terça-feira, 10 de maio de 2011

EXPERIMENTANDO A ESPINGARDA (ADAPTADO)

__ Olha compadre, a espingarda que eu comprei!
Dizia todo feliz o senhor Lorenço ao seu compadre Joaquim, enquanto lhe exibia uma polveira que havia adquirido de um outro caçador que mora nas terras altas entre as montanhas, lá nos fundão dos gerais.
___ Mas compadre Lorenço, o senhor fez uma compra boa deveras, esta espingarda está como nova! Vamos faze o seguinte, vamos exprementar logo este trem, pra ver se ela é boa mesmo.
___ Mas compadre, eu não tenho nada pra dar tiro aqui comigo.
___ Larga disto, sô, aqui em casa tenho tudo, se assenta que eu vou lá dentro buscar.
Assim o Senhor Joaquim vai á dispensa buscar os apetrechos para poderem experimentar a polveira, tava doidim para escutar o tiro.
___ Olha compadre, é melhor nos irmos lá pra fora, pra fazer uma carga boa nesta bichinha e ver se valeu seu dinheiro.
Vão os dois porta a fora e param sob a sombra de um antigo pé de manga.
___ Oia compadre Lorenço, se acomode aí neste toco de pau, aqui ta a pólvora, a palha pra bucha e chumbo médio, carregue esta belezura que eu vou fazer meu cigarim de cá.
Então Lorenço acomoda a espingarda entre as perna e lhe coloca um traço de pólvora, o Joaquim lá..., fazendo seu paiero. Então Lorenço que já havia mascado um pouco da palha para amaciar a bucha, a tira da boca e quando vai coloca-la no cano, seu compadre lhe fala.
___ Espera aí compadre, esta pólvora está muito pouca, isto só vai dar um tirinho...
___ Mas compadre, este tanto ta bom demais, é o normal sô...
___ Não compadre deixa de ser mão de vaca, coloca mais pólvora nesta espingarda sô, vamos fazer um tiro bão, daqueles que dá pra ouvir lá pras bandas da casa dona zifinha.
___ Oia compadre, este trem vai ficar forte demais...
___ Ce besta sô, pode dobrar esta pólvora.
Então o Lorenço coloca outra talagada de pólvora, prepara a bucha e comece a socar com a vareta para dar firmeza na pólvora. O Joaquim ta lá, enrolando seu cigarinho, mas de olho. De quando em quando falava: encarca bem esta pólvora que eu quero ouvir um tirão. Depois da bucha da pólvora já bem prensada, Lorenço começa e colocar o chumbo, já ia parando quando o Joaquim falou:
___ Mas só este tiquim de chumbo compadre, pode por mais chumbo neste trem, só isto não vale de nada, senão como nos vamos ficar sabendo que a espingarda é boa!
O Lorenço dá um balançado nos ombros e lá vai mais chumbo, depois de colocar a bucha e socar bastante a vareta, pegar a espingarda nos braços, lhe levanta o cão e coloca a espuleta, daí, abaixa o cão bem devagar para melhor assentar a espuleta e passa a espingarda pro compadre Joaquim.
___ Toma compadre, pode detonar, porque eu não tenho nem coragem.
___ Que isto compadre, ocê ta doido, eu só quero ouvir o estrondo da bicha, eu hem...
___ Mas foi o senhor que mandou eu por muita carga, agora o senhor atira...
___ Nem pensar compadre, eu não conheço esta espingarda, vai que ela não aquenta... tô fora...
___ Então nos temos que arrumar um para detonar este tiro.
Nisto acaba de chegar para uma visita um tal de Raimundo, um homem de meia idade, também é caçador, mas não escutava nada dos ouvidos, tinha ficado surdo desde que foi atacado numa caçada por uma colméia de abelhas brabas do cerrado. Então Joaquim acena e faz muito movimento para chamar a atenção de Raimundo, ele percebe os dois homens debaixo da mangueira e se dirige para lá, atendendo o chamado dos dois caçadores.
___ Vem cá Raimundo, dá um tiro aqui pra nos, exprementa aqui pra nos vermos o tiro.
Depois de muito gesticular os dois homens fizeram o surdo entender que queriam apenas que ele desse um tiro com aquela espingarda. O pobre pega a espingarda com cuidado, levanta a coronha na altura do ombro vira pra o tronco do pé de manga e rasta o dedo. A espingarda deu um tiro tão bem forte e formou um fumaceiro branco na hora que cobriu todos os três caçadores. Quando a fumaça se desfez no ar e deu para os homens se enxergarem, aí viram o mudo com os braços esticados e segurando a espingarda deitada na palma das mãos, com uma cara de decepcionado lhes disse:
___ Ué, a espingarda mascou?


Adilson Silveira
03 - 2011

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