segunda-feira, 16 de abril de 2012

CLEMENTE, VALENTIA E IGNORÂNCIA...



CLEMENTE, VALENTIA E IGNORÂNCIA...

___ Vê aquele menino que vai pras bandas da fazenda grande, se ele é bravo eu não sei, mas seu tio avô, eta homem esquentado.

___ Me conta velho, sobre este valentão.

___ Ele não era só valente não, era um homem de muita opinião e também de muita ignorância. Clemente, o nome dele era Clemente, da família dos Vegas, gente criada na fazenda grande. Certa vez o Clemente que sempre gostou de vir dar umas voltas aqui na cidade, quando chegava chamava sempre a atenção de todos, era um homem grande, sempre montado em animais pretos ou de cor bem escura, este era seu gosto. Mas, vai que um dia apareceu um outro visitante aqui na praça montado em um cavalo muito bonito, pretinho como carvão e de musculatura muito forte, o animal parecia um troféu, aí o Clemente se interessou pelo animal. Procurou o dono que estava ali na venda fazendo umas compras e perguntou se o animal era p’ra negócio. O homem disse que não, mas se o amigo estava interessado, conforme a proposta podia até mudar de opinião.

Aí eles mexeram um rolo e acabou o Clemente comprando o tal cavalo por um preço que dava para pagar até dois animais do mesmo porte. No outro dia bem cedo atravessou a rua, o moço montado em um cavalinho baio e puxando o cavalo preto pelo cabresto, ia entregar o cavalo a Clemente. Clemente soltou o animal num pastim assim na porta e tratou bem dele por três dias. Lá pelo quarto dia, ainda era bem de manhã ele falou: hoje eu vou dar uma volta na cidade e, é você quem vai me levar, quero ver se vale o que paguei ou não. Passou a mão no cabresto e foi pegar o cavalo, quando ele viu o homem com o cabresto na mão, começou a ficar fogoso, raspando o chão e se empinando, cada vez que o Clemente chegava a menos de uns dês passos dele, ele dava uma caminhadinha, procurando manter sempre uma distancia que impedia de ser laçado. Isto foi deixando o Clemente com raiva e foi piorando a cada vez que ele se aproximava e o danado fugia. Com muito custo o Clemente o laçou, mesmo assim só depois de prende-lo no curral. Botou os arreios e passou pra cima, o animal deu alguns pulinhos, mas logo se convenceu que quem mandava não era ele. Depois de passar varia horas na cidade, o Clemente voltou pra casa e soltou o animal no mesmo pasto, mas o advertiu: da próxima vez não quero ver gracinha, hem? O animal sai correndo e pinoteando, mostrando toda a alegria de estar solto novamente. Passam uns dias e Clemente resolve dar umas voltas novamente, tudo aconteceu como antes, o cavalo não o deixava se aproximar, agora parecia até rir da cara de seu dono ao relinchar, quando o tentava pegar. Clemente se enfezou tanto que disse ao animal, deixa ocê bobinho, vou te mostrar quem é que manda aqui. Entra em casa, passa a mão numa carabina que enfeitava a cabeceira de sua cama, conferiu as balas e prumou para o pastim onde estava o cavalo. Carabina no ombro e laço na mão direita, tenta novamente pegar o animal, mas agora sim é que o danado corria, a raiva subiu tanto que avermelhou as orelhas do homem, perdendo a cabeça, dá um tapa para traz no cabo da carabina, fazendo com que o gatilho já caísse em sua mão, num ato sincronizado o cabo da arma lhe sobe ao ombro, o olho se fecha e a bala rompe... teeii, o animal com o estampido deu um pinote e caiu de joelhos rolando sobre o próprio pescoço. Clemente entra chega em casa, havia um camarada trabalhando ali a terra, lhe pergunta: o que foi isto Clemente, porque deu um tiro? Ele responde: o que eu não pegar no laço pode estar certo que eu pego na bala.

___ É Velho, a ignorância deste homem parece coisa de filme, eu hem?

___ Insto não é nada, veja o resultado de uma rixa que ele arrumou com um valentão da região do Jacarandá.



Capitulo – II

VINGANÇA NO CEMITÉRIO



Clemente arrumou uma contenda com Ramiro, por ocasião de um enterro, foi na morte de sua tia, quando todos da comunidade, depois de acompanhar o enterro e o caixão já estava colocado na cova, algumas pessoas jogavam os últimos punhados de terra quando chegou o Ramiro, era um fanfarrão desrespeitador das pessoas e quando estava bêbado então, víxiii, punha todo mundo pra correr, empinando sua mula sobre as pessoas.

Este tal Ramiro entrô no cemitério sem se desapiar da mula e foi jogando o animal encima do povo que ali se despedia da defunta, e disse: já vai tarde.

Clemente avança contra Ramiro enquanto levava a mão no revolver, mas a multidão o segura pedindo pelo amor de Deus que não fizesse mais morte naquele dia. O homem bufou de raiva e disse: este desaforo minha tia não vai levar sem um troco. Ainda agarrado pelos amigos, ele fez uma jura... Ramiro safado, em respeito aos outros e minha tia que está no caixão te faço um aviso, no dia que eu te encontrar de novo, um de nos vai deixar de existir, trate de sumir se quer continuar vivo. Passam algumas semanas, certa manhã Ramiro chega cedo na cidade e parecia que já vinha com o diabo no corpo, pois já chegou bêbado, gritando e dando tiros pra cima como quem o mundo é dele. Clemente estava na fazenda e de lá ouviu uns tiros, vindo dos lados da cidade, logo chegou no pátio da fazenda uns colonos que conversavam apavorados entre si, e Clemente ouviu um deles dizer, ele só pode estar com o diabo no corpo. Por isto ele se aproximou deles e perguntou: de quem vocês estão falando, e cadê as compras que foram fazer? ... Um deles respondeu: seu Clemente, o Ramiro hoje ta doidim, tocando todo mundo dos armazém, só ele é que manda e se alguém abusar passa a mula encima ou manda bala, cruz- credo de um homem desses. Clemente respondeu: é assim que ta bom pra mim. Arreou seu cavalo e saiu depressa em direção á cidade, no caminho falou sozinho, é hoje tia que a senhora descansará sossegada. Chega na cidade procura por Ramiro, mas este já havia deixado a cidade, levado por um conhecido seu.

Clemente pergunta a um senhor ali parado? ... ouvi uns tiros, ele feriu alguém?

___ Não seu Clemente, desta vez ele levou o dele!

___ como foi isto?

___ Ele estava fazendo o maior fuzuê aqui na praça, entrando e saindo dos botecos sem nem ao menos se desmontar da mula, ele sempre respeitou o Zé Candido, mas parece que o capeta atentou e ele resolveu entrar na venda dele com a mula e tudo. Pendeu pra lá e mandou a mula sobre a causada, entrou montado por uma porta e cá de fora nos ouvimos um grito e em seguida vimos sua mula sair sozinha na oura porta. Corremos lá pra ver, no rosto de Ramiro já corria um fiasco de sangue, que brotava da cabeça e se misturava com o suor de seu rosto. Clemente quer saber como tudo aconteceu, foi até a venda do Zé Candido para saber melhor da estória, e ele contou: vai que eu tava aqui atendendo meus fregueses e via Ramiro fazendo suas “arruaças” lá fora, quando menos esperava ele virou sua mula pra cá e jogou o animal encima das causadas e logo já tava cá dentro da venda, dizendo que queria uma pinga, aí falei: espere que já te dou. Levei a mão aqui debaixo do balcão e pequei o ´´deixa disso`` e mostrei pra ele quem manda aqui dentro. Foi uma paulada só, ele caiu entre o balcão e a mula, que mais ajuizado que ele logo saiu correndo, enquanto o safado toda vês que apoiava no balcão pra se levantar, assim que a cabeça aparecia eu batia de novo, até que os fregueses para evitar que ele morresse, o levaram para fora da venda, o montaram na mula e o açoitaram para fora da cidade. Aí Clemente disse: esta eu perdi, mas ele vai voltar. Passou mais um tempo, aí chega a noticia que morreu um fazendeiro muito influente da localidade onde Ramiro morava e que Ramiro falou no velório que acompanharia o enterro fosse onde fosse. O corpo ia ser enterrado aqui no Morro da Garça, então Clemente prevendo a visita de seu inimigo, vai até o cemitério e falou para o coveiro que quando acabasse de abrir a cova do defunto de Jacarandá, abrisse outra e deixasse aguardando que ele ia arrumar alguém para a ocupar. Nesta noite Clemente se prepara, lubrificou as armas da cintura e também a carabina que ficava pendurada sobre a cabeceira de sua cama. Nesta tarde o sol se pos meio avermelhado, manchando todo o barrado do céu de uma cor que anunciava toda a angustia para as horas que viriam. Pingos de chuva naquela manhã tornaram macabra a visão do cortejo que vinha trazido por uma charrete com dois possantes animais puxando, um grande grupo de cavaleiros e pessoas a passos largos acompanhavam o corpo do fazendeiro. Passam rápido em direção ao cemitério e numa cerimônia rápida logo sepultam o respeitado defunto. Todos estavam nervosos e procuravam se manterem longe de Ramiro que também olhava a tudo com muita astúcia, para não ser apanhado de surpresa. Mas as ultimas pás de terra caem sobre a cova e nada do esperado acontecia, assim as pessoas foram se relaxando e se afastando para fora do cemitério, aliviados por Clemente não ter aparecido e os deixado sepultar em paz seu morto. A chuva começa a cair novamente, fazendo com que todos procurassem se abrigar como pudessem. Nisso Clemente saindo detrás de um tumulo mais elevado grita por Ramiro, dizendo: você não respeitou nossa dor na morte de minha tia, e não me deixaram te dar uma surra na hora, tanto pior, agora para mim só a surra não basta. Há uma outra cova aberta logo atrás de você e um de nos dois é quem vai a ocupar neste dia. Ramiro se vira e vê Clemente com a espingarda engatilhada e nos olhos de seu opressor, o brilho da morte demonstra que tudo tinha que ser resolvido ali. Ramiro já prevendo o que aconteceria grita seus companheiros e começam a atirar.

Clemente só tinha um alvo... Ramiro... e, a primeira bala de sua carabina perfura o meio da testa do seu oponente. Que num urro mortal é jogado para trás, caindo quase todo dentro da cova que aguardava o fim da contenda.

Seus dois amigos atiradores dispararam ao mesmo tempo, cravando uma bala na barriga e outra na coxa de Clemente, que caiu para trás no impacto das balas.

Os dois homens olham Ramiro já morto com um tiro tão certeiro, amedrontam e resolvem abandonar a briga. Correm em direção ao muro do cemitério, mas um deles, antes de o alcançar, ouve o estampido e nesta hora a formigada nas costas lhe altera o compasso do coração, jogando-o de cara no muro.

Mais dois tiros ecoaram, mas o outro oponente já havia alcançado o muro e como um pássaro, iça um vôo desajeitado em busca da vida que teimava em esvair pelos furos das balas trinta e oito de Clemente.

Acabando a matança eu e outros amigos, fomos acudir o coitado do Clemente, que ainda estava debruçado sobre um túmulo, com uma mão na barriga, na outra mão um trinta e oito cuspindo fumaça e os olhos bem atentos a novas surpresas.

O levamos pra fazenda grande e lá cuidamos dele enquanto um cavaleiro saia a galope até Curvelo em busca de um medico que o pudesse curar. Meu filho, já vi um homem sofrer! até que um carro chegou trazendo o medico, este homem passou por maus lençóis, tinha hora que a dor era tanta, que pelo buraco da bala na barriga vazava a ponta de suas tripas, mas ele resistiu, ficou manco da perna alvejada, o que o atrapalhava muito a montar e vez em quando sentia fortes dores no estomago. Acho que é uma das balas que o medico não conseguiu tirar.



Adilson Silveira

Setembro 2010.

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