no peito do policial descansava uma bala calibre 22 disparada pela falobé de Nonato).
Trinta e seis dias depois deste ocorrido, Nonato chega em sua casa, antes dele, chegara a noticia que em uma pega a bandidos, o Soldado Medeiros morreu em cumprimento do dever.
Recebido com alegria pela família, Nonato diz que vai falar com seu ex-patrão e tentar voltar para a fazenda. Se entristece quando sua mulher lhe conta que dois meses depois de sua partida, o homem vendeu as terras para uma firma que vem plantando eucalipto por todo o sertão. Conta mais... as terras já estão sendo cultivadas e todo o cerrado vai virar carvão. Consola-o dizendo:
___ É meu velho, é melhor você mudar de profissão, por aqui agora so se fala em eucalipto, carvão e ferro guza.

Nonato se adaptou ao novo serviço tornando-se carvoeiro, sem hora para pegar ou largar no batente... tenta juntar dinheiro para comprar seu pedacinho de terra, se Deus lhe permitir.

Adilson Silveira
Agosto de 2009

A Fé e a Graça Alcançada

___ Augusto, me deixe o dinheiro para comprar uma lata de tinta, assim que tiver um tempinho, eu mesma pintarei o armário da cozinha.
___ Larga disto mulher, já está inventando moda.
Mesmo resmungando, o dinheiro fica sobre a mesa da cozinha. O relógio batia a caminho de meio dia, de uma loja de tintas, Dona Francisca saía, organizando a compra dentro de sua sacola de feira. Com carinho, serve o almoço aos filhos e os libera para brincarem no quintal. Enlaçando o avental na cintura, observa o casal de filhos que brincam sob sombra de um flambo-iam. Depois dos afazeres do lar, usando uma chave de fenda, extrai a tampa da lata de tinta azul, emolindu-a com solvente, abastece o reservatório da pistola que deixará seu armário semi-novo. As crianças atraídas pelo barulho do compressor ligado, deixam a brincadeira e vêem ver a arte de sua mãe. Um jato de tinta aqui, outro ali, vai deixando como novo, o velho armário da cozinha.
De repente, pitiziii, a pistola de tinta parou, entupiu!...
Pobre Dona Francisca, a falta de pratica a deixa insegura, nervosa, certamente até ensaiou alguns palavrões para desabafar, mas diante das crianças não seria conveniente. Pensando alto fala:
___ Bom, se entupiu, o negocio é desentupir”.
Sai como doida, em carreira para a estante, lá haviam alguns preginhos guardados dentro de um copo de vidro. Pega o mais fino, usando a ajuda de um martelo tenta desentupir a pistola de tinta. Força um pouco de um jeito, um pouco mais de outro, sem se lembrar que o compressor continuava ligado, pondo em risco a operação – funciona trem -. Seu casal de filhos ali pertinho, só olhando a luta da mãe com aquela maquina, até se divertiam.
O compressor continuava em sua função, súbito: buuumm, a mangueira não agüentou a pressão, explodiu esguichando tinta azul por toda parte, acertando em cheio o rosto de sua filhinha, que caiu sentada com o baita susto levado. A mãe se desespera:
___ Meu Deus, meu Deus, que foi que eu fiz, matei, matei minha filhinha, coitada.
Logo se refaz do susto e acolhendo a menina nos braços, tenta abafar- lhe o choro com um abraço. Mas isto é pouco, pegando-a pelos ombros, estica seus braços e fala:
___ Chora não, minha filha, mamãe vai te limpar num segundo.
Passa a mão na lata de solvente, embebendo um pedaço de pano branco, tenta limpar-lhe o rosto, mas a solução química lhe queima a pele, fazendo-a chorar com mais desespero. Vendo que assim seria impossível e rogando sempre a Deus pela filha, corre com ela p’ra debaixo do chuveiro, com a intenção de tirar a tinta com a água morna que caia.
Seu filho (o mais velho), a acompanha tão assustado que nada conseguia dizer. A pobre mãe usava sabão, champoo e bucha de banho, mas, nada estava adiantando.
Vem o desespero, agora ajoelhada na frente da filha começa a chorar e rezar, em meio as orações, roga a Nossa Senhora de Aparecida que mostre como tirar a tinta que lambuzou todo o rosto de sua filha.
O menino que a tudo assistia e ouvia, corre até a cozinha, volta ao banheiro com uma lata de óleo de soja na mão, estica o braço e fala p’ra sua mãe:
___ Toma mãe, passa nela...
___ Isto é óleo de soja menino, vá colocar lá na cozinha, depressa.
O menino, mantendo o braço esticado em oferta, insiste:
___ Sei que é óleo mãe, mas passa, passa assim mesmo mãe, vai, passa...
Pegando a lata, a pobre mãe que já não sabia o que fazer, molha o dedo no óleo e o passa sobre a pele azulada, no rosto da filha, em pranto percebe que o óleo retirava a tinta, como que a esponja retira o branco do giz de um quadro negro.

A emoção foi tanta que até o menino entrou sob o chuveiro para ajudar a tirar a tinta que colou em sua irmã.

(este testemunho de fé, é baseado em fartos verídicos)

Adilson Silveira-
01-2010

MORANGO MÁGICO

___ Olha o papai aqui!...
Rapidamente as crianças deixam no sofá os controles do vídeo games, e se agarram ao pai que chega do serviço. Enquanto demonstram afeto, o menino lhe cobra:
___ cadê pai, o que o senhor prometeu que traria?
Tirando a mão direta detrás das costas, ele exclama quase cantando:
___ olha, olha, olha o que o papai trouxe!
___ estes morangos são só meus.
Gritou o menino se agarrando na caixa de morangos vermelhinhos que seu pai lhes havia prometido, quando voltasse do serviço. Nesta hora a menina já agarrada na caixa disputa com o menino o direito aos frutos. O pai lhes chama a atenção e recomenda:
___ Não quero ver brigas hem, entrem num acordo e comam sem bagunça: entendido?
O menino muito astuto, enquanto comia pensava em como passar um trote na irmã, que deliciando comia o ultimo morango da sua parte. O garoto já de plano feito, reserva um dos frutos e sai para o quintal dizendo em tom macabro:
___ Este morango é o ultimo da caixa, ele é encantado, tem o poder da vida, matando a fome do mundo, ou de matar uma família inteira se for colhido antes da hora, há há há há há... há há
___ Mano, pare com isto, coisa mais boba; os morangos estão é muito saborosos, se não quer comer este, me da que eu como.
___ Não, este não pode ser comido, ele é encantado e eu sou seu guardião. Eu o enterrarei no jardim e vigiarei até que ele nasça, cresça e dê muitos frutos.
Assim, seguido pela irmã o menino, caminhando tal qual Merlym, vai para o jardim, cava um buraco no chão e ali enterra o fruto encantado. No capricho de seu plano, coloca uma folha verdinha de morango, para tornar mais real seu poder e mago.
___ Seu mágico mentiroso, eu não acredito em nada disto...
­­___ Então arranque este morango e verá o fim de toda nossa família...
­­­___ deixa de ser palhaço, achas que sou boba de acreditar numa brincadeira desta...
___ Não faça pouco de mim, minha mágica é poderosa, se este morango for desenterrado antes de dar mais frutos, toda nossa família morrerá, começando por mim.
___ Pois o desenterrarei agora, mago de meia tigela.
___ Por favor, não faça isto, eu lhe imploro!
Dramatizou o menino, em súplica desesperada. Mas a menina se ajoelha no chão e cavando com as mãos mantém os olhos fixos no irmão, com ar de quem espera ver desmascarada sua magia. De repente um grito “achei”, seu irmão grita desesperado por sua vida “nãããão!” mas já é tarde.
Puxando de uma vez o morango, a menina sente o coração querer lhe sair pela boca ao ver seu irmão gritando e caindo como quem morria fulminado por um encantamento maléfico. Em choro desesperado a menina grita.
___ Meu Deus, matei meu irmão, certamente morrerá meu pai e minha manzinha. O que vou fazer se ficar sozinha no mundo. Não vou agüentar, morrerei também, será o fim de minha família.
Gritando pela mãe, sai correndo em direção á cozinha, mas antes de alcançar a porta, para, ao ouvir o irmão cantando em grande algazarra.
___ Minha irmã é boba, / caiu na pegadinha, / ficou desesperada, / quando viu a morte minha.
Sentido novamente a alegria de viver a menina se volta para o irmão e lhe dá uma bronca com grande sabedoria:
___ Nunca mais, assim comigo volte a brincar,
em morte não perco tempo a pensar,
para mim, morte não tem vida, ta? ...

Adilson Silveira01-2010