segunda-feira, 16 de abril de 2012

APRISIONADO NA DROGA




Insistentemente e com muita força alguém bate à porta, este barulho se confundia com o som da maçaneta que girava tentando abrir rapidamente a porta. A empregada aparece apressada na sala para atender o chamado, mas chegara atrasada, pois a dona da casa sabendo de quem se tratava, adiantou-se e veio abrir a porta. Enquanto a destrancava, falava com vos de proteção e carinho:

___ Calma filho, Calma filho...

Como um furacão, seu filho adentra a sala, sem o menor caso a quem lhe havia aberto a porta. Vai direto para o seu quarto e desordenadamente vasculha seus pertences a procura de algo.

___ O que estas procurando filho? ...fala que te ajudo a achar!



Calado tava, calado ficou, ate que encontrou algo, o coloca rapidamente no bolso e sem uma palavra sai novamente em direção à rua.

Sua mãe o chama, mas está como que em transe, nada responde.



___ Sem querer me intrometer Dona Vanete, a senhora ainda vai perder seu filho pras tal drogas, cuida dele!

___ Romilda, o que posso fazer? depois que seu pai saiu de casa, parece que ele ficou mais rebelde. Ainda me xinga como se eu tivesse culpa dele ter ido embora, o pior é que não tem paradeiro e quer eu dê conta de onde seu pai está.

___ Quer saber de uma coisa Dona Vanete? A senhora vai ter que rezar muito para ele, para o anjo da guarda dele...

___ Hora! Romilda, quanto mais eu rezo mais sombração me aparece.

___ Me desculpe Dona Vanete, minha avó sempre me ensinou que a fé remove montanhas, eu acho que ela não mentia não, que Deus a tenha, coitadinha.

___ Me convenceu Romilda, Vou passar a ir na igreja e você vai ter que ir comigo.

___ Isto não vai ser problema não, Dona Vanete, mas me diga, em qual igreja a senhora vai?

___ Nos vamos na igreja do tal Edim Macedo, lá na tal Reino de Deus o povo é mais granfino e alinhado.

___ Nada disso, Dona Vanete, se eu tenho que ir com a senhora na igreja, só vou se for na católica, porque lá Deus não liga pra roupa da gente.



A partir daquele dia, por volta das quatorze hora, lá estava as duas, imbuídas na mesma oração, rezavam pela salvação do jovem rebelde. Atenta nas missas de domingo, prestava tanta atenção nas leituras e homilia que o padre fazia, que quase as conseguia decorar. Seu filho percebeu que sua mãe estava mais serena, e saia todos dias para a igreja. Numa certa manhã, ainda na mesa do café, certamente com os sentidos mais apurados o jovem resolve perguntar à mãe porque ela agora ia tanto na igreja.

___ Meu filho, estou em fervorosa penitencia em busca de solução para tantos problemas que tenho aqui em casa. Tenho fé que Deus vai me mostrar um caminho, um novo rumo para nossas vidas, já que seu pai resolveu nos abandonar e nunca mais deu noticias, com fé em Deus vamos vencer esta etapa de nossas vidas e encontraremos a união e a felicidade novamente.

___ A senhora pode rezar para a senhora, porque eu sei muito bem o que estou fazendo.

___ Ta bom meu filho, Deus saberá como agir.



Depois que o filho sai da mesa e vai para seu quarto, Dona Ivanete cai de joelhos e agradece a Deus a lucidez em que seu filho se encontra, diz para si mesma: insto é graças de Deus. A tarde, na igreja, sentindo a presença de Deus em suas vidas, suas orações são acompanhadas de lagrimas emocionadas de uma mãe que vê seu filho se libertando.



___ Obrigada Senhor, por vossa compaixão, obrigada.



Nesta noite o filho não saiu para as ruas, ficou em casa revirando as coisas de seu quarto, porta fechada e o som ligado bastante alto, mas reinava um clima de harmonia.

Amanhece o dia, na mesa do café o filho pergunta a mãe se a mesma tem um dinheirinho sobrando. Um sentimento de fracasso toma conta de Dona Ivanete, com certo grau de irritação ela responde:

___ Meu filho, já falamos sobre isto, eu não tenho dinheiro para sustentar seus vício...

Abaixando a cabeça e ameaçando a sair da mesa ela fala baixinho consigo mesma:

___ Estava bom demais para ser verdade!

___ Espere mãe, não é o que a senhora está pensando, eu estava revirando meus cadernos e pastas, aí decidi, quero destrancar a matricula da faculdade, se a senhora tiver condições de me bancar novamente.

___ Filho! Que boa noticia, irei com você até a faculdade e destrancaremos sua matricula. Logo, logo, você estará enchendo sua mãe de orgulho.



Dias depois tudo começa a tomar novo ruma naquela casa. Agora Dona Ivanete reza pela perseverança do filho.

Num certo dia Dona Ivanete começa a se preocupar com a demora do filho que já estava atrasado mais de quatro horas de sua volta da faculdade. Romilda percebe a aflição da mãe que não se apartava do celular tentando ligar para o filho, fora de área ou desligado, eram as repetidas respostas. Dona Ivanete pensa consigo: não é possível que vai começar tudo de novo.

Três horas da manhã de sábado, o telefone toca.



___ Quero falar com algum familiar de Rafael, ...

___ Sou a mãe dele, pode falar, aconteceu alguma coisa com meu filho?

___ Ele foi encontrado caído entre as folhagens de um dos canteiros aqui na faculdade, acabam de o levarem para o pronto socorro no bairro.

___ Espere, o que aconteceu com ele, me diga por favor!

___ Eu não sei, já o achamos assim, desacordado...

___ Alô...

___ Alô, alô ...

___ que foi Dona Vanete?

___ Esta porqueira de telefone!



Pouco tempo depois, a mãe desesperada procura noticias do filho na portaria do hospital. Lhe pedem calma e informam que o rapaz está bem, no momento está no bloco de suturas e Raio X, pois parece que o rapaz ganhou uma surra daquelas.

___ Meu Deus, quem teria feito isto com meu filho?



Já no quarto, o médico recomenda ao jovem que fique tranqüilo, pois sua mãe chegou. Libera apenas cinco minutos para a visita, pois é importante que descanse para uma melhor recuperação.

Dois dias depois, já em casa Rafael fala para sua mãe que o querem obrigar a parar de estudar.

___ mas isso não existe meu filho, você é livre e o dinheiro é seu...

___ Não mãe, a coisa é mais complicada do que a senhora pensa.

___ eu não estou acreditando no que estou ouvindo!...

___ Mas é isto mesmo, mãe. Enquanto eu estava internado, um homem me visitou fora do horário das visitas e me disse que a corrente não pode partir sem que o elo seja todo despedaçado.

___ Meu Deus, isto é uma ameaça. Vamos a polícia, estes vagabundos não sabem com quem estão mexendo ...

___ Não é assim mãe, eu é que não imaginava o rabo de foguete em que estava me metendo. Se eu não continuar passando a droga nos pontos noturnos onde já me demarcaram, eles vão me queimar, é a lei do trafego.

___ Meu filho, de hoje em diante você não vai sair de casa, quero ver quem vai lhe fazer mal aqui dentro de casa.

___ Não é assim mãe, se eu não voltar, até a senhora estará correndo perigo, vou voltar porque não quero ver a senhora judiada ou morta.

___ Não meu filho, mudaremos daqui se for preciso.



Em poucos dias Rafael está novamente perambulando pelas esquinas, fazendo o serviço do trafego, já não usa mais drogas, mas, virou escravo da vida que um dia ele escolheu.

Sua mãe resignada agora cobra de Deus o por que daquele suplicio com seu filho, já não é mais usuário mas não pode largar o trafego. Orava com muita confiança:

___ Meu Senhor e meu Deus, em Vós espero e confio, vem depressa socorrer-me!...



Os meses passam e as orações continuam, só Deus poderá livrar seu filho desta vida que ele mesmo quer largar, mas é obrigado a viver.

Um dia após um grande tiroteio, os jornais publicam em edição extraordinária que a policia estourou o esconderijo do trafego e na troca de tiros foi morto o traficante conhecido como “mão de ferro”, que comandava os pontos nas redondezas dos grandes condomínios da cidade. Comunicam que os trabalhos serão intensificados até a completa desarticulação da quadrilha e seus pontos de vendas.



Na família de Dona Ivanete, reina a harmonia de um lar abençoado, onde não se esquece da benção divina, recebida:

“ Se Rafael não pode largar a montanha, Deus tira a montanha do caminho de Rafael ”





                                      Adilson Silveira

                                                                 Fevereiro de 2012.

DESCOBRINDO A CIÊNCIA ...

DESCOBRINDO A CIÊNCIA ...


Certa vez no sertão, o caboclo parou para olhar a lua,

Olhava , olhava; olhava ...

percebeu que a lua estava se movendo

___ vem cá mulher... mas vem correndo,

quero te mostrar um mistério no céu,

vem logo, você não sabe o que está perdendo!

Aos olhos do matuto, a lua viajava a mil,

pra mulher também foi surpresa a pressa que a lua tinha.

Olhou, olhou; olhou ...

Mas lembrou-se logo da cozinha,

pois o caldo para um pirão na fornalha começava a derramar, acudiu com farinha e pimenta

abafou com a tampa e voltou para espiar.

Espiou, espiou; espiou ... mas logo se pos a observar:

“Quando vim ver a lua ela estava correndo,

isto eu pude observar,

Voltei e cuidei do meu pirão,

Tornei voltar para a lua olhar,

Ela continua correndo, veja como está correndo José!

mas está no mesmo lugar.

Certamente são as nuvens que estão movendo,

impulsionadas pelo ar,

isto é coisa de Deus, não demora a chuva vai chegar”.



Adilson Silveira

DESALENTO

DESALENTO



Janela de meu quarto

Por onde passam meus sonhos

Vão lembranças e saudades

Em busca da felicidade

Para este pobre tristonho.


Voam meus ais,

Suspiros de infinito clamor

Oh Deus, quanta saudade

Daquele meu grande amor.


Não há instante que não me lembre

De sua meiga feição

Do amor que nos uniu

Numa enlaçada paixão


Trinta e três anos passaram

Foi uma feliz união

Do amor nasceram três filhos

Inicio de nossa geração.


Certamente serão vencedores

Pois do Pai Eterno são filhos amados

Presentes de Deus, a filhos seus,

Quando o lar é abençoado.


Olhando no vão da janela

O infinito me faz sonhar

Relembrando de minha amada

Que junto a Deus foi morar.


Debruçado na janela, a cada dia

Meu viver, é um eterno sonhar,

Sonhar e relembrar...

Restou-me somente sonhar.





                                                             Adilson Silveira



PEDRO GATO

PEDRO GATO


Em um cantinho do sertão, onde a lei não havia chegado, formou-se um vilarejo a muitas léguas da cidade. Chamada de Pedro Gato, (Vila do Pedro Gato), vilarejo ao pé da serra, escondida no meio do mato. É terra de gente valente, povo que medo de nada tem, vivem numa certa harmonia, ariscos, provoca-los não convém.

Um tal de Pedro mudou pra lá, casinha simples, quase no centro do povoado, homem de cor escura, mulato ao sol torrado. O caboclo tinha dois filhos, o mais velho era rapaz já feito, muito educado e trabalhador, nele não era achado defeito.

O mais moço era gazeteiro, de tudo dava noticia, e certa vez, por falar demais, prometeram fazer de seu couro, cortiça. Senhor Pedro para intimidar os inimigos do filho seu, um aviso mandou rolar, “fala aí a estes garotos, que querem em meu filho tocar, sou da paz, mas não sou veludo, viro leão se me acuar, por meus filhos dou a vida, não me tente, posso estourar”. Cutucar onça com varra curta é suicídio, cuidado, o bicho vai pegar.

Na entrada da casa do senhor Pedro, um jardim de folhagens ornamentavam o espaço, protegidos por um estacado de aroeiras, muitas flores penduradas aos cachos. Tinha uma cancela de pau, cravada em um esteio bem alto, no seu tôpo um sino de bronze, por uma corrente amarado, era para espantar os lobos que vinha por estes lados.

Para dar sinal de alerta o sino também servia, tocavam-no na hora do almoço e também na Ave- Maria. Porem virou ponto de mira para o revolver de senhor Pedro, que sentado na mureta da varanda, disparava com certeza, a bala resvalava no bronze mostrando sua proeza.

Logo a noticia correu “Seu Pedro está trinando, certamente para matar, a quem tocar em seu filho, este é o rosnado que o leão dá”.

Assim virou mania, atirar no sino só pra ver o seu cantar, tinia retumbando na noite, logo alguém começava a comentar, “isto é tiro de Seu Pedro treinando para matar”.

Os rapazes acovardaram da briga, logo a paz voltou a reinar, Seu Pedro guardou um segredo, que só muito velhinho contou, “dos tiros que dei no sino, nem todos acertaram, mas o tinido do sino sempre se ouvia, vou contar como ocorria, resultado de um plano que bolei na manhã de certo dia, para respeito impor, e livrar desta ingresia”.

Cada tiro que disparava a noite no sino, era difícil de acertar, mandava meu filho bater-lhe com pau na hora que eu disparar. O sino tinia na noite, fazendo todas acreditar, que eu era mesmo valente, disposto até mesmo a matar.

Assim só três conheciam o segredo, eu, meu filho e o sino... este é metal, não pode me falar.



Fim

CLEMENTE, VALENTIA E IGNORÂNCIA...



CLEMENTE, VALENTIA E IGNORÂNCIA...

___ Vê aquele menino que vai pras bandas da fazenda grande, se ele é bravo eu não sei, mas seu tio avô, eta homem esquentado.

___ Me conta velho, sobre este valentão.

___ Ele não era só valente não, era um homem de muita opinião e também de muita ignorância. Clemente, o nome dele era Clemente, da família dos Vegas, gente criada na fazenda grande. Certa vez o Clemente que sempre gostou de vir dar umas voltas aqui na cidade, quando chegava chamava sempre a atenção de todos, era um homem grande, sempre montado em animais pretos ou de cor bem escura, este era seu gosto. Mas, vai que um dia apareceu um outro visitante aqui na praça montado em um cavalo muito bonito, pretinho como carvão e de musculatura muito forte, o animal parecia um troféu, aí o Clemente se interessou pelo animal. Procurou o dono que estava ali na venda fazendo umas compras e perguntou se o animal era p’ra negócio. O homem disse que não, mas se o amigo estava interessado, conforme a proposta podia até mudar de opinião.

Aí eles mexeram um rolo e acabou o Clemente comprando o tal cavalo por um preço que dava para pagar até dois animais do mesmo porte. No outro dia bem cedo atravessou a rua, o moço montado em um cavalinho baio e puxando o cavalo preto pelo cabresto, ia entregar o cavalo a Clemente. Clemente soltou o animal num pastim assim na porta e tratou bem dele por três dias. Lá pelo quarto dia, ainda era bem de manhã ele falou: hoje eu vou dar uma volta na cidade e, é você quem vai me levar, quero ver se vale o que paguei ou não. Passou a mão no cabresto e foi pegar o cavalo, quando ele viu o homem com o cabresto na mão, começou a ficar fogoso, raspando o chão e se empinando, cada vez que o Clemente chegava a menos de uns dês passos dele, ele dava uma caminhadinha, procurando manter sempre uma distancia que impedia de ser laçado. Isto foi deixando o Clemente com raiva e foi piorando a cada vez que ele se aproximava e o danado fugia. Com muito custo o Clemente o laçou, mesmo assim só depois de prende-lo no curral. Botou os arreios e passou pra cima, o animal deu alguns pulinhos, mas logo se convenceu que quem mandava não era ele. Depois de passar varia horas na cidade, o Clemente voltou pra casa e soltou o animal no mesmo pasto, mas o advertiu: da próxima vez não quero ver gracinha, hem? O animal sai correndo e pinoteando, mostrando toda a alegria de estar solto novamente. Passam uns dias e Clemente resolve dar umas voltas novamente, tudo aconteceu como antes, o cavalo não o deixava se aproximar, agora parecia até rir da cara de seu dono ao relinchar, quando o tentava pegar. Clemente se enfezou tanto que disse ao animal, deixa ocê bobinho, vou te mostrar quem é que manda aqui. Entra em casa, passa a mão numa carabina que enfeitava a cabeceira de sua cama, conferiu as balas e prumou para o pastim onde estava o cavalo. Carabina no ombro e laço na mão direita, tenta novamente pegar o animal, mas agora sim é que o danado corria, a raiva subiu tanto que avermelhou as orelhas do homem, perdendo a cabeça, dá um tapa para traz no cabo da carabina, fazendo com que o gatilho já caísse em sua mão, num ato sincronizado o cabo da arma lhe sobe ao ombro, o olho se fecha e a bala rompe... teeii, o animal com o estampido deu um pinote e caiu de joelhos rolando sobre o próprio pescoço. Clemente entra chega em casa, havia um camarada trabalhando ali a terra, lhe pergunta: o que foi isto Clemente, porque deu um tiro? Ele responde: o que eu não pegar no laço pode estar certo que eu pego na bala.

___ É Velho, a ignorância deste homem parece coisa de filme, eu hem?

___ Insto não é nada, veja o resultado de uma rixa que ele arrumou com um valentão da região do Jacarandá.



Capitulo – II

VINGANÇA NO CEMITÉRIO



Clemente arrumou uma contenda com Ramiro, por ocasião de um enterro, foi na morte de sua tia, quando todos da comunidade, depois de acompanhar o enterro e o caixão já estava colocado na cova, algumas pessoas jogavam os últimos punhados de terra quando chegou o Ramiro, era um fanfarrão desrespeitador das pessoas e quando estava bêbado então, víxiii, punha todo mundo pra correr, empinando sua mula sobre as pessoas.

Este tal Ramiro entrô no cemitério sem se desapiar da mula e foi jogando o animal encima do povo que ali se despedia da defunta, e disse: já vai tarde.

Clemente avança contra Ramiro enquanto levava a mão no revolver, mas a multidão o segura pedindo pelo amor de Deus que não fizesse mais morte naquele dia. O homem bufou de raiva e disse: este desaforo minha tia não vai levar sem um troco. Ainda agarrado pelos amigos, ele fez uma jura... Ramiro safado, em respeito aos outros e minha tia que está no caixão te faço um aviso, no dia que eu te encontrar de novo, um de nos vai deixar de existir, trate de sumir se quer continuar vivo. Passam algumas semanas, certa manhã Ramiro chega cedo na cidade e parecia que já vinha com o diabo no corpo, pois já chegou bêbado, gritando e dando tiros pra cima como quem o mundo é dele. Clemente estava na fazenda e de lá ouviu uns tiros, vindo dos lados da cidade, logo chegou no pátio da fazenda uns colonos que conversavam apavorados entre si, e Clemente ouviu um deles dizer, ele só pode estar com o diabo no corpo. Por isto ele se aproximou deles e perguntou: de quem vocês estão falando, e cadê as compras que foram fazer? ... Um deles respondeu: seu Clemente, o Ramiro hoje ta doidim, tocando todo mundo dos armazém, só ele é que manda e se alguém abusar passa a mula encima ou manda bala, cruz- credo de um homem desses. Clemente respondeu: é assim que ta bom pra mim. Arreou seu cavalo e saiu depressa em direção á cidade, no caminho falou sozinho, é hoje tia que a senhora descansará sossegada. Chega na cidade procura por Ramiro, mas este já havia deixado a cidade, levado por um conhecido seu.

Clemente pergunta a um senhor ali parado? ... ouvi uns tiros, ele feriu alguém?

___ Não seu Clemente, desta vez ele levou o dele!

___ como foi isto?

___ Ele estava fazendo o maior fuzuê aqui na praça, entrando e saindo dos botecos sem nem ao menos se desmontar da mula, ele sempre respeitou o Zé Candido, mas parece que o capeta atentou e ele resolveu entrar na venda dele com a mula e tudo. Pendeu pra lá e mandou a mula sobre a causada, entrou montado por uma porta e cá de fora nos ouvimos um grito e em seguida vimos sua mula sair sozinha na oura porta. Corremos lá pra ver, no rosto de Ramiro já corria um fiasco de sangue, que brotava da cabeça e se misturava com o suor de seu rosto. Clemente quer saber como tudo aconteceu, foi até a venda do Zé Candido para saber melhor da estória, e ele contou: vai que eu tava aqui atendendo meus fregueses e via Ramiro fazendo suas “arruaças” lá fora, quando menos esperava ele virou sua mula pra cá e jogou o animal encima das causadas e logo já tava cá dentro da venda, dizendo que queria uma pinga, aí falei: espere que já te dou. Levei a mão aqui debaixo do balcão e pequei o ´´deixa disso`` e mostrei pra ele quem manda aqui dentro. Foi uma paulada só, ele caiu entre o balcão e a mula, que mais ajuizado que ele logo saiu correndo, enquanto o safado toda vês que apoiava no balcão pra se levantar, assim que a cabeça aparecia eu batia de novo, até que os fregueses para evitar que ele morresse, o levaram para fora da venda, o montaram na mula e o açoitaram para fora da cidade. Aí Clemente disse: esta eu perdi, mas ele vai voltar. Passou mais um tempo, aí chega a noticia que morreu um fazendeiro muito influente da localidade onde Ramiro morava e que Ramiro falou no velório que acompanharia o enterro fosse onde fosse. O corpo ia ser enterrado aqui no Morro da Garça, então Clemente prevendo a visita de seu inimigo, vai até o cemitério e falou para o coveiro que quando acabasse de abrir a cova do defunto de Jacarandá, abrisse outra e deixasse aguardando que ele ia arrumar alguém para a ocupar. Nesta noite Clemente se prepara, lubrificou as armas da cintura e também a carabina que ficava pendurada sobre a cabeceira de sua cama. Nesta tarde o sol se pos meio avermelhado, manchando todo o barrado do céu de uma cor que anunciava toda a angustia para as horas que viriam. Pingos de chuva naquela manhã tornaram macabra a visão do cortejo que vinha trazido por uma charrete com dois possantes animais puxando, um grande grupo de cavaleiros e pessoas a passos largos acompanhavam o corpo do fazendeiro. Passam rápido em direção ao cemitério e numa cerimônia rápida logo sepultam o respeitado defunto. Todos estavam nervosos e procuravam se manterem longe de Ramiro que também olhava a tudo com muita astúcia, para não ser apanhado de surpresa. Mas as ultimas pás de terra caem sobre a cova e nada do esperado acontecia, assim as pessoas foram se relaxando e se afastando para fora do cemitério, aliviados por Clemente não ter aparecido e os deixado sepultar em paz seu morto. A chuva começa a cair novamente, fazendo com que todos procurassem se abrigar como pudessem. Nisso Clemente saindo detrás de um tumulo mais elevado grita por Ramiro, dizendo: você não respeitou nossa dor na morte de minha tia, e não me deixaram te dar uma surra na hora, tanto pior, agora para mim só a surra não basta. Há uma outra cova aberta logo atrás de você e um de nos dois é quem vai a ocupar neste dia. Ramiro se vira e vê Clemente com a espingarda engatilhada e nos olhos de seu opressor, o brilho da morte demonstra que tudo tinha que ser resolvido ali. Ramiro já prevendo o que aconteceria grita seus companheiros e começam a atirar.

Clemente só tinha um alvo... Ramiro... e, a primeira bala de sua carabina perfura o meio da testa do seu oponente. Que num urro mortal é jogado para trás, caindo quase todo dentro da cova que aguardava o fim da contenda.

Seus dois amigos atiradores dispararam ao mesmo tempo, cravando uma bala na barriga e outra na coxa de Clemente, que caiu para trás no impacto das balas.

Os dois homens olham Ramiro já morto com um tiro tão certeiro, amedrontam e resolvem abandonar a briga. Correm em direção ao muro do cemitério, mas um deles, antes de o alcançar, ouve o estampido e nesta hora a formigada nas costas lhe altera o compasso do coração, jogando-o de cara no muro.

Mais dois tiros ecoaram, mas o outro oponente já havia alcançado o muro e como um pássaro, iça um vôo desajeitado em busca da vida que teimava em esvair pelos furos das balas trinta e oito de Clemente.

Acabando a matança eu e outros amigos, fomos acudir o coitado do Clemente, que ainda estava debruçado sobre um túmulo, com uma mão na barriga, na outra mão um trinta e oito cuspindo fumaça e os olhos bem atentos a novas surpresas.

O levamos pra fazenda grande e lá cuidamos dele enquanto um cavaleiro saia a galope até Curvelo em busca de um medico que o pudesse curar. Meu filho, já vi um homem sofrer! até que um carro chegou trazendo o medico, este homem passou por maus lençóis, tinha hora que a dor era tanta, que pelo buraco da bala na barriga vazava a ponta de suas tripas, mas ele resistiu, ficou manco da perna alvejada, o que o atrapalhava muito a montar e vez em quando sentia fortes dores no estomago. Acho que é uma das balas que o medico não conseguiu tirar.



Adilson Silveira

Setembro 2010.