quinta-feira, 23 de julho de 2009

JUVENTUDE INTERROMPIDA

Não meu filho, é melhor você não ir.
Assim dizia a mãe tentando convencer o filho a não ir a uma festa religiosa, em uma comunidade ali próxima.
O tempo ta muito frio... e este povo não tem horário para voltar. É melhor você ficar com a mamãe.
Mas o menino empolgado com o convite do irmão, o mais velho da casa e sabendo que outros colegas seu irão, insiste com sua mãe que não se importava com o frio, queria mesmo ir.
A condução para no pátio da igreja, eufóricos todos descem e aquele jovem observa a paisagem ao redor. Fica vislumbrado com o lugar que abriga a pequena igrejinha erguida em louvor a Nossa Senhora. Firmando a vista mais longe percorre os cerrados percebendo pés de pequis, araticuns e em meio a arrueiras a vegetação do cerrado. Em frente a igreja uma área bastante grande exibia uma grama comum, muito verde, que se contrastava com o branco da capela, enquanto a seu lado, um estaleiro equilibrava um sino de bronze na ponta de uma corrente mascada pela corrosão do tempo. Olha mais em volta e vislumbra-se com as luzes da barraquinha, onde uma estrutura bem típica da roça, mostra vários conjuntos de mesas com cadeiras alinhadas, prontas para receberem as pessoas que nesta hora estavam no interior da igrejinha, assistindo a santa missa. No pátio perto da barraquinha, inúmeros carros, motos e até mesmo três charretes de alguns sitiantes ali de perto. O menino se caminha para a igreja, mas não entra, fica parado recostado ao portal de onde deu uma rápida olhada no interior da singela casa de Deus. Logo voltava sua atenção para o movimento no interior da barraquinha. A noite se aproxima rápida e junto com ela um barrado avermelhado na linha do horizonte, o faz lembrar de sua casa, quando da varanda, observava o dia se acabando com este mesmo efeito, ouvia sempre sua mãe dizer: entra e feche a casa que esta noite vai ser muito fria. Acaba-se a missa, e como num passo de mágica, em poucos minutos os lugares da barraquinha são ocupados pelos freqüentadores do culto ali celebrado. O som ligado alto, fazia as pessoas conversarem sempre próximas ao ouvido das outras. O adolescente caminhava em torno da festa, vislumbrado com a alegria que emanava daquela gente simples, ali presentes em busca de diversão. O barulho de mais carros e motos chegando o faz perceber que o negro da noite agora queria ocupar todo o espaço que antes a luz do dia cobria, respeitava somente as luzes da barraquinha, que as vezes pareciam até piscarem embaladas pela potencia do som que animava a festa. Aonde parecia não caber mais ninguém, a cada instante se enchia mais e mais, pois a luz de motos e carros chegando, riscavam a escuridão da noite vindo em direção à festa. Horas alegres passam, agora pouco a pouco as famílias se levantam, despedem muito alegres e seguem para seus carros, felizes com a harmonia daquela noite. Percebe que os motoqueiros não param de chegar, agora porem estes que chegam, imbicam suas motos quase dentro da barraquinha e antes de as desligarem, aceleram forte, mostrando a potencia em que estão montados. Adentram a barraquinha conversando sempre entre si, parecem não verem as pessoas que ali ocupam o mesmo espaço. Suas atitudes são de animais enlouquecidos, não se acomodam em nenhum lugar, sempre inquietos e conversando o mais alto que podem, chegam a incomodar outras pessoas, que mudam de lugares ou se levantam e vão embora.
Um alvoroço se forma pelos lados dos banheiros, alguém grita: é briga, é briga...
A musica alta encobre a confusão, e aparentemente tudo se acalma. Quando ninguém mais se preocupa, o disparo de um revolver rompe a barreira da musica, enquanto gritos de horrores quebram a harmonia do lugar. Por instinto todos se levantam empurrando mesas e cadeiras, o desespero aumenta ao se ouvir mais dois tiros. Olhos incrédulos se estarrecem ao ver o corpo caído na linha perimétrica da barraca, o barulho de uma moto em retirada deixa um cheiro forte de poeira no ar. Aquela noite escura e fria, jamais será esquecida. Enquanto mãos amigas acodem o infeliz, o sangue já banhava a terra, marcando tragicamente aquela noite festiva. Vozes pesarosas exclamavam: meu Deus, ele é apenas uma criança... petrificado, o irmão mais velho só conseguia chorar, enquanto pensava: como contar para minha mãe que mataram meu irmãozinho.
Mas a noticia rasga o frio da noite e chega à sua mãe... seu sofrimento é tanto que roubou minha capacidade de descreve-lo nesta crônica.
A dor da mãe, também ainda doe em mim ...


Adilson Silveira-
- Julho de 2009-

2 comentários:

  1. Olha, Meu colega Adilson, realmente as suas Histórias são maravilhosas, com certeza ao ler cada uma delas nos fazem emocionar bastante;mas sem dúvidas que esta é uma das histórias que fazem agente parar e refletir sobre a vida. A vida com certeza ém um Dom que Deus nos deu. A minha opinião é que nada no mundo justifica um ser Humano tirar a vida do outro, seja o motivo qual for ou melhor não existe motivo algum para colocar em prática uma barbaridade desta. Com certeza neste dia não só a família deste pequeno jovem sofria tamanha dor e sim todos nós.

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  2. Olha, Meu colega Adilson, realmente as suas Histórias são maravilhosas, com certeza ao ler cada uma delas nos fazem emocionar bastante;mas sem dúvidas que esta é uma das histórias que fazem agente parar e refletir sobre a vida. A vida com certeza ém um Dom que Deus nos deu. A minha opinião é que nada no mundo justifica um ser Humano tirar a vida do outro, seja o motivo qual for ou melhor não existe motivo algum para colocar em prática uma barbaridade desta. Com certeza neste dia não só a família deste pequeno jovem sofria tamanha dor e sim todos nós.De sua colega - Cristiane.

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