sexta-feira, 4 de março de 2011

A CAÇADA DA ONÇA...

___ É pedreira!...
___ Que isto, tu estas chorando só de ver o rasto da onça.
___ É compadre, mas desta vez o pé parece ser grande demais.
___ Calma, compadre, para que serve estes dois trabucos que nos estamos trazendo? Isto não faz so barulho não, isto mata sem base!
___ Mas pra matar é preciso ter tempo de atirar. E se o bicho não der folga?
___ Uai, nos somos dois, enquanto ela aperta um, o outro passa o burraio nela.

Assim vai os dois compadres conversando pelo caminho e de olho em tudo que se movia. Qualquer movimento no mato ou barulho de algo, era caminho para a mira das armas. Assim os dois chegam ao final do mato á beira um poção d’agua, que é a bebida de todos os animais daquele capão. Abrindo as folhas para olhar com cuidado, um compadre fala:
___ olha compadre, o bicho está ali, bebendo água que dá gosto. Desta vez ela não escapa.
___ cuidado compadre, não deixa ela te ver, hem!
___ Sorte nossa que o vento está soprando do lado de lá para cá, senão ela já teria sentido nosso cheiro e já tinha corrido, esse bicho, rumm!
___ olha compadre desta vez ela não nos escapa, faz o seguinte o senhor rudeia o mato e vai do lado de lá, porque se ela dê de fugir, ela irá pro seu lado ...
___ cruz- credo.
___ Aí compadre, o senhor lhe mostra como se atira, com estes cartuchus, só com o barulho já é capaz dela morrer.

Assim o compadre vai silencioso e sorrateiro como um gato que fareja a caça. Do lado de cá da lagoa, o compadre calcula o tempo que o companheiro levaria para chegar do outro lado e se posicionar. Astuto está sempre ali, de olho na fera, que com a calma do ambiente nem suspeita que estão tramando seu fim, coitadinha, se tudo der como os caçadores pensam, será fatal para o felino.
O compadre quando completou a volta, não contava que estaria a favor do vento, que rapidamente levou seu cheiro direto nas narinas da onça, com o olfato bem apurado, sentindo o cheiro de homem, percebe o perigo que corre. Levantando-se rapidamente, dá um rugido e se prepara para fugir. O compadre que já estava com a onça na mira, não perdeu tempo, quando viu que a onça ia embora, fechou um olho e apertou o gatilho, nesta mesma hora o outro compadre que tinha dado a volta para cercar a onça, percebeu que tudo ia dar em nada, pois o bicho o havia percebido e já estava leve nas pernas para cair no mato... se apruma depressa, se prepara para também dar um tiro. Seu compadre já havia disparado e num relance vê seu parceiro se levantar bem na frente da mira de seu trabuco que já tinha queimado a espuleta e detonado o tiro. O desespero foi enorme:
____ É divera, a onça acaba de saltar e a bala vai chapar em cheio meu compadre que ficou na mira.

Na esperança de salvar seu compadre o caçador leva a mão na boca da espingarda que já estava com a bala viajando dentro do cano, tampa sua saída com a palma da mão e grita apavorado:
___ sai fora compadre, já detonei e lá vai o tiro.
Enquanto a onça já levantava os pés do chão alertado pelo grito, cai na margaça e deixa os dois homens resolvendo o rolo que eles tinham armado.
O compadre vê o outro com a mão na boca da espingarda que já estava até gorfando para soltar a bala, mas não podia sair porque o cano estava tampado pela abençoada mão do compadre, aí ele se abaixa rapidamente e o compadre tira a mão do cano da espingarda que cospe a bala fazendo mil.
Aí ele falou pro compadre que assoprava a mão aquecida pela bala:
___ Hêe cumpadre, se o senhor não é esperto para tapar a bala, nesta hora quem tava com o coro furado era eu.
Hêee diacho! Sô...




Adilson Silveira
Estórias fantásticas
02-2011

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