sexta-feira, 9 de julho de 2010

O MATADOR DE DRAGÕES

O MATADOR DE DRAGÕES
Adilson Silveira/ 2005


Um dia um velhinho me contou uma estória muito interessante,
sabe? Ele disse que tem duzentos e trinta e três anos...
isto só que ele mora aqui no Morro, porque na verdade ele tem mais de seiscentos anos.

Ele me contou que quando era jovem, foi caçador de dragões.

Depois de matar muitos dragões enormes na região onde nasceu ficou sabendo que num lugar chamado Garças, isto mesmo! Garças, este era o nome da nossa cidade a centenas anos atras. Ele me garantiu que aqui em Morro da Garça havia um enorme dragão, e como ele só matava dragões grandes então veio correndo para cá, lógico, montado em seu cavalo branco que é a melhor cor de cavalo para quem mata dragões.

Ele me disse que quando chegou aqui, isto tudo era uma grande planície, com muitos córregos e um rio bem largo escondido no meio da mata. Então ele seguiu a margem deste rio até encontrar uma grande árvore, ela era tão grande e antiga que suas raízes brotavam para fora da terra formando varias conchas. Ele pensou assim:
_____ Que árvore esquisita, tem as folhas grandes e suas raízes formam grandes bacias que mais parecem uma gamela, é isto, vou chama-la de gameleira, e vou ficar morando aqui, junto a ela, porque assim não corro o risco de ser atacado por dragões, todo mundo sabe que eles têm medo de chegar perto da água para não apagar seu fogo e assim não poderão mais atacar ninguém, nem colocar fogo nas roças de milho, arroz ou feijão.

Ele me disse também que colocou o nome no rio de Bicudo, isto porque toda vez que sentia cede, tinha que pegar um canudo de folha de mamona ou mamão, colocar na boca para chupar a água e assim matar a cede, pois no rio tinha muita qualidade de peixes e muitos deles eram carnívoros.

Contou-me que ficou muitos dias na copa da árvore, esperando que o dragão aparecesse, quando de repente, um clarão em uma lavoura de milho lhe despertou a atenção e ele gritou:
_____ É o fogo, o fogo do dragão! Vamos Nevada! (este era o nome do cavalo, porque era branco como a neve), vamos enterrar este malvado, queimador de tudo que vê.

Saiu correndo em seu cavalo em direção ao fogaréu, e, quando chegou no campo em chamas, o dragão se escondeu no meio da fumaça, ele sabia que eu era caçador de dragões.Então fiquei correndo em roda com meu cavalo que já estava acostumado com estas brigas e estava-mos prontos para apagar aquele fogo.

Aí, ouvi um barulhão de asas, e quando olhei para cima, lá estava o dragão, era dos grandes mesmo, batia suas asas fazendo as chamas se aumentarem com os redemoinhos que de propósito formava.

Quando eu olhei nos olhos dele o danado abriu a boca que mais parecia um bico de bule velho, daqueles bem grandes e cuspiu uma bola de fogo na minha direção.

O meu cavalo que era ensinado e adorava brigar com dragões, nesta hora, deu uma refugada, e saiu de banda desviando da bola de fogo, aí eu dei o meu grito de guerra!

MATADOR... AVANTE!!!!!

Nesta hora nasceram duas grandes asas brancas em meu cavalo e ele deu um vôo em direção ao dragão, aí a briga ficou ainda melhor, ele me cuspiu duas bolas de fogo, uma atras da outra, fazendo com que meu cavalo se virasse rápido e desse um coice nas bolas de fogo, jogando-as contra o próprio dragão. Acertando em cheio, fazendo-o experimentar seu próprio veneno.
O fogo pegou na sua barbicha e queimou seus olhos deixando-o cego para sempre.

Ele ficou mais bravo ainda e começou a cuspir fogo em todas as direções, parecia que queria por fogo no mundo todo.

Então para evitar que ele queimasse o Brasil eu fui obrigado a lhe dar o golpe final.
Fui para cima dele com meu cavalo alado e ele lhe deu um coice tão grande em direção ao chão que quando ele bateu na terra, ela se abriu, engolindo a fera.

Mas eu sabia que dragão tem nove vidas e para garantir que ele nunca mais vai se levantar.
Desci de meu cavalo e pequei minha pá com cabo de prata cravejado com unhas de tatu que sempre trago comigo e comecei a cavar a terra, jogando encima da cova com o dragão ainda jogando fogo pra todo lado.
Aos poucos o fogo foi se apagando e o dragão por fim ficou enterrado, mas como ele era muito grande e forte, eu precisei fazer um mote de terra enorme encima dele fazendo um grande morro,

cavei tanta terra que de repente criou uma nascente no buraco formando uma grande lagoa ao lado do morro e atraído pelo frescor das águas, vieram as garças mais brancas que já vi e ali fizeram seus ninhos e reproduziram em grande quantidade.

Dizem que, muitos anos depois, veio um fazendeiro para cá e observando o grande bailado das garças ao redor do morro, se encantou e aqui fundou uma cidade, lhe colocando o nome de MORRO DA GARÇA.

Então eu perguntei ao velhinho se o dragão realmente está morto, e ele me disse o seguinte:
_____ Morrer ele ainda não morreu, mas está bem preso debaixo do morro. De vez em quando ele solta uma cuspida de fogo que sai flutuando de um ponto a outro, iluminando os cerrados e assustando as pessoas com intenção de me acertar para se vingar da surra que lhe dei.

Foi assim então que eu entendi o aparecimento da misteriosa luz que vez ou outra voa vagando do morrinho ao tope do morro, chamuscando as cercas quando rola de poste em poste queimando a causando pânico às pessoas.

Pergunto- me?
Será verdade que a lagoa, chamada de Lagoa Assombrada é a mesma que o velhinho cavou para enterrar o temível dragão?

Adilson Silveira / l2 - 05 – 2005

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