segunda-feira, 16 de abril de 2012

APRISIONADO NA DROGA




Insistentemente e com muita força alguém bate à porta, este barulho se confundia com o som da maçaneta que girava tentando abrir rapidamente a porta. A empregada aparece apressada na sala para atender o chamado, mas chegara atrasada, pois a dona da casa sabendo de quem se tratava, adiantou-se e veio abrir a porta. Enquanto a destrancava, falava com vos de proteção e carinho:

___ Calma filho, Calma filho...

Como um furacão, seu filho adentra a sala, sem o menor caso a quem lhe havia aberto a porta. Vai direto para o seu quarto e desordenadamente vasculha seus pertences a procura de algo.

___ O que estas procurando filho? ...fala que te ajudo a achar!



Calado tava, calado ficou, ate que encontrou algo, o coloca rapidamente no bolso e sem uma palavra sai novamente em direção à rua.

Sua mãe o chama, mas está como que em transe, nada responde.



___ Sem querer me intrometer Dona Vanete, a senhora ainda vai perder seu filho pras tal drogas, cuida dele!

___ Romilda, o que posso fazer? depois que seu pai saiu de casa, parece que ele ficou mais rebelde. Ainda me xinga como se eu tivesse culpa dele ter ido embora, o pior é que não tem paradeiro e quer eu dê conta de onde seu pai está.

___ Quer saber de uma coisa Dona Vanete? A senhora vai ter que rezar muito para ele, para o anjo da guarda dele...

___ Hora! Romilda, quanto mais eu rezo mais sombração me aparece.

___ Me desculpe Dona Vanete, minha avó sempre me ensinou que a fé remove montanhas, eu acho que ela não mentia não, que Deus a tenha, coitadinha.

___ Me convenceu Romilda, Vou passar a ir na igreja e você vai ter que ir comigo.

___ Isto não vai ser problema não, Dona Vanete, mas me diga, em qual igreja a senhora vai?

___ Nos vamos na igreja do tal Edim Macedo, lá na tal Reino de Deus o povo é mais granfino e alinhado.

___ Nada disso, Dona Vanete, se eu tenho que ir com a senhora na igreja, só vou se for na católica, porque lá Deus não liga pra roupa da gente.



A partir daquele dia, por volta das quatorze hora, lá estava as duas, imbuídas na mesma oração, rezavam pela salvação do jovem rebelde. Atenta nas missas de domingo, prestava tanta atenção nas leituras e homilia que o padre fazia, que quase as conseguia decorar. Seu filho percebeu que sua mãe estava mais serena, e saia todos dias para a igreja. Numa certa manhã, ainda na mesa do café, certamente com os sentidos mais apurados o jovem resolve perguntar à mãe porque ela agora ia tanto na igreja.

___ Meu filho, estou em fervorosa penitencia em busca de solução para tantos problemas que tenho aqui em casa. Tenho fé que Deus vai me mostrar um caminho, um novo rumo para nossas vidas, já que seu pai resolveu nos abandonar e nunca mais deu noticias, com fé em Deus vamos vencer esta etapa de nossas vidas e encontraremos a união e a felicidade novamente.

___ A senhora pode rezar para a senhora, porque eu sei muito bem o que estou fazendo.

___ Ta bom meu filho, Deus saberá como agir.



Depois que o filho sai da mesa e vai para seu quarto, Dona Ivanete cai de joelhos e agradece a Deus a lucidez em que seu filho se encontra, diz para si mesma: insto é graças de Deus. A tarde, na igreja, sentindo a presença de Deus em suas vidas, suas orações são acompanhadas de lagrimas emocionadas de uma mãe que vê seu filho se libertando.



___ Obrigada Senhor, por vossa compaixão, obrigada.



Nesta noite o filho não saiu para as ruas, ficou em casa revirando as coisas de seu quarto, porta fechada e o som ligado bastante alto, mas reinava um clima de harmonia.

Amanhece o dia, na mesa do café o filho pergunta a mãe se a mesma tem um dinheirinho sobrando. Um sentimento de fracasso toma conta de Dona Ivanete, com certo grau de irritação ela responde:

___ Meu filho, já falamos sobre isto, eu não tenho dinheiro para sustentar seus vício...

Abaixando a cabeça e ameaçando a sair da mesa ela fala baixinho consigo mesma:

___ Estava bom demais para ser verdade!

___ Espere mãe, não é o que a senhora está pensando, eu estava revirando meus cadernos e pastas, aí decidi, quero destrancar a matricula da faculdade, se a senhora tiver condições de me bancar novamente.

___ Filho! Que boa noticia, irei com você até a faculdade e destrancaremos sua matricula. Logo, logo, você estará enchendo sua mãe de orgulho.



Dias depois tudo começa a tomar novo ruma naquela casa. Agora Dona Ivanete reza pela perseverança do filho.

Num certo dia Dona Ivanete começa a se preocupar com a demora do filho que já estava atrasado mais de quatro horas de sua volta da faculdade. Romilda percebe a aflição da mãe que não se apartava do celular tentando ligar para o filho, fora de área ou desligado, eram as repetidas respostas. Dona Ivanete pensa consigo: não é possível que vai começar tudo de novo.

Três horas da manhã de sábado, o telefone toca.



___ Quero falar com algum familiar de Rafael, ...

___ Sou a mãe dele, pode falar, aconteceu alguma coisa com meu filho?

___ Ele foi encontrado caído entre as folhagens de um dos canteiros aqui na faculdade, acabam de o levarem para o pronto socorro no bairro.

___ Espere, o que aconteceu com ele, me diga por favor!

___ Eu não sei, já o achamos assim, desacordado...

___ Alô...

___ Alô, alô ...

___ que foi Dona Vanete?

___ Esta porqueira de telefone!



Pouco tempo depois, a mãe desesperada procura noticias do filho na portaria do hospital. Lhe pedem calma e informam que o rapaz está bem, no momento está no bloco de suturas e Raio X, pois parece que o rapaz ganhou uma surra daquelas.

___ Meu Deus, quem teria feito isto com meu filho?



Já no quarto, o médico recomenda ao jovem que fique tranqüilo, pois sua mãe chegou. Libera apenas cinco minutos para a visita, pois é importante que descanse para uma melhor recuperação.

Dois dias depois, já em casa Rafael fala para sua mãe que o querem obrigar a parar de estudar.

___ mas isso não existe meu filho, você é livre e o dinheiro é seu...

___ Não mãe, a coisa é mais complicada do que a senhora pensa.

___ eu não estou acreditando no que estou ouvindo!...

___ Mas é isto mesmo, mãe. Enquanto eu estava internado, um homem me visitou fora do horário das visitas e me disse que a corrente não pode partir sem que o elo seja todo despedaçado.

___ Meu Deus, isto é uma ameaça. Vamos a polícia, estes vagabundos não sabem com quem estão mexendo ...

___ Não é assim mãe, eu é que não imaginava o rabo de foguete em que estava me metendo. Se eu não continuar passando a droga nos pontos noturnos onde já me demarcaram, eles vão me queimar, é a lei do trafego.

___ Meu filho, de hoje em diante você não vai sair de casa, quero ver quem vai lhe fazer mal aqui dentro de casa.

___ Não é assim mãe, se eu não voltar, até a senhora estará correndo perigo, vou voltar porque não quero ver a senhora judiada ou morta.

___ Não meu filho, mudaremos daqui se for preciso.



Em poucos dias Rafael está novamente perambulando pelas esquinas, fazendo o serviço do trafego, já não usa mais drogas, mas, virou escravo da vida que um dia ele escolheu.

Sua mãe resignada agora cobra de Deus o por que daquele suplicio com seu filho, já não é mais usuário mas não pode largar o trafego. Orava com muita confiança:

___ Meu Senhor e meu Deus, em Vós espero e confio, vem depressa socorrer-me!...



Os meses passam e as orações continuam, só Deus poderá livrar seu filho desta vida que ele mesmo quer largar, mas é obrigado a viver.

Um dia após um grande tiroteio, os jornais publicam em edição extraordinária que a policia estourou o esconderijo do trafego e na troca de tiros foi morto o traficante conhecido como “mão de ferro”, que comandava os pontos nas redondezas dos grandes condomínios da cidade. Comunicam que os trabalhos serão intensificados até a completa desarticulação da quadrilha e seus pontos de vendas.



Na família de Dona Ivanete, reina a harmonia de um lar abençoado, onde não se esquece da benção divina, recebida:

“ Se Rafael não pode largar a montanha, Deus tira a montanha do caminho de Rafael ”





                                      Adilson Silveira

                                                                 Fevereiro de 2012.

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