Arruma as traias mulher
fim de semana nós vamos pescar,
tenho tudo combinado
com o compadre Ademar.
Vamos levar também os meninos
pra não ficar preocupação,
bateremos anzol por três dias,
leva arroz, tempero e feijão!
Com a carne, não se preocupe
das águas nós vamos tirar
pescado fresco, da hora,
pra pinguinha acompanhar.
A comadre Ana, também vai
acompanhando o Ademar,
levarei também o zezinho
pois na pescada, melhor não há.
Quando foi na quinta-feira,
logo cedo, os pescadores seguiram,
todos em uma carroça
com toda a traia que levava,
levaram alimentos para três dias
e a cachaça não faltava.
O cavalinho choteava
parecia sentir prazer,
mesmo levando peso,
seus passos, eram quase um correr.
A mulher do totônho indagou
o local da pescaria,
o Ademar lhe respondeu:
____Desta vez você vai gostar,
na lagoa tem peixes acumulados
pois ninguém lá vai pescar.
É a lagoa do finado Afonso
do outro lado da passagem
desde que ele morreu
na lagoa, ninguém faz paragem
contam de lá muitas coisas
mas em nenhuma eu acredito ,
só creio no que vejo
e não no que está escrito.
Na hora um vento frio
por todos eles passou ,
não seria um mau presságio
pois nenhum deles ligou.
Seguiram alegre o caminho
que levava rumo à lagoa,
contavam casos e riam muito
tomando uma pinga da boa.
Por volta das nove horas
daquela manhã lá estavam,
acampados na beira das águas
e as primeiras redes armavam.
Logo então alguns peixes
no anzol também saiu,
fartando a mesa do almoço
que alegre Ana serviu.
As crianças brincavam na grama
enfrente ao rancho improvisado,
na lagoa os homens pescavam
esquecidos de um assunto passado
... É que o dono destas terras
há muito que já morreu,
sentindo-se acuado por um caso
que com ele sucedeu.
Não aquentou a vergonha
que este caso causou,
pensou então sua vida
e um plano traçou:
_____ O remorso me coroe
pelo mal que a minha filha fiz,
estraguei a minha vida
e ela nunca mais será feliz
pois em meio a sua adolescência,
sua inocência desfiz.
Findarei a minha vida
pois não mereço mais viver,
peço a Deus que me perdoe
pelo que pretendo fazer...
No outro dia bem cedo
o seu corpo foi achado ,
pendurado a uma corda,
tinha o pescoço quebrado.
Vou pegar lenha, disse Osmar aos amigos
pois a noite vai chegar
vamos fazer uma fogueira
pra todos nós se esquentar.
Já envolta das chamas ardente
aquele grupo se sentou ,
contavam casos e bebiam muito
e do falecido se lembrou.
Como que em resposta ao chamado
uma grande gargalhada se ouviu,
parecia que vinha do mato
outra hora do meio do rio
A mulher então exclamou:
_____ Homem, você ouviu?
esta risada espantosa
que me causou arrepio.
Vocês falam em gente que já morreu
isto não é coisa que se faz,
devemos viver nossos momentos
e deixar os mortos em paz..
Todos fizeram silencio
pensando no que seria,
aquela risada no mato
em uma noite tão fria.
Nisso então o zezinho
já quase bêbado gritou:
_____ Se for gente vem pra cá!
Se és morto, com medo não estou.
Aí então a risada
novamente se ouviu,
vindo em direção ao fogo
causando mais arrepios.
As mulheres agarraram os meninos
e começaram a rezar,
os homens, alto gritaram,
se és defunto, pode voltar.
A risada para de repente
e todos ficam aliviados,
nisso um forte chute na fogueira
joga brasas pra todos os lados.
O susto agora foi tanto
que de costas uns até caíram,
as chamas subiram de repente
e a risada novamente ouviram.
Seu Osmar ficou nervoso
nesta hora ele gritou:
___ Some daqui, branco safado
vai assustar quem te soltou.
A mulher pediu para ir embora
mas os homens estavam irados,
daqui não sairemos, não vamos voltar
sem levarmos os nossos pescados.
Parece que a bronca deu certo
pois na hora tudo acalmou,
não se ouvia nenhum barulho...
mas, o silêncio também assustou.
Todos estavam apreensivos
com medo do que poderia acontecer,
nisso ouviram o relincho do cavalo
que sozinho começou a volver.
_____Veja Osmar, o cara agora tá pegando o cavalo,
o que será que ele vai fazer?
Viram o cavalo, ser arreado a carroça,
sem da assombra poder correr.
O vagabundo está roubando nosso cavalo
vamos logo dele tomar,
mas nesta hora ouviu uma forte risada
e o cavalo começou a marchar.
Correram em direção à lagoa
não deram conta de pegar,
o cavalo entrou nas águas
com a carroça a puxar.
O zezinho gritou em desespero
____ O safado quer matar o cavalo!
Vai atolar a carroça
e o pobre animal morrerá afogado.
Ma a turma abismada viu
da beira da lagoa, o cavalo nadar,
atravessou arrastando a carroça
e do outro lado chegar.
A risada se tornou mais forte
e um vento com ela veio,
um redemoinho se formou no acampamento...
aí, o povo viu o que é feio.
As panelas caíram no chão
por todo o pasto se espalhou,
o rancho foi arrancado,
nem um pau ali ficou.
Todos ficaram pensando
o absurdo que a assombra fez,
Assim que raiou o dia
tiveram então que voltar
não tinham nenhuma comida
e nem peixes para mostrar.
Hoje estando sóbrios e em casa
Nem do caso querem lembrar,
Ficam todos arrepiados
Quando alguém vem perguntar,
Pela pesca na lagoa do Afonso
Lugar assombrado, este é um, pode apostar.
Adilson Silveira
20/03/2005
“Esta estória é mera ficção, qualquer semelhança com pessoas ou fatos da vida real, é mera coincidência”
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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