segunda-feira, 16 de abril de 2012

APRISIONADO NA DROGA




Insistentemente e com muita força alguém bate à porta, este barulho se confundia com o som da maçaneta que girava tentando abrir rapidamente a porta. A empregada aparece apressada na sala para atender o chamado, mas chegara atrasada, pois a dona da casa sabendo de quem se tratava, adiantou-se e veio abrir a porta. Enquanto a destrancava, falava com vos de proteção e carinho:

___ Calma filho, Calma filho...

Como um furacão, seu filho adentra a sala, sem o menor caso a quem lhe havia aberto a porta. Vai direto para o seu quarto e desordenadamente vasculha seus pertences a procura de algo.

___ O que estas procurando filho? ...fala que te ajudo a achar!



Calado tava, calado ficou, ate que encontrou algo, o coloca rapidamente no bolso e sem uma palavra sai novamente em direção à rua.

Sua mãe o chama, mas está como que em transe, nada responde.



___ Sem querer me intrometer Dona Vanete, a senhora ainda vai perder seu filho pras tal drogas, cuida dele!

___ Romilda, o que posso fazer? depois que seu pai saiu de casa, parece que ele ficou mais rebelde. Ainda me xinga como se eu tivesse culpa dele ter ido embora, o pior é que não tem paradeiro e quer eu dê conta de onde seu pai está.

___ Quer saber de uma coisa Dona Vanete? A senhora vai ter que rezar muito para ele, para o anjo da guarda dele...

___ Hora! Romilda, quanto mais eu rezo mais sombração me aparece.

___ Me desculpe Dona Vanete, minha avó sempre me ensinou que a fé remove montanhas, eu acho que ela não mentia não, que Deus a tenha, coitadinha.

___ Me convenceu Romilda, Vou passar a ir na igreja e você vai ter que ir comigo.

___ Isto não vai ser problema não, Dona Vanete, mas me diga, em qual igreja a senhora vai?

___ Nos vamos na igreja do tal Edim Macedo, lá na tal Reino de Deus o povo é mais granfino e alinhado.

___ Nada disso, Dona Vanete, se eu tenho que ir com a senhora na igreja, só vou se for na católica, porque lá Deus não liga pra roupa da gente.



A partir daquele dia, por volta das quatorze hora, lá estava as duas, imbuídas na mesma oração, rezavam pela salvação do jovem rebelde. Atenta nas missas de domingo, prestava tanta atenção nas leituras e homilia que o padre fazia, que quase as conseguia decorar. Seu filho percebeu que sua mãe estava mais serena, e saia todos dias para a igreja. Numa certa manhã, ainda na mesa do café, certamente com os sentidos mais apurados o jovem resolve perguntar à mãe porque ela agora ia tanto na igreja.

___ Meu filho, estou em fervorosa penitencia em busca de solução para tantos problemas que tenho aqui em casa. Tenho fé que Deus vai me mostrar um caminho, um novo rumo para nossas vidas, já que seu pai resolveu nos abandonar e nunca mais deu noticias, com fé em Deus vamos vencer esta etapa de nossas vidas e encontraremos a união e a felicidade novamente.

___ A senhora pode rezar para a senhora, porque eu sei muito bem o que estou fazendo.

___ Ta bom meu filho, Deus saberá como agir.



Depois que o filho sai da mesa e vai para seu quarto, Dona Ivanete cai de joelhos e agradece a Deus a lucidez em que seu filho se encontra, diz para si mesma: insto é graças de Deus. A tarde, na igreja, sentindo a presença de Deus em suas vidas, suas orações são acompanhadas de lagrimas emocionadas de uma mãe que vê seu filho se libertando.



___ Obrigada Senhor, por vossa compaixão, obrigada.



Nesta noite o filho não saiu para as ruas, ficou em casa revirando as coisas de seu quarto, porta fechada e o som ligado bastante alto, mas reinava um clima de harmonia.

Amanhece o dia, na mesa do café o filho pergunta a mãe se a mesma tem um dinheirinho sobrando. Um sentimento de fracasso toma conta de Dona Ivanete, com certo grau de irritação ela responde:

___ Meu filho, já falamos sobre isto, eu não tenho dinheiro para sustentar seus vício...

Abaixando a cabeça e ameaçando a sair da mesa ela fala baixinho consigo mesma:

___ Estava bom demais para ser verdade!

___ Espere mãe, não é o que a senhora está pensando, eu estava revirando meus cadernos e pastas, aí decidi, quero destrancar a matricula da faculdade, se a senhora tiver condições de me bancar novamente.

___ Filho! Que boa noticia, irei com você até a faculdade e destrancaremos sua matricula. Logo, logo, você estará enchendo sua mãe de orgulho.



Dias depois tudo começa a tomar novo ruma naquela casa. Agora Dona Ivanete reza pela perseverança do filho.

Num certo dia Dona Ivanete começa a se preocupar com a demora do filho que já estava atrasado mais de quatro horas de sua volta da faculdade. Romilda percebe a aflição da mãe que não se apartava do celular tentando ligar para o filho, fora de área ou desligado, eram as repetidas respostas. Dona Ivanete pensa consigo: não é possível que vai começar tudo de novo.

Três horas da manhã de sábado, o telefone toca.



___ Quero falar com algum familiar de Rafael, ...

___ Sou a mãe dele, pode falar, aconteceu alguma coisa com meu filho?

___ Ele foi encontrado caído entre as folhagens de um dos canteiros aqui na faculdade, acabam de o levarem para o pronto socorro no bairro.

___ Espere, o que aconteceu com ele, me diga por favor!

___ Eu não sei, já o achamos assim, desacordado...

___ Alô...

___ Alô, alô ...

___ que foi Dona Vanete?

___ Esta porqueira de telefone!



Pouco tempo depois, a mãe desesperada procura noticias do filho na portaria do hospital. Lhe pedem calma e informam que o rapaz está bem, no momento está no bloco de suturas e Raio X, pois parece que o rapaz ganhou uma surra daquelas.

___ Meu Deus, quem teria feito isto com meu filho?



Já no quarto, o médico recomenda ao jovem que fique tranqüilo, pois sua mãe chegou. Libera apenas cinco minutos para a visita, pois é importante que descanse para uma melhor recuperação.

Dois dias depois, já em casa Rafael fala para sua mãe que o querem obrigar a parar de estudar.

___ mas isso não existe meu filho, você é livre e o dinheiro é seu...

___ Não mãe, a coisa é mais complicada do que a senhora pensa.

___ eu não estou acreditando no que estou ouvindo!...

___ Mas é isto mesmo, mãe. Enquanto eu estava internado, um homem me visitou fora do horário das visitas e me disse que a corrente não pode partir sem que o elo seja todo despedaçado.

___ Meu Deus, isto é uma ameaça. Vamos a polícia, estes vagabundos não sabem com quem estão mexendo ...

___ Não é assim mãe, eu é que não imaginava o rabo de foguete em que estava me metendo. Se eu não continuar passando a droga nos pontos noturnos onde já me demarcaram, eles vão me queimar, é a lei do trafego.

___ Meu filho, de hoje em diante você não vai sair de casa, quero ver quem vai lhe fazer mal aqui dentro de casa.

___ Não é assim mãe, se eu não voltar, até a senhora estará correndo perigo, vou voltar porque não quero ver a senhora judiada ou morta.

___ Não meu filho, mudaremos daqui se for preciso.



Em poucos dias Rafael está novamente perambulando pelas esquinas, fazendo o serviço do trafego, já não usa mais drogas, mas, virou escravo da vida que um dia ele escolheu.

Sua mãe resignada agora cobra de Deus o por que daquele suplicio com seu filho, já não é mais usuário mas não pode largar o trafego. Orava com muita confiança:

___ Meu Senhor e meu Deus, em Vós espero e confio, vem depressa socorrer-me!...



Os meses passam e as orações continuam, só Deus poderá livrar seu filho desta vida que ele mesmo quer largar, mas é obrigado a viver.

Um dia após um grande tiroteio, os jornais publicam em edição extraordinária que a policia estourou o esconderijo do trafego e na troca de tiros foi morto o traficante conhecido como “mão de ferro”, que comandava os pontos nas redondezas dos grandes condomínios da cidade. Comunicam que os trabalhos serão intensificados até a completa desarticulação da quadrilha e seus pontos de vendas.



Na família de Dona Ivanete, reina a harmonia de um lar abençoado, onde não se esquece da benção divina, recebida:

“ Se Rafael não pode largar a montanha, Deus tira a montanha do caminho de Rafael ”





                                      Adilson Silveira

                                                                 Fevereiro de 2012.

DESCOBRINDO A CIÊNCIA ...

DESCOBRINDO A CIÊNCIA ...


Certa vez no sertão, o caboclo parou para olhar a lua,

Olhava , olhava; olhava ...

percebeu que a lua estava se movendo

___ vem cá mulher... mas vem correndo,

quero te mostrar um mistério no céu,

vem logo, você não sabe o que está perdendo!

Aos olhos do matuto, a lua viajava a mil,

pra mulher também foi surpresa a pressa que a lua tinha.

Olhou, olhou; olhou ...

Mas lembrou-se logo da cozinha,

pois o caldo para um pirão na fornalha começava a derramar, acudiu com farinha e pimenta

abafou com a tampa e voltou para espiar.

Espiou, espiou; espiou ... mas logo se pos a observar:

“Quando vim ver a lua ela estava correndo,

isto eu pude observar,

Voltei e cuidei do meu pirão,

Tornei voltar para a lua olhar,

Ela continua correndo, veja como está correndo José!

mas está no mesmo lugar.

Certamente são as nuvens que estão movendo,

impulsionadas pelo ar,

isto é coisa de Deus, não demora a chuva vai chegar”.



Adilson Silveira

DESALENTO

DESALENTO



Janela de meu quarto

Por onde passam meus sonhos

Vão lembranças e saudades

Em busca da felicidade

Para este pobre tristonho.


Voam meus ais,

Suspiros de infinito clamor

Oh Deus, quanta saudade

Daquele meu grande amor.


Não há instante que não me lembre

De sua meiga feição

Do amor que nos uniu

Numa enlaçada paixão


Trinta e três anos passaram

Foi uma feliz união

Do amor nasceram três filhos

Inicio de nossa geração.


Certamente serão vencedores

Pois do Pai Eterno são filhos amados

Presentes de Deus, a filhos seus,

Quando o lar é abençoado.


Olhando no vão da janela

O infinito me faz sonhar

Relembrando de minha amada

Que junto a Deus foi morar.


Debruçado na janela, a cada dia

Meu viver, é um eterno sonhar,

Sonhar e relembrar...

Restou-me somente sonhar.





                                                             Adilson Silveira



PEDRO GATO

PEDRO GATO


Em um cantinho do sertão, onde a lei não havia chegado, formou-se um vilarejo a muitas léguas da cidade. Chamada de Pedro Gato, (Vila do Pedro Gato), vilarejo ao pé da serra, escondida no meio do mato. É terra de gente valente, povo que medo de nada tem, vivem numa certa harmonia, ariscos, provoca-los não convém.

Um tal de Pedro mudou pra lá, casinha simples, quase no centro do povoado, homem de cor escura, mulato ao sol torrado. O caboclo tinha dois filhos, o mais velho era rapaz já feito, muito educado e trabalhador, nele não era achado defeito.

O mais moço era gazeteiro, de tudo dava noticia, e certa vez, por falar demais, prometeram fazer de seu couro, cortiça. Senhor Pedro para intimidar os inimigos do filho seu, um aviso mandou rolar, “fala aí a estes garotos, que querem em meu filho tocar, sou da paz, mas não sou veludo, viro leão se me acuar, por meus filhos dou a vida, não me tente, posso estourar”. Cutucar onça com varra curta é suicídio, cuidado, o bicho vai pegar.

Na entrada da casa do senhor Pedro, um jardim de folhagens ornamentavam o espaço, protegidos por um estacado de aroeiras, muitas flores penduradas aos cachos. Tinha uma cancela de pau, cravada em um esteio bem alto, no seu tôpo um sino de bronze, por uma corrente amarado, era para espantar os lobos que vinha por estes lados.

Para dar sinal de alerta o sino também servia, tocavam-no na hora do almoço e também na Ave- Maria. Porem virou ponto de mira para o revolver de senhor Pedro, que sentado na mureta da varanda, disparava com certeza, a bala resvalava no bronze mostrando sua proeza.

Logo a noticia correu “Seu Pedro está trinando, certamente para matar, a quem tocar em seu filho, este é o rosnado que o leão dá”.

Assim virou mania, atirar no sino só pra ver o seu cantar, tinia retumbando na noite, logo alguém começava a comentar, “isto é tiro de Seu Pedro treinando para matar”.

Os rapazes acovardaram da briga, logo a paz voltou a reinar, Seu Pedro guardou um segredo, que só muito velhinho contou, “dos tiros que dei no sino, nem todos acertaram, mas o tinido do sino sempre se ouvia, vou contar como ocorria, resultado de um plano que bolei na manhã de certo dia, para respeito impor, e livrar desta ingresia”.

Cada tiro que disparava a noite no sino, era difícil de acertar, mandava meu filho bater-lhe com pau na hora que eu disparar. O sino tinia na noite, fazendo todas acreditar, que eu era mesmo valente, disposto até mesmo a matar.

Assim só três conheciam o segredo, eu, meu filho e o sino... este é metal, não pode me falar.



Fim

CLEMENTE, VALENTIA E IGNORÂNCIA...



CLEMENTE, VALENTIA E IGNORÂNCIA...

___ Vê aquele menino que vai pras bandas da fazenda grande, se ele é bravo eu não sei, mas seu tio avô, eta homem esquentado.

___ Me conta velho, sobre este valentão.

___ Ele não era só valente não, era um homem de muita opinião e também de muita ignorância. Clemente, o nome dele era Clemente, da família dos Vegas, gente criada na fazenda grande. Certa vez o Clemente que sempre gostou de vir dar umas voltas aqui na cidade, quando chegava chamava sempre a atenção de todos, era um homem grande, sempre montado em animais pretos ou de cor bem escura, este era seu gosto. Mas, vai que um dia apareceu um outro visitante aqui na praça montado em um cavalo muito bonito, pretinho como carvão e de musculatura muito forte, o animal parecia um troféu, aí o Clemente se interessou pelo animal. Procurou o dono que estava ali na venda fazendo umas compras e perguntou se o animal era p’ra negócio. O homem disse que não, mas se o amigo estava interessado, conforme a proposta podia até mudar de opinião.

Aí eles mexeram um rolo e acabou o Clemente comprando o tal cavalo por um preço que dava para pagar até dois animais do mesmo porte. No outro dia bem cedo atravessou a rua, o moço montado em um cavalinho baio e puxando o cavalo preto pelo cabresto, ia entregar o cavalo a Clemente. Clemente soltou o animal num pastim assim na porta e tratou bem dele por três dias. Lá pelo quarto dia, ainda era bem de manhã ele falou: hoje eu vou dar uma volta na cidade e, é você quem vai me levar, quero ver se vale o que paguei ou não. Passou a mão no cabresto e foi pegar o cavalo, quando ele viu o homem com o cabresto na mão, começou a ficar fogoso, raspando o chão e se empinando, cada vez que o Clemente chegava a menos de uns dês passos dele, ele dava uma caminhadinha, procurando manter sempre uma distancia que impedia de ser laçado. Isto foi deixando o Clemente com raiva e foi piorando a cada vez que ele se aproximava e o danado fugia. Com muito custo o Clemente o laçou, mesmo assim só depois de prende-lo no curral. Botou os arreios e passou pra cima, o animal deu alguns pulinhos, mas logo se convenceu que quem mandava não era ele. Depois de passar varia horas na cidade, o Clemente voltou pra casa e soltou o animal no mesmo pasto, mas o advertiu: da próxima vez não quero ver gracinha, hem? O animal sai correndo e pinoteando, mostrando toda a alegria de estar solto novamente. Passam uns dias e Clemente resolve dar umas voltas novamente, tudo aconteceu como antes, o cavalo não o deixava se aproximar, agora parecia até rir da cara de seu dono ao relinchar, quando o tentava pegar. Clemente se enfezou tanto que disse ao animal, deixa ocê bobinho, vou te mostrar quem é que manda aqui. Entra em casa, passa a mão numa carabina que enfeitava a cabeceira de sua cama, conferiu as balas e prumou para o pastim onde estava o cavalo. Carabina no ombro e laço na mão direita, tenta novamente pegar o animal, mas agora sim é que o danado corria, a raiva subiu tanto que avermelhou as orelhas do homem, perdendo a cabeça, dá um tapa para traz no cabo da carabina, fazendo com que o gatilho já caísse em sua mão, num ato sincronizado o cabo da arma lhe sobe ao ombro, o olho se fecha e a bala rompe... teeii, o animal com o estampido deu um pinote e caiu de joelhos rolando sobre o próprio pescoço. Clemente entra chega em casa, havia um camarada trabalhando ali a terra, lhe pergunta: o que foi isto Clemente, porque deu um tiro? Ele responde: o que eu não pegar no laço pode estar certo que eu pego na bala.

___ É Velho, a ignorância deste homem parece coisa de filme, eu hem?

___ Insto não é nada, veja o resultado de uma rixa que ele arrumou com um valentão da região do Jacarandá.



Capitulo – II

VINGANÇA NO CEMITÉRIO



Clemente arrumou uma contenda com Ramiro, por ocasião de um enterro, foi na morte de sua tia, quando todos da comunidade, depois de acompanhar o enterro e o caixão já estava colocado na cova, algumas pessoas jogavam os últimos punhados de terra quando chegou o Ramiro, era um fanfarrão desrespeitador das pessoas e quando estava bêbado então, víxiii, punha todo mundo pra correr, empinando sua mula sobre as pessoas.

Este tal Ramiro entrô no cemitério sem se desapiar da mula e foi jogando o animal encima do povo que ali se despedia da defunta, e disse: já vai tarde.

Clemente avança contra Ramiro enquanto levava a mão no revolver, mas a multidão o segura pedindo pelo amor de Deus que não fizesse mais morte naquele dia. O homem bufou de raiva e disse: este desaforo minha tia não vai levar sem um troco. Ainda agarrado pelos amigos, ele fez uma jura... Ramiro safado, em respeito aos outros e minha tia que está no caixão te faço um aviso, no dia que eu te encontrar de novo, um de nos vai deixar de existir, trate de sumir se quer continuar vivo. Passam algumas semanas, certa manhã Ramiro chega cedo na cidade e parecia que já vinha com o diabo no corpo, pois já chegou bêbado, gritando e dando tiros pra cima como quem o mundo é dele. Clemente estava na fazenda e de lá ouviu uns tiros, vindo dos lados da cidade, logo chegou no pátio da fazenda uns colonos que conversavam apavorados entre si, e Clemente ouviu um deles dizer, ele só pode estar com o diabo no corpo. Por isto ele se aproximou deles e perguntou: de quem vocês estão falando, e cadê as compras que foram fazer? ... Um deles respondeu: seu Clemente, o Ramiro hoje ta doidim, tocando todo mundo dos armazém, só ele é que manda e se alguém abusar passa a mula encima ou manda bala, cruz- credo de um homem desses. Clemente respondeu: é assim que ta bom pra mim. Arreou seu cavalo e saiu depressa em direção á cidade, no caminho falou sozinho, é hoje tia que a senhora descansará sossegada. Chega na cidade procura por Ramiro, mas este já havia deixado a cidade, levado por um conhecido seu.

Clemente pergunta a um senhor ali parado? ... ouvi uns tiros, ele feriu alguém?

___ Não seu Clemente, desta vez ele levou o dele!

___ como foi isto?

___ Ele estava fazendo o maior fuzuê aqui na praça, entrando e saindo dos botecos sem nem ao menos se desmontar da mula, ele sempre respeitou o Zé Candido, mas parece que o capeta atentou e ele resolveu entrar na venda dele com a mula e tudo. Pendeu pra lá e mandou a mula sobre a causada, entrou montado por uma porta e cá de fora nos ouvimos um grito e em seguida vimos sua mula sair sozinha na oura porta. Corremos lá pra ver, no rosto de Ramiro já corria um fiasco de sangue, que brotava da cabeça e se misturava com o suor de seu rosto. Clemente quer saber como tudo aconteceu, foi até a venda do Zé Candido para saber melhor da estória, e ele contou: vai que eu tava aqui atendendo meus fregueses e via Ramiro fazendo suas “arruaças” lá fora, quando menos esperava ele virou sua mula pra cá e jogou o animal encima das causadas e logo já tava cá dentro da venda, dizendo que queria uma pinga, aí falei: espere que já te dou. Levei a mão aqui debaixo do balcão e pequei o ´´deixa disso`` e mostrei pra ele quem manda aqui dentro. Foi uma paulada só, ele caiu entre o balcão e a mula, que mais ajuizado que ele logo saiu correndo, enquanto o safado toda vês que apoiava no balcão pra se levantar, assim que a cabeça aparecia eu batia de novo, até que os fregueses para evitar que ele morresse, o levaram para fora da venda, o montaram na mula e o açoitaram para fora da cidade. Aí Clemente disse: esta eu perdi, mas ele vai voltar. Passou mais um tempo, aí chega a noticia que morreu um fazendeiro muito influente da localidade onde Ramiro morava e que Ramiro falou no velório que acompanharia o enterro fosse onde fosse. O corpo ia ser enterrado aqui no Morro da Garça, então Clemente prevendo a visita de seu inimigo, vai até o cemitério e falou para o coveiro que quando acabasse de abrir a cova do defunto de Jacarandá, abrisse outra e deixasse aguardando que ele ia arrumar alguém para a ocupar. Nesta noite Clemente se prepara, lubrificou as armas da cintura e também a carabina que ficava pendurada sobre a cabeceira de sua cama. Nesta tarde o sol se pos meio avermelhado, manchando todo o barrado do céu de uma cor que anunciava toda a angustia para as horas que viriam. Pingos de chuva naquela manhã tornaram macabra a visão do cortejo que vinha trazido por uma charrete com dois possantes animais puxando, um grande grupo de cavaleiros e pessoas a passos largos acompanhavam o corpo do fazendeiro. Passam rápido em direção ao cemitério e numa cerimônia rápida logo sepultam o respeitado defunto. Todos estavam nervosos e procuravam se manterem longe de Ramiro que também olhava a tudo com muita astúcia, para não ser apanhado de surpresa. Mas as ultimas pás de terra caem sobre a cova e nada do esperado acontecia, assim as pessoas foram se relaxando e se afastando para fora do cemitério, aliviados por Clemente não ter aparecido e os deixado sepultar em paz seu morto. A chuva começa a cair novamente, fazendo com que todos procurassem se abrigar como pudessem. Nisso Clemente saindo detrás de um tumulo mais elevado grita por Ramiro, dizendo: você não respeitou nossa dor na morte de minha tia, e não me deixaram te dar uma surra na hora, tanto pior, agora para mim só a surra não basta. Há uma outra cova aberta logo atrás de você e um de nos dois é quem vai a ocupar neste dia. Ramiro se vira e vê Clemente com a espingarda engatilhada e nos olhos de seu opressor, o brilho da morte demonstra que tudo tinha que ser resolvido ali. Ramiro já prevendo o que aconteceria grita seus companheiros e começam a atirar.

Clemente só tinha um alvo... Ramiro... e, a primeira bala de sua carabina perfura o meio da testa do seu oponente. Que num urro mortal é jogado para trás, caindo quase todo dentro da cova que aguardava o fim da contenda.

Seus dois amigos atiradores dispararam ao mesmo tempo, cravando uma bala na barriga e outra na coxa de Clemente, que caiu para trás no impacto das balas.

Os dois homens olham Ramiro já morto com um tiro tão certeiro, amedrontam e resolvem abandonar a briga. Correm em direção ao muro do cemitério, mas um deles, antes de o alcançar, ouve o estampido e nesta hora a formigada nas costas lhe altera o compasso do coração, jogando-o de cara no muro.

Mais dois tiros ecoaram, mas o outro oponente já havia alcançado o muro e como um pássaro, iça um vôo desajeitado em busca da vida que teimava em esvair pelos furos das balas trinta e oito de Clemente.

Acabando a matança eu e outros amigos, fomos acudir o coitado do Clemente, que ainda estava debruçado sobre um túmulo, com uma mão na barriga, na outra mão um trinta e oito cuspindo fumaça e os olhos bem atentos a novas surpresas.

O levamos pra fazenda grande e lá cuidamos dele enquanto um cavaleiro saia a galope até Curvelo em busca de um medico que o pudesse curar. Meu filho, já vi um homem sofrer! até que um carro chegou trazendo o medico, este homem passou por maus lençóis, tinha hora que a dor era tanta, que pelo buraco da bala na barriga vazava a ponta de suas tripas, mas ele resistiu, ficou manco da perna alvejada, o que o atrapalhava muito a montar e vez em quando sentia fortes dores no estomago. Acho que é uma das balas que o medico não conseguiu tirar.



Adilson Silveira

Setembro 2010.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Lobisomem... será?

Era tempo de quaresma, me lembro de um ocorrido que me faz perceber que nem todos para esta época teen a mesma reserva. Em uma casa comercial aqui em Morro da Garça, aconteceu certa vez que, em um fim de semana no período da quaresma, para quebrar o parasmo daqueles dias, um comerciante resolveu colocar umas musicas de forro, visando apenas alegrar a noite em seu estabelecimento. Esta venda era montada conjunta com sua residência, onde um cômodo grande abrigava a parte comercial e uma porta aberta na lateral, dava acesso à sala de jantar da casa. Não sou supersticioso, mas me lembro que era uma dia de sexta-feira... A noite começou com o sol perdendo sua cor de ouro para um alaranjado alcançando o vermelho do fogo, coisa que chamou a atenção de muita gente, que ao olhar para ao céu, se benziam fazendo o sinal da cruz pelo rosto. Enquanto o sol se escondia detrás do morro, deixava avermelhada a linha do horizonte. Cai a noite, na vitrola as musicas de forró atraem adeptos que pouco a pouco se acomodam beirando o balcão do comercio e outros ocupam as cadeiras sob a coberta enfrente ao estabelecimento. Naquela noite o povo não dançou, mas, agruparam-se em papos arrojados, e no balcão se via muitos copos e garrafas de cerveja. Um grupo de rapazes que vieram de uma fazenda próxima, conversavam eufóricos, contando suas bravuras e valentias, enquanto um deles se afastou do grupo para atender a chegada de uma menina que a muito era seu querer bem. Ficam ali conversando sem se preocupar com as horas que passam. Pouco mais de dez da noite os rapazes que tomavam reunidos pagam as contas, e saem chamando o companheiro para o regresso á fazenda. O jovem enamorado manda que sigam, pois estando de bicicleta, logo os alcançariam na estrada. Como moça sempre rouba o juízo das pessoas, com aquele rapaz também não foi diferente, passaram quase duas horas para que o mesmo se conscientizasse que já deveria ter ido embora a muito tempo. Despede-se da moça, monta em sua bicicleta e vira um traque no mundo, correndo na esperança que os companheiros tenham parado para o esperarem no caminho. A lua já iluminava a terra como se estivesse andando com uma lanterna acêssa, o jovem sentia o cansaço causado ao pedalar na ladeira que se inclinava em direção ao morro, e este se destacava imponente em linha horizontal. Enquanto desce da bicicleta olha para o céu rapidamente e contempla o astro em seu tamanho maior. Nisto, ouve um barulho que vinha de dentro do mato, o instinto o alerta, o que poderia ser?... Enquanto caminha, firma os olhos em direção ao barulho, e, entre as sombras das árvores percebe um enorme cachorro preto que o olhava afinto, mas estava parado, apenas o observava. O valente rapaz, acostumado a lidar com bois bravios e potros chucrus, não se impressionou com um cão parado no meio do mato. Continuou seu caminho empurrando a bicicleta estrada acima, mas na mesma velocidade, o animal o acompanhava pelas sombras do mato e isto lhe chamou a atenção, pois não trouxe com ele nenhum animal da fazenda, incomodou-se ao ver aquele cachorro o vigiar sob a escuridão das árvores. Já vencendo a ladeira o valente vaqueiro pega uma pedra de tamanho que lhe enchia a palma da mão, e a assovia em direção ao cão, enquanto deu um grito para afugentar pra longe o animal. O cão se esquiva da pedra e para numa posição de ataque, abaixa-se nas patas dianteiras, mantendo o olhar sempre fixo em seu agressor, deixou exalar sua raiva em um rosnado agressivo, iluminado nesta hora pelo clarão da lua que pareceu colocar duas labaredas de fogo no lugar de seus olhos. Os medrosos já estariam longe, mas o valente também sabe que agora é hora de correr. Voando sobre sua bicicleta, faz a poeira ocultar seus rastos.
Na noite de sábado, os mesmos jovens retornam para o ponto do gole. Aí, enquanto o vaqueiro valente está recostado no balcão a deliciar sua cerveja, se aproxima um homem de estatura pequena, quase maltrapilho e com roupas cobertas de poeira da estrada..., lhe bate a mão no ombro e o vira para sua direção, fitando-lhe no rosto disse:
____ Se aquela pedra me acertasse, você ia ver como eu te rasgaria todo no dente, seu medroso, eu não estava lhe fazendo nenhum mal...

Eu hem...! lobisomem... será?

Mãeeeeeee!
Adilson Silveira
Quaresma de 2009.

terça-feira, 10 de maio de 2011

A MENINA E O LOBO GUARÁ

A MENINA E O LOBO GUARÁ


Silenciosa e calma, a floresta escuta um cântico que quebra a melodia rotineira dos ventos e pássaros. Um grande ipê Amarelo se pergunta:
___ Quem vem lá? Não é possível tirar um cochilo com tamanho barulho e desafinamento!
A voz ressoa cada vês mais alto, sinal que o responsável por tanto barulho se aproxima cada vez mais,
___ ... levar estes doces para a vovó fraquinha, venho de longe, atravessei o deserto, vou lavar meus pés no córrego aqui bem perto...
O grande Ipê olha para baixo e vê uma menina assentada sob sua sombra, trazia uma cesta de palha trançada, abanou-se para ficar refrescada, espreguiçou com os braços para aliviar o cansaço, pois era mais de meio dia, o sol era um mormaço. A menina era negrinha, logo a arvore à trilha do quilombo lembrou:
___ É filha dos escravos que entre nós se esconderam, certamente vai p’ro ranchinho na clareira, onde mora gente do povo seu. Minutos passaram a menina sumiu, mas logo adiante um perigo surgiu. Um guará bem amarelo (lobo astuto, habitante naquele sertão) sentiu o cheiro do lanche, seguiu seu extinto de cão, vou roubar aquela cesta e fazer minha refeição. A menina parou na beira do lago, a cesta encima da pedra ficou, foi banhar seus pés e assim se aliviar do calor. O guará veio sorrateiro, logo na cesta pulou, correu para o meio da mata, mas uma coisa não contou. O ipê vigiava a menina e viu o furto acontecer. Mandou então um cipó, a negrinha defender, o pé do lobo prendeu no golpe que o cipó armou, com a outra ponta depressa, a cesta o cipó levantou. Levou para o alto da arvore, onde o lobo não podia pegar. A menina chegou correndo, veio sua cesta buscar. O lobo não gosta de gente, atrás da arvore se escondeu, viu a menina pegar a cesta, nesta hora, a baba desceu. Tinha que arrumar um plano para aquela cesta roubar, adiantou-se pelo caminho foi no casebre se esconder, pois aquela menina seguia a trilha, que naquele casebre dava, certamente era p’ra vovozinha que aquelas gostosuras levava.
___ Quem é? Respondeu a velhinha ao chamado na porta.
___ Sou eu, sua netinha, venha logo me receber?
___ Já conheço esta estória, neste truque não vou cair, dê meia volta e vá embora, que eu preciso dormir.
Que velha sacana murmurou o lobo, mas ela não vai me escapar. Correu para detrás de uma arvore, esperou a menina chegar.
___ quem é ? respondeu a vovozinha ao chamado.
___ sou eu, sua neta que vim lhe visitar, trousse doces e tortas, mamãe quer saber como a senhora está.
­­­___ quando a velhinha abriu a porta, o lobo encima das duas pulou, rolaram para dentro da sala, com um chute na porta, logo o lobo a fechou. Se agarrou firme na cesta, queria os doces devorar, a velhinha gritou por socorro, a floresta veio ajudar.

Um cipó entrou pela janela foi logo no lobo batendo, mas o Guará era esperto com os dentes foi se defendendo, cortou o cipó a dentadas e p´ra velhinha foi dizendo:
___ Aqui não há caçadores que na outra estória me ferrou, vou comer os doces primeiro, um a um , ora se vou. Depois se vocês ficarem boazinhas, vou embora sem me enfezar. Do contrario fico nervoso, aí o bicho vai pegar. Não há cipó que me segure, é melhor não me amolar.
Dos olhos da menina correu uma lagrima, que até o sol se comoveu, mandou um raio de luz no pingo da lagrima que contra o lobo se refletiu, a luz foi tão intensificada que os olhos do lobo feriram .
___ Aai ... o que é isto, meus olhos estão queimando com esta luz que aqui entrou, a cesta, cadê meus doces, estou cego, que horror...
Aproveitando a distração do lobo, a velhinha a vassoura pegou, pulou no lobo a pauladas que gritando assim falou:
___ Chega, chega, eu vou embora, vou voltar pro meu lugar, nem, tanto eu gosto de doces, chega vovó, deixa eu passar...
Debaixo da surra da velhinha, para o lado da janela o lobo pulou, a vassoura assoviava no ar, e batia, batia de fazer dó, o lobo conseguiu fugir prometendo nunca mais voltar.
___ chega, aaí, ai, velha burrona, nunca vi tanta ignorância por causa de uns docinhos, nunca mais venho te visitar e esta menina de boné, nunca mais... só me deu azar
Cruz/credo doscêss.


Adilson Silveira
02-2011

EXPERIMENTANDO A ESPINGARDA (ADAPTADO)

__ Olha compadre, a espingarda que eu comprei!
Dizia todo feliz o senhor Lorenço ao seu compadre Joaquim, enquanto lhe exibia uma polveira que havia adquirido de um outro caçador que mora nas terras altas entre as montanhas, lá nos fundão dos gerais.
___ Mas compadre Lorenço, o senhor fez uma compra boa deveras, esta espingarda está como nova! Vamos faze o seguinte, vamos exprementar logo este trem, pra ver se ela é boa mesmo.
___ Mas compadre, eu não tenho nada pra dar tiro aqui comigo.
___ Larga disto, sô, aqui em casa tenho tudo, se assenta que eu vou lá dentro buscar.
Assim o Senhor Joaquim vai á dispensa buscar os apetrechos para poderem experimentar a polveira, tava doidim para escutar o tiro.
___ Olha compadre, é melhor nos irmos lá pra fora, pra fazer uma carga boa nesta bichinha e ver se valeu seu dinheiro.
Vão os dois porta a fora e param sob a sombra de um antigo pé de manga.
___ Oia compadre Lorenço, se acomode aí neste toco de pau, aqui ta a pólvora, a palha pra bucha e chumbo médio, carregue esta belezura que eu vou fazer meu cigarim de cá.
Então Lorenço acomoda a espingarda entre as perna e lhe coloca um traço de pólvora, o Joaquim lá..., fazendo seu paiero. Então Lorenço que já havia mascado um pouco da palha para amaciar a bucha, a tira da boca e quando vai coloca-la no cano, seu compadre lhe fala.
___ Espera aí compadre, esta pólvora está muito pouca, isto só vai dar um tirinho...
___ Mas compadre, este tanto ta bom demais, é o normal sô...
___ Não compadre deixa de ser mão de vaca, coloca mais pólvora nesta espingarda sô, vamos fazer um tiro bão, daqueles que dá pra ouvir lá pras bandas da casa dona zifinha.
___ Oia compadre, este trem vai ficar forte demais...
___ Ce besta sô, pode dobrar esta pólvora.
Então o Lorenço coloca outra talagada de pólvora, prepara a bucha e comece a socar com a vareta para dar firmeza na pólvora. O Joaquim ta lá, enrolando seu cigarinho, mas de olho. De quando em quando falava: encarca bem esta pólvora que eu quero ouvir um tirão. Depois da bucha da pólvora já bem prensada, Lorenço começa e colocar o chumbo, já ia parando quando o Joaquim falou:
___ Mas só este tiquim de chumbo compadre, pode por mais chumbo neste trem, só isto não vale de nada, senão como nos vamos ficar sabendo que a espingarda é boa!
O Lorenço dá um balançado nos ombros e lá vai mais chumbo, depois de colocar a bucha e socar bastante a vareta, pegar a espingarda nos braços, lhe levanta o cão e coloca a espuleta, daí, abaixa o cão bem devagar para melhor assentar a espuleta e passa a espingarda pro compadre Joaquim.
___ Toma compadre, pode detonar, porque eu não tenho nem coragem.
___ Que isto compadre, ocê ta doido, eu só quero ouvir o estrondo da bicha, eu hem...
___ Mas foi o senhor que mandou eu por muita carga, agora o senhor atira...
___ Nem pensar compadre, eu não conheço esta espingarda, vai que ela não aquenta... tô fora...
___ Então nos temos que arrumar um para detonar este tiro.
Nisto acaba de chegar para uma visita um tal de Raimundo, um homem de meia idade, também é caçador, mas não escutava nada dos ouvidos, tinha ficado surdo desde que foi atacado numa caçada por uma colméia de abelhas brabas do cerrado. Então Joaquim acena e faz muito movimento para chamar a atenção de Raimundo, ele percebe os dois homens debaixo da mangueira e se dirige para lá, atendendo o chamado dos dois caçadores.
___ Vem cá Raimundo, dá um tiro aqui pra nos, exprementa aqui pra nos vermos o tiro.
Depois de muito gesticular os dois homens fizeram o surdo entender que queriam apenas que ele desse um tiro com aquela espingarda. O pobre pega a espingarda com cuidado, levanta a coronha na altura do ombro vira pra o tronco do pé de manga e rasta o dedo. A espingarda deu um tiro tão bem forte e formou um fumaceiro branco na hora que cobriu todos os três caçadores. Quando a fumaça se desfez no ar e deu para os homens se enxergarem, aí viram o mudo com os braços esticados e segurando a espingarda deitada na palma das mãos, com uma cara de decepcionado lhes disse:
___ Ué, a espingarda mascou?


Adilson Silveira
03 - 2011

A CAÇADA DA ONÇA...

___ É pedreira!...
___ Que isto, tu estas chorando só de ver o rasto da onça.
___ É compadre, mas desta vez o pé parece ser grande demais.
___ Calma, compadre, para que serve estes dois trabucos que nos estamos trazendo? Isto não faz so barulho não, isto mata sem base!
___ Mas pra matar é preciso ter tempo de atirar. E se o bicho não der folga?
___ Uai, nos somos dois, enquanto ela aperta um, o outro passa o burraio nela.

Assim vai os dois compadres conversando pelo caminho e de olho em tudo que se movia. Qualquer movimento no mato ou barulho de algo, era caminho para a mira das armas. Assim os dois chegam ao final do mato á beira um poção d’agua, que é a bebida de todos os animais daquele capão. Abrindo as folhas para olhar com cuidado, um compadre fala:
___ olha compadre, o bicho está ali, bebendo água que dá gosto. Desta vez ela não escapa.
___ cuidado compadre, não deixa ela te ver, hem!
___ Sorte nossa que o vento está soprando do lado de lá para cá, senão ela já teria sentido nosso cheiro e já tinha corrido, esse bicho, rumm!
___ olha compadre desta vez ela não nos escapa, faz o seguinte o senhor rudeia o mato e vai do lado de lá, porque se ela dê de fugir, ela irá pro seu lado ...
___ cruz- credo.
___ Aí compadre, o senhor lhe mostra como se atira, com estes cartuchus, só com o barulho já é capaz dela morrer.

Assim o compadre vai silencioso e sorrateiro como um gato que fareja a caça. Do lado de cá da lagoa, o compadre calcula o tempo que o companheiro levaria para chegar do outro lado e se posicionar. Astuto está sempre ali, de olho na fera, que com a calma do ambiente nem suspeita que estão tramando seu fim, coitadinha, se tudo der como os caçadores pensam, será fatal para o felino.
O compadre quando completou a volta, não contava que estaria a favor do vento, que rapidamente levou seu cheiro direto nas narinas da onça, com o olfato bem apurado, sentindo o cheiro de homem, percebe o perigo que corre. Levantando-se rapidamente, dá um rugido e se prepara para fugir. O compadre que já estava com a onça na mira, não perdeu tempo, quando viu que a onça ia embora, fechou um olho e apertou o gatilho, nesta mesma hora o outro compadre que tinha dado a volta para cercar a onça, percebeu que tudo ia dar em nada, pois o bicho o havia percebido e já estava leve nas pernas para cair no mato... se apruma depressa, se prepara para também dar um tiro. Seu compadre já havia disparado e num relance vê seu parceiro se levantar bem na frente da mira de seu trabuco que já tinha queimado a espuleta e detonado o tiro. O desespero foi enorme:
____ É divera, a onça acaba de saltar e a bala vai chapar em cheio meu compadre que ficou na mira.

Na esperança de salvar seu compadre o caçador leva a mão na boca da espingarda que já estava com a bala viajando dentro do cano, tampa sua saída com a palma da mão e grita apavorado:
___ sai fora compadre, já detonei e lá vai o tiro.
Enquanto a onça já levantava os pés do chão alertado pelo grito, cai na margaça e deixa os dois homens resolvendo o rolo que eles tinham armado.
O compadre vê o outro com a mão na boca da espingarda que já estava até gorfando para soltar a bala, mas não podia sair porque o cano estava tampado pela abençoada mão do compadre, aí ele se abaixa rapidamente e o compadre tira a mão do cano da espingarda que cospe a bala fazendo mil.
Aí ele falou pro compadre que assoprava a mão aquecida pela bala:
___ Hêe cumpadre, se o senhor não é esperto para tapar a bala, nesta hora quem tava com o coro furado era eu.
Hêee diacho! Sô...




Adilson Silveira
Estórias fantásticas
02-2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

A MENINA E O LOBO GUARÁ

Silenciosa e calma, a floresta escuta um cântico que quebra a melodia rotineira dos ventos e pássaros. Um grande ipê Amarelo se pergunta:
___ Quem vem lá? Não é possível tirar um cochilo com tamanho barulho e desafinamento!
A voz ressoa cada vês mais alto, sinal que o responsável por tanto barulho se aproxima cada vez mais,
___ ... levar estes doces para a vovó fraquinha, venho de longe, atravessei o deserto, vou lavar meus pés no córrego aqui bem perto...
O grande Ipê olha para baixo e vê uma menina assentada sob sua sombra, trazia uma cesta de palha trançada, abanou-se para ficar refrescada, espreguiçou com os braços para aliviar o cansaço, pois era mais de meio dia, o sol era um mormaço. A menina era negrinha, logo a arvore à trilha do quilombo lembrou:
___ É filha dos escravos que entre nós se esconderam, certamente vai p’ro ranchinho na clareira, onde mora gente do povo seu. Minutos passaram a menina sumiu, mas logo adiante um perigo surgiu. Um guará bem amarelo (lobo astuto, habitante naquele sertão) sentiu o cheiro do lanche, seguiu seu extinto de cão, vou roubar aquela cesta e fazer minha refeição. A menina parou na beira do lago, a cesta encima da pedra ficou, foi banhar seus pés e assim se aliviar do calor. O guará veio sorrateiro, logo na cesta pulou, correu para o meio da mata, mas uma coisa não contou. O ipê vigiava a menina e viu o furto acontecer. Mandou então um cipó, a negrinha defender, o pé do lobo prendeu no golpe que o cipó armou, com a outra ponta depressa, a cesta o cipó levantou. Levou para o alto da arvore, onde o lobo não podia pegar. A menina chegou correndo, veio sua cesta buscar. O lobo não gosta de gente, atrás da arvore se escondeu, viu a menina pegar a cesta, nesta hora, a baba desceu. Tinha que arrumar um plano para aquela cesta roubar, adiantou-se pelo caminho foi no casebre se esconder, pois aquela menina seguia a trilha, que naquele casebre dava, certamente era p’ra vovozinha que aquelas gostosuras levava.
___ Quem é? Respondeu a velhinha ao chamado na porta.
___ Sou eu, sua netinha, venha logo me receber?
___ Já conheço esta estória, neste truque não vou cair, dê meia volta e vá embora, que eu preciso dormir.
Que velha sacana murmurou o lobo, mas ela não vai me escapar. Correu para detrás de uma arvore, esperou a menina chegar.
___ quem é ? respondeu a vovozinha ao chamado.
___ sou eu, sua neta que vim lhe visitar, trousse doces e tortas, mamãe quer saber como a senhora está.
­­­___ quando a velhinha abriu a porta, o lobo encima das duas pulou, rolaram para dentro da sala, com um chute na porta, logo o lobo a fechou. Se agarrou firme na cesta, queria os doces devorar, a velhinha gritou por socorro, a floresta veio ajudar.

Um cipó entrou pela janela foi logo no lobo batendo, mas o Guará era esperto com os dentes foi se defendendo, cortou o cipó a dentadas e p´ra velhinha foi dizendo:
___ Aqui não há caçadores que na outra estória me ferrou, vou comer os doces primeiro, um a um , ora se vou. Depois se vocês ficarem boazinhas, vou embora sem me enfezar. Do contrario fico nervoso, aí o bicho vai pegar. Não há cipó que me segure, é melhor não me amolar.
Dos olhos da menina correu uma lagrima, que até o sol se comoveu, mandou um raio de luz no pingo da lagrima que contra o lobo se refletiu, a luz foi tão intensificada que os olhos do lobo feriram .
___ Aai ... o que é isto, meus olhos estão queimando com esta luz que aqui entrou, a cesta, cadê meus doces, estou cego, que horror...
Aproveitando a distração do lobo, a velhinha a vassoura pegou, pulou no lobo a pauladas que gritando assim falou:
___ Chega, chega, eu vou embora, vou voltar pro meu lugar, nem, tanto eu gosto de doces, chega vovó, deixa eu passar...
Debaixo da surra da velhinha, para o lado da janela o lobo pulou, a vassoura assoviava no ar, e batia, batia de fazer dó, o lobo conseguiu fugir prometendo nunca mais voltar.
___ chega, aaí, ai, velha burrona, nunca vi tanta ignorância por causa de uns docinhos, nunca mais venho te visitar e esta menina de boné, nunca mais... só me deu azar
Cruz/credo doscêss.


Adilson Silveira
02-2011

A CAÇADA DA ONÇA...

___ É pedreira!...
___ Que isto, tu estas chorando só de ver o rasto da onça.
___ É compadre, mas desta vez o pé parece ser grande demais.
___ Calma, compadre, para que serve estes dois trabucos que nos estamos trazendo? Isto não faz so barulho não, isto mata sem base!
___ Mas pra matar é preciso ter tempo de atirar. E se o bicho não der folga?
___ Uai, nos somos dois, enquanto ela aperta um, o outro passa o burraio nela.

Assim vai os dois compadres conversando pelo caminho e de olho em tudo que se movia. Qualquer movimento no mato ou barulho de algo, era caminho para a mira das armas. Assim os dois chegam ao final do mato á beira um poção d’agua, que é a bebida de todos os animais daquele capão. Abrindo as folhas para olhar com cuidado, um compadre fala:
___ olha compadre, o bicho está ali, bebendo água que dá gosto. Desta vez ela não escapa.
___ cuidado compadre, não deixa ela te ver, hem!
___ Sorte nossa que o vento está soprando do lado de lá para cá, senão ela já teria sentido nosso cheiro e já tinha corrido, esse bicho, rumm!
___ olha compadre desta vez ela não nos escapa, faz o seguinte o senhor rudeia o mato e vai do lado de lá, porque se ela dê de fugir, ela irá pro seu lado ...
___ cruz- credo.
___ Aí compadre, o senhor lhe mostra como se atira, com estes cartuchus, só com o barulho já é capaz dela morrer.

Assim o compadre vai silencioso e sorrateiro como um gato que fareja a caça. Do lado de cá da lagoa, o compadre calcula o tempo que o companheiro levaria para chegar do outro lado e se posicionar. Astuto está sempre ali, de olho na fera, que com a calma do ambiente nem suspeita que estão tramando seu fim, coitadinha, se tudo der como os caçadores pensam, será fatal para o felino.
O compadre quando completou a volta, não contava que estaria a favor do vento, que rapidamente levou seu cheiro direto nas narinas da onça, com o olfato bem apurado, sentindo o cheiro de homem, percebe o perigo que corre. Levantando-se rapidamente, dá um rugido e se prepara para fugir. O compadre que já estava com a onça na mira, não perdeu tempo, quando viu que a onça ia embora, fechou um olho e apertou o gatilho, nesta mesma hora o outro compadre que tinha dado a volta para cercar a onça, percebeu que tudo ia dar em nada, pois o bicho o havia percebido e já estava leve nas pernas para cair no mato... se apruma depressa, se prepara para também dar um tiro. Seu compadre já havia disparado e num relance vê seu parceiro se levantar bem na frente da mira de seu trabuco que já tinha queimado a espuleta e detonado o tiro. O desespero foi enorme:
____ É divera, a onça acaba de saltar e a bala vai chapar em cheio meu compadre que ficou na mira.

Na esperança de salvar seu compadre o caçador leva a mão na boca da espingarda que já estava com a bala viajando dentro do cano, tampa sua saída com a palma da mão e grita apavorado:
___ sai fora compadre, já detonei e lá vai o tiro.
Enquanto a onça já levantava os pés do chão alertado pelo grito, cai na margaça e deixa os dois homens resolvendo o rolo que eles tinham armado.
O compadre vê o outro com a mão na boca da espingarda que já estava até gorfando para soltar a bala, mas não podia sair porque o cano estava tampado pela abençoada mão do compadre, aí ele se abaixa rapidamente e o compadre tira a mão do cano da espingarda que cospe a bala fazendo mil.
Aí ele falou pro compadre que assoprava a mão aquecida pela bala:
___ Hêe cumpadre, se o senhor não é esperto para tapar a bala, nesta hora quem tava com o coro furado era eu.
Hêee diacho! Sô...




Adilson Silveira
Estórias fantásticas
02-2011

EXPERIMENTANDO A ESPINGARDA (assim me contaram)

__ Olha compadre, a espingarda que eu comprei!
Dizia todo feliz o senhor Lorenço ao seu compadre Joaquim, enquanto lhe exibia uma polveira que havia adquirido de um outro caçador que mora nas terras altas entre as montanhas, lá nos fundão dos gerais.
___ Mas compadre Lorenço, o senhor fez uma compra boa deveras, esta espingarda está como nova! Vamos faze o seguinte, vamos exprementar logo este trem, pra ver se ela é boa mesmo.
___ Mas compadre, eu não tenho nada pra dar tiro aqui comigo.
___ Larga disto, sô, aqui em casa tenho tudo, se assenta que eu vou lá dentro buscar.
Assim o Senhor Joaquim vai á dispensa buscar os apetrechos para poderem experimentar a polveira, tava doidim para escutar o tiro.
___ Olha compadre, é melhor nos irmos lá pra fora, pra fazer uma carga boa nesta bichinha e ver se valeu seu dinheiro.
Vão os dois porta a fora e param sob a sombra de um antigo pé de manga.
___ Oia compadre Lorenço, se acomode aí neste toco de pau, aqui ta a pólvora, a palha pra bucha e chumbo médio, carregue esta belezura que eu vou fazer meu cigarim de cá.
Então Lorenço acomoda a espingarda entre as perna e lhe coloca um traço de pólvora, o Joaquim lá..., fazendo seu paiero. Então Lorenço que já havia mascado um pouco da palha para amaciar a bucha, a tira da boca e quando vai coloca-la no cano, seu compadre lhe fala.
___ Espera aí compadre, esta pólvora está muito pouca, isto só vai dar um tirinho...
___ Mas compadre, este tanto ta bom demais, é o normal sô...
___ Não compadre deixa de ser mão de vaca, coloca mais pólvora nesta espingarda sô, vamos fazer um tiro bão, daqueles que dá pra ouvir lá pras bandas da casa dona zifinha.
___ Oia compadre, este trem vai ficar forte demais...
___ Ce besta sô, pode dobrar esta pólvora.
Então o Lorenço coloca outra talagada de pólvora, prepara a bucha e comece a socar com a vareta para dar firmeza na pólvora. O Joaquim ta lá, enrolando seu cigarinho, mas de olho. De quando em quando falava: encarca bem esta pólvora que eu quero ouvir um tirão. Depois da bucha da pólvora já bem prensada, Lorenço começa e colocar o chumbo, já ia parando quando o Joaquim falou:
___ Mas só este tiquim de chumbo compadre, pode por mais chumbo neste trem, só isto não vale de nada, senão como nos vamos ficar sabendo que a espingarda é boa!
O Lorenço dá um balançado nos ombros e lá vai mais chumbo, depois de colocar a bucha e socar bastante a vareta, pegar a espingarda nos braços, lhe levanta o cão e coloca a espuleta, daí, abaixa o cão bem devagar para melhor assentar a espuleta e passa a espingarda pro compadre Joaquim.
___ Toma compadre, pode detonar, porque eu não tenho nem coragem.
___ Que isto compadre, ocê ta doido, eu só quero ouvir o estrondo da bicha, eu hem...
___ Mas foi o senhor que mandou eu por muita carga, agora o senhor atira...
___ Nem pensar compadre, eu não conheço esta espingarda, vai que ela não aquenta... tô fora...
___ Então nos temos que arrumar um para detonar este tiro.
Nisto acaba de chegar para uma visita um tal de Raimundo, um homem de meia idade, também é caçador, mas não escutava nada dos ouvidos, tinha ficado surdo desde que foi atacado numa caçada por uma colméia de abelhas brabas do cerrado. Então Joaquim acena e faz muito movimento para chamar a atenção de Raimundo, ele percebe os dois homens debaixo da mangueira e se dirige para lá, atendendo o chamado dos dois caçadores.
___ Vem cá Raimundo, dá um tiro aqui pra nos, exprementa aqui pra nos vermos o tiro.
Depois de muito gesticular os dois homens fizeram o surdo entender que queriam apenas que ele desse um tiro com aquela espingarda. O pobre pega a espingarda com cuidado, levanta a coronha na altura do ombro vira pra o tronco do pé de manga e rasta o dedo. A espingarda deu um tiro tão bem forte e formou um fumaceiro branco na hora que cobriu todos os três caçadores. Quando a fumaça se desfez no ar e deu para os homens se enxergarem, aí viram o mudo com os braços esticados e segurando a espingarda deitada na palma das mãos, com uma cara de decepcionado lhes disse:
___ Ué, a espingarda mascou?


Adilson Silveira
03 - 2011

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A saga de Serafim e seus filhos...

A lua se esconde por entre uma nuvem mais densa, o cano do rifle cuspiu fogo por entre a moita de arbusto no descampado da serra. O corpo cai quando o cavalo dispara, o pé preso nos arreios puxou o corpo por alguns metros. A botina frouxa no pé deixa escorregar o corpo pesado do homem que agoniza tentando entender quem o teria emboscado... no pensamento vagueia as palavras da mulher que diz ___ não vá sozinho, é perigoso... com uma nuvem cinzenta lhe roubando a luz dos olhos, tudo desfigura tal qual se distanciava as batidas do coração, que pouco a pouco perdia as forças ...

No outro dia:
___ Coronel, o que fui fazer, já está feito.
___ já despachou o safado, Serafim?
___ Sim Senhor.
___ sem rasto?
___ Ele nem sabe de que banda veio o tiro. Tombou de costas já se arrumando para o inferno.
___ E bom assim... passa pela cerva, peque um daqueles porco na engorda, e vá pro seu rancho fazer sua farrinha, tira o resto da semana por conta, depois se junte aos empregados na cuida da lida.

Dali para sua casa, Serafim seguiu arrastando suas precatas feitas com couro de bicho do mato que ele mesmo caçou, levando atravessado nas costas um porquinho já sangrado para comemorar o sucesso da empreitada.
Seu filho João se adianta para o receber, enquanto no alpendre do casebre, Mané Quindim, assentado num tamborete, se apóia na parede e lustra com carinho o rifle que foi sarrafiado de um infeliz tombado numa emboscada.
Em meio ao descanso de Serafim, o patrão manda lhe avisar que fique quieto em sua casa, pois tem gene procurando o responsável pela morte do homem no descampado da serra.

Serafim alerta seus quatro filhos, pedindo: fiquem de olho, cuidado com estranhos. Os filhos, Mane Quindim, João (apelidado de quebra toco) Lourenço e Maria, que astutos já eram, muito mais ficaram, com o olhar esperto, conseguindo ver de perto o que de muito longe é que vinha.
(São três machos e uma fêmea, por sinal MariaQue com todos se pareciaTodos de olhar esperto para ver de pertoQuem de muito longe é que vinha)

São filhos de duas uniões desgraçadas, a primeira união foi conquista de bordel,.... onde, por causa da mulher, Serafim fez destrincho em um moço, a moça, por medo ou gosto pela aventura, pegou garupa na mula e ainda levou o dinheiro junto com a caixa de sapato que a cafetina guardava. Mane quindim é filho desta união marcada por sangue, mas, durou apenas quatro anos. Morreu, vitima de tramóia por alguém que seguia os passos do casal para vingar o destrinchado no bordel.
Da segunda união mais três filhos. Maria era a que mais chamava a atenção, pois era a que com todos se parecia. Era o xodó do pai, mas mesmo assim a vida não lhe dava moleza. Quantas vezes sufocou as lagrimas para se mostrar valente.
(Filhos de dois juramentos, todos dois sangrentosEm noite clarinhaÊ A ÔO João quebra toco,Mané Quindim, Lourenço e Maria)
Serafim um dia falou pros filhos: ___ Tem morto que depois da vida, todos o querem ver voltar, este povo da cidade não quer deixar o finado descansar em paz e isto está tirando meu sossego, assim pra mim não dá. Vamos arriba o pé no mundo hoje mesmo, ou logo haverá mais defunto neste lugar.
Noite alta de silencio e lua, Serafim deixa o casebre. Não levam malas, somente trouxas de algumas roupas surradas, uns levavam rifles, outros fumo e farinha. Serafim foi ficando surtado, tinha medo de parar, foi se embreando no mato, dormindo em qualquer lugar.
(Noite alta de silêncio e luaSerafim o bom pastor de casa saíaDos quatro meninos, dois levavam riflesOutros dois levavam fumo e farinha
Bandoleros de los campos verdesDom Quixotes de nuestro desiertoÊ A Ô)
Serafim bom de corteMané, João, Lourenço e Maria)
Numa noite de lua sinistra, o calor do trópico escaldando, todos dormiam no mato, ninguém viu se aproximado, uma fera com olhos de fogo, de sua boca, baba pingando.
Atacou o grupo com a velocidade de um raio, mas Serafim seu pulo escutou, a fera bôcou o Juvêncio, na hora o facão silvou, foi fundo na sua artéria, na mesma hora seu sangue escorreu, mas a fera deu pulos cruzados e no escuro da noite se escafedeu.
A família acudia o irmão, que de susto estava gelado, mas Lourenço esta bem, só ficou com o braço aranhado.
Serafim falou pros filhos vamos seguir o rasto deixado, meu facão cortou profundo, o bicho tem que ser achado, nem o capeta escapava com o couro assim furado.
Seguiram o rasto de sangue e por um longo trecho vão, num trieiro logo adiante, a poça de sangue aumentou, sinal que o animal perdia as forças, logo na frente João gritou.
___ Corre aqui meu pai, vem ver a desgraça que aconteceu, o bicho matou mais um e daqui se soverteu.
Serafim ficou intrigado com aquele defunto no chão. Se o bicho atacou, cadê o sinal da luta, as folhas estão arrumadas no chão, este desgraçado é um lobisomem, este corte no pescoço quem fez foi meu facão.
Lourenço, teremos que beirar a cidade, ocê tem que um remédio tomar, este bicho te feriu e encima a baba pingou, esta desgraça pode ti contaminar.
O dia amanhece e num vilarejo a beira- mato, Serafim deixa seu filho para se cuidar, o charlatão lhe contava estórias vividas em outro lugar.
Falava de trabalho honrado, salário para receber, montar uma casa, ter família, isto sim é um viver.
Lourenço levado pelo sonho, de vida melhor poder levar, partiu num pau de arara p’ro sul, não quis o seu pai esperar, foi logo p’ra cidade grande, mudar de vida e trabalhar.

(Mas o tal Lourenço, dos quatro o mais novoEra quem dos quatro tudo sabiaResolveu deixar o bando e partir pra longeOnde ninguém lhe conhecia)
Depois de duas semanas escondido no mato, Serafim com seus filhos falou, ___ Mane, João, vão seu irmão buscar, este lugar está esquentando, precisamos logo mudar.
Na casa do curandeiro, os dois jovens logo perguntou, cadê Lourenço seu moço, o viemos buscar e ao senhor pagar, papai quer juntar a família, temos muito chão para andar.
___ Acalmem meus jovens o Lourenço não está, resolveu partir p’ra cidade grande, quer o seu destino mudar.
___ Ai, aiai ai ai... papai não vai gostar de saber, o Lourenço largou a família, o sangue do velho vai ferver. Voltaram e contaram para o pai, o velho tinha que saber, dizendo que Lourenço foi para o sul, querendo se enriquecer.
Mas Serafim jurou vingança, filho meu não dança conforme a dança! Vocês dois peguem a estrada, tragam meu Lourenço de volta, lhes peço com confiança.
Treze semanas passaram, por sorte os três irmãos se encontraram, ___ Lourenço, viemos te buscar, papai esta muito amolado, hoje você volta com a gente nem que seja amarado.

(Serafim jurou vingança,Filho meu não dança, conforme a dançaÊ A Ô)
No longo caminho de volta, Lourenço quase nada falou, queixava tremura no corpo, e o sangue lhe fervia, fazendo-o gemer de dor.
Deu um grito desesperado quando a lua cheia se mostrou, deu um urro e se embreou no mato, Mane Firmino assustado falou:
___ Lourenço esta fugindo, vai pra cidade voltar, pega ele João, senão papai vai nos matar.
João que mais agia que pensava, com a ordem ele avançou, fundou no meio do mato gritando feito um maluco, volta aqui sô, volta aqui sô!...
De repente um grito de horror quebra na noite, Mane por entre a moita arriscou espiar, viu uma fera lutar com seu irmão, entrou firme em sua defesa e com a fera começou a lutar.
Golpes de facão cotavam no ar, fazendo silvos no relance, a fera se defendia, urrava e se debatia, vendo seu sangue a esvair, atacava com grande desespero pra sua vida salvar, mas os homens eram bravos, e medo não conheciam, picaram a fera toda de facão, até sua ultima gota sangue pingar.
De repente o corpo no chão começa a se transformar, toma traços delicados e João começou a falar:
___ É Lourenço, Mane! Ele é assombração, a lua mansa o transforma em lobisomem, cruz-credo meu Deus, me livra desta maldição.
Em casa contaram p’ro o pai o que tinha acontecido, lutaram com um lobisomem mas não tinham percebido, depois do bicho morto, tudo foi esclarecido, Lourenço virava lobisomem, urrava e dava grandes ganidos.
Valemos de nossos facões p’ra do bicho nos defender, lutamos bravamente pois ele era forte, não tínhamos escolhas, era matar ou morrer.
(E mataram LourençoEm noite alta de lua mansa)

Serafim mudou para uma cidadezinha distante, onde a lei lá não chegava, morava numa casinha afastada, não queria se misturar.
Hoje no povoado contam que o tal Lourenço virou trem do outro mundo, unido com as forças do inferno, roubou de Maria o sossego, a fez cair na vida, em flor noturna virou, bebia cachaça e dançava na noite, nem seu pai ela respeitou.
(Todo mundo dessas redondezasConta que o tal Lourenço não deu sossegoFez cair na vida sua irmã Maria
(E os outros dois matou só de medo)

Fez a cartucheira disparar contra João, na hora em que os dois irmãos caçavam, o desespero de Mane quindim foi tanto e muito assombrado ficou, quando viu o espectro de Lourenço pisando sobre o corpo de João, dando urus de horror.
De repente começou a se transformar, num bicho peludo, de dentes afiados, Mane desabafou um grito do peito:
___ então foi tu, cabra safado, quem fez a espingarda disparar!

Rapidamente Mane disparou contra o lobisomem, mas por estar descarregada, o tiro não saiu, se viu obrigado a correr, embreando no mato sumiu.

O corpo de João foi achado, Mane Quindim nunca mais ninguém viu, Serafim deparou com o Lourenço, mas era noite de lua cheia e logo em lobisomem virou, pobre Serafim pirou, vagou por anos nos campos e montanhas, hora chorava outra dava um sorriso, assim morreu, morreu sete vezes, até abrir caminho p’ro paraíso.
(Serafim depois que viu o filhos LobisomemPerdeu o juízoÊ A ÔE morreu sete vezesAté abrir caminho pro paraíso)


Adilson Silveira
12-2010

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MINHA PEQUENA CIDADE E SEUS GRANDES ENCANTOS

“Salve Morro arrebatador e belo!
Salve da natureza, imortal primor!
Tu és um trono;um altar erguido,
A honra e a glória do teu criador!”


APRESENTAÇÃO
PATRIMÔNIO CULTURAL
“PARA PROTEGER PRECISAMOS CONHECER”


O
Patrimônio Cultural é o conjunto de manifestações, realizações e representações de um povo, de uma comunidade. Ele está presente em todos os lugares e atividades: nas ruas, em nossas casas, em nossas danças e músicas, nas artes, nos museus e escolas, igrejas e praças. Nos nossos modos de fazer, criar e trabalhar. Nos livros que escrevemos, na poesia que declamamos, nas brincadeiras que organizamos, nos cultos que professamos. Ele faz parte de nosso cotidiano e estabelece as identidades que determinam os valores que defendemos. É ele que nos faz ser o que somos. Quanto mais o país cresce e se educa, mais cresce e se diversifica o Patrimônio Cultural. O Patrimônio Cultural de cada comunidade é importante na formação da identidade de todos nós, brasileiros.
PREFÁCIO

O
reconhecimento de que todo indivíduo nasce no contexto de uma cultura e, ao longo da vida, deve participar de sua preservação e seu significado. O projeto de resgate “Morro da Garça e sua História” contribui na formação de indivíduos, para que conheçam, apropriem-se e valorizem os aspectos já considerados como parte da memória e identidade coletiva de nosso município “Se você quiser conhecer o mundo, comece por sua aldeia” (Dostoievisk).
Com base nessa premissa, durante o ano de 2010 estaremos desenvolvendo nas escolas do município o projeto “Morro da Garça e sua História” tendo como base, levar ao conhecimento dos alunos a nossa história, escrita de uma maneira bem leve, de fácil entendimento que dê ao aluno prazer em ler e conhecer a história de seus ancestrais, usando o concurso de desenhos “Escolha o mascote do Patrimônio Cultural de Morro da Garça e dê um nome a ele” como uma maneira de envolver e fazer com que eles se sintam co-responsáveis no desenvolvimento do projeto.
Sendo assim, o projeto “Morro da Garça e sua História” propõe que todos (principalmente os alunos da rede de ensino do município) tomem conhecimento da História de Morro da Garça de maneira leve, gostosa e prazerosa, enfatizando a importância da valorização de suas peculiaridades culturais que a diferenciam de outras cidades.

DEDICATÓRIA

D
edicamos este livrinho a toda população de Morro da Garça, aos alunos das Escolas Municipais: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora Imaculada Conceição e Carlos Pereira Mariz e especialmente aos vencedores do concurso “Escolha o mascote do Patrimônio Cultural de Morro da Garça e dê um nome a ele”
1º Lugar – “Morrão, o Imperador do Sertão” Diêgo Pacheco Araújo (9º ano da E. M. Carlos Pereira Mariz)
2º Lugar – “Garsolina” Ana Clara Matoso Rodrigues (6º ano da E. M. Carlos Pereira Mariz)
3º Lugar – “Cruzeirito” Jéssica Pereira (5º ano da E.M. Nossa Senhora Aparecida)
Que se empenharam no Desenvolvimento do Projeto “Morro da Garça e sua História”.




MINHA PEQUENA CIDADE E SEUS GRANDES ENCANTOS










O Senhor Cruzeirito numa certa manhã, faz contato com o Senhor Morrão, o Imperador do Sertão.
- Chamando o Senhor Imperador – câmbio, chamando o Imperador – câmbio...




O Senhor Morrão que nunca cochila, mas mesmo quando assim o faz, a tudo vê, escuta e cuida, responde:
- Morrão na escuta, pode falar Cruzeirito...

- É que acaba de chegar na porta da Igreja de Nossa Senhora Imaculada Conceição um grupo de homens que estão comprando nas vendas do povoado, estão montados em cavalos possantes e cobertos de muita poeira da estrada. O que devo fazer? – câmbio...










O Senhor Morrão responde:
- Já captei, provalmente são integrantes de uma comitiva que vem trazendo uma boiada. Fique tranquilo – câmbio...

- Grande Imperador, nossa gente humilde se alegra com seus visitantes mas preciso saber de quem se trata – câmbio...

- Não se preocupe, atento Cruzeirito, vou mandar a Senhora Garsolina investigar – câmbio e desligo.













Atendendo as ordens do Senhor Imperador do Sertão, Dona Garsolina voa sorrateira por entre o cerrado em direção ao mugido da boiada, que descansando da viagem, pastava tranquila numa clareira às margens do ribeirão que serpenteia em direção a cidade.
Dona Garsolina pousa junto à boiada e para observar os visitantes, caminha disfarçadamente em direção ao acampamento. Passo aqui..., passo ali..., devagar vai se aproximando dos boiadeiros, que em grupos conversam alto, demonstrando grande alegria, embora cansados da viagem.
Muito astuta e atenciosa, vê algo que lhe chama a atenção:
- Aquele homem sentado em meio aos demais, tem algo de estranho: é muito elegante, de pele lisa, mãos finas, e além do mais está sempre anotando em uma caderneta tudo que observa dos amigos e da paisagem ao redor.

- Este fato eu devo comunicar ao Senhor Imperador do Sertão.












Lançando vôo, Dona Garsolina logo pousa em um varjão formado por lagoas do Rio Bicudo. O Senhor Imperador lhe interroga:
- Então Garsolina, fiel garça branca, que me diz da comitiva que se aproxima?

- Existe entre os vaqueiros um homem que se comporta de uma maneira diferente dos outros.

- O que de diferente você reparou nele?

- Ele é um senhor muito elegante, refinado, de roupas de qualidade e muito atencioso com tudo que vê, usa até uma caderneta onde anota toda paisagem, os rios, lagoas e até a conversa dos outros, meu Imperador!

- Já entendi, este certamente é o médico prodigioso que saiu em comitiva da Fazenda Sirga, município de Três Marias em direção a Fazenda São Francisco, município de Araçaí, ele irá transformar essa aventura em uma linda obra de arte. Vá e diga ao atento Cruzeirito para não se preocupar com as pessoas da comitiva, diga-lhe também que daqui de cima mandarei bons ventos e noites maravilhosas para que assim possam aproveitar o máximo de nossa hospedagem no campo ou na cidade, e assim poderão aproveitar o melhor de nosso Patrimônio que um dia graças a linguagem escrita do Senhor João Guimarães Rosa será criado neste município um Conselho de Patrimônio Cultural para melhor cuidar de nossos bens móveis e imóveis.

- Senhor Imperador, é uma comitiva muito grande, é como as outras que por aqui passaram, só tem um porém...

- Um porém? Diga-me logo que porém é este?













































Dona Garsolina voa rápido para levar a mensagem a Cruzeirito.
Cruzeiritojá muito confuso com as previsões do Senhor Imperador, entra em contato com ele perguntando:
- O que será este Conselho Municipal de Patrimônio Cultural? O que ele fará?
- Será de sua responsabilidade catalogar todos os bens do município, que desde sua construção ajudaram a formar a história do nosso povo.









- É que todas as famílias que escolheram morar aqui, pouco a pouco estão escrevendo suas histórias, definindo seus costumes e crenças. crenças.

- Não entendi.


- Isto está complicado... responde o vigilante Cruzeirito.


- Mas vamos entender, este Conselho de Patrimônio será criado justamente para não deixar que a história desta gente seja esquecida ou seus legados materiais sejam demolidos se perdendo ao longo dos tempos.



- Realmente, mas logo teremos nossos bens tombados e protegidos, como a Imagem de Nossa senhora da Imaculada Conceição, o casarão que abrigará a Casa da Cultura de nosso município e você também Cruzeirito, que está imponente em frente a nosa Igreja Matriz. Os outros bens, serão catalogados e ficarão inventariados, em processo de tombamento.

- Isto vai dar uma trabalheira!













- Já estou adorando esta história e imaginando ver toda nossa cidade bem cuidada, mesmo que tiver uma nova estrutura não afetará o que retrata nosso passado.














- Mas não é só isso, serão também catalogados todos os bens imateriais, que são nossas festas, danças, saberes e também nossas crenças.






- Que lindo! Que zelo!

- Diga-me Senhor Imperador! Quais festas serão destacadas?



- Em primeiro lugar a Festa da Lavoura, que retrata a força e o trabalho do homem do campo, depois as festas religiosas e danças folclóricas.






- Gostei de ver! Acredito que assim se constrói uma comunidade avançada, mas consciente e respeitando seu passado, certos que não serão esquecidos. E o Senhor Imperador? Como ficará? Pois és uma Pirâmide Verde que se ergue tão imponente como quem aponta para o trono do Criador.



- Cruzeirito, serei dos orgulhos, o maior que teremos, serei visto como o que inspirou o mais dos intelectuais dos escritores e serei também marco de grandes viagens que cortarão este sertão. Fique firme aí amigo Cruzeirito, mantenha seus braços abertos e mostre a todos a magia e encantos deste lugar abençoado.











ADILSON SILVEIRA



FIM




MORRO DA GARÇA

O
povoado de Morro da Garça teve suas raízes no século XVII, como caminho de boiadeiro no circuito entre a Bahia até a Vila de Sabará no centro da então Província das Minas Gerais. Antes das descobertas das minas, começaram a chegar os baianos e paulistas com sua pecuária e agricultura de subsistência. Em 1650, já se tem notícia da Fazenda da Garça. A fazenda situada a poucos quilômetros de sede de Corinto,foi o estabelecimento mais antigo da região, competindo em idade somente com os da Barra do Guaicuí e Matias Cardoso (Morrinhos). Antes, porém, a região era habitada pelos índios Coroados, parentes dos Jês ou Tapuias. Às margens do São Francisco, até o município de Três Marias, eram habitadas pelos Cariris, que haviam fugido de Pernambuco, após a derrota dos holandeses, dos quais eram aliados. O sertão do Rio das Velhas esteve, no período colonial, sob jurisdição da Comarca do Rio das Velhas. Embora distante de Sabará – sede da Comarca – a sua inclusão naquele território explica-se pela indefinição dos limites territoriais de cada jurisdição. Como a região era distante da Comarca, desenvolvendo uma economia que era bem sucedida (atividades agro-pastoris responsável por uma parcela importante do abastecimento das Gerais, das minas de Goiás e Cuiabá) esteve desligada dos interesses do “exclusivo metropolitano” (mineração), e, portanto, pouco propícia à ação fiscalizadora da Coroa. Isto possibilitou que a região pudesse constituir um reduto de ordem privada, onde os proprietários negavam-se a serem incorporados à ordem político-administrativa estendida aos sertões do Rio das Velhas e São Francisco. Várias tentativas de integrar os Sertões à fiscalização da Metrópole foram feitas, sempre recebidas por ondas de rebeldias e motins. Até que em 1736, uma expedição militar da Coroa reprimiu violentamente os sublevados. Registra-se assim que o movimento dos rebeldes dos sertões do Rio das Velhas foi confronto com a ordem colonial, ao se opor ao avanço do poder público na região.
O Município foi emancipado em 30 de dezembro de 1962, através da Lei Estadual Nº 276 e sua instalação foi realizada em 1º de março de 1963. A partir daí, houve crescimento demográfico maior e reestruturação física da cidade. A sede urbana se estendeu e a estrutura do município foi pensada para atender de forma satisfatória e funcional uma população cujos valores estavam ligados ao campo.






O município de Morro da Garça preserva um diversificado patrimônio material e imaterial que revela a história de formação da cidade e do nosso povo, apresenta as nossas tradições e enriquece o nosso município. Conheça agora alguns deles.






PATRIMÔNIO IMATERIAL
FESTA DA LAVOURA
A Festa da Lavoura, que teve sua primeira edição em 1966, se chamou Festa da Colheita. Foi criada com a motivação de homenagear o trabalho do homem do campo, sua sabedoria no manejo da natureza e sua confiança no fruto da terra




FOLIA DE REIS

Também faz parte da nossa cultura a Folia de Reis ou Reisado, um folguedo popular tradicional. Em Morro da Garça é uma celebração que vem passando de geração em geração e tem como objetivo principal, manifestar sua fé quando representam os três Reis Magos, Gaspar, Baltazar e Belchior.



GUAIANA
A Guaiana começou em Morro da Garça por volta de 1900 para limpeza da roça grande. Os componentes do grupo levam consigo enxadas, estandarte, bandeira colorida e, de dois em dois, são entoadas cantigas específicas: “de vera meu patrão, vai escutar o que eu vou falar. Sua roça está no limpo, Nossa Senhora que vai ajudar. Guaiana entrega o pé de milho...” No final da roça limpa, o patrão oferecia o jantar, onde era levado o pé de milho. Pela tradição, no final da limpeza da roça recebiam jantar oferecido pelo patrão.


PATRIMÔNIO MATERIAL
CASA DA CULTURA DO SERTÃO

O casarão em posição de destaque, na esquina da Rua Boaventura Pereira Leite com a Rua Deputado Manoel Pereira da Silveira, em frente à Praça de São Sebastião, segundo relato de moradores, era composto por “baldrame de estacas e escadarias de pedras tapiocanga, com o tempo e a modernização as ruas foram aterradas para receber calçamento, desaparecendo então as estacas”. Abriga hoje a Casa da Cultura do Sertão (Bem Tombado).

IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA CONÇEIÇÃO

A imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, localizada na Igreja Matriz Nossa Senhora da Imaculada Conceição, situada à Praça São Sebastião, tem suas características barrocas e grande valor artístico, histórico e religioso (bem tombado).


PATRIMÔNIO NATURAL
MORRÃO

Elevação rochosa (a mais elevada da região), gloriosa, bela denominado pela população local como “Morrão”, com cerca de 1.000 m de altitude. Ao seu sopé ficava a Fazenda da Garça (motivo de seu nome). Ao que parece, o arraial se formou em torno da Capela de Nossa Senhora das Maravilhas, construída em 1720 nas terras da referida fazenda.
Na imensidão plana do cerrado mineiro, esse morro serviu ao longo dos últimos três séculos como um guia para viajantes, tropeiros e “comitivas” de gado. Os viajantes faziam paradas de descanso na Fazenda da Garça, a última no caminho entre a Bahia e as minas de ouro de Sabará.

“O mais importante e bonito do mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre mudando...”
João Guimarães Rosa
GLOSSÁRIO
Aldeia - Pequena povoação, sem categoria de vila ou cidade.
Ancestrais - Que diz respeito aos antepassados; antigo, primitivo.
Apropriar - Tomar para si; apossar-se, usurpar: apropriou-se do que não era seu.
Arraial - Acampamento, campo. /Bras. Aldeia, lugarejo.
Astuta - Astucioso, ardiloso. / Sutil, sagaz.
Baldrame – Alicerces de alvenaria. / Base de parede ou de muralha.
Bens imóveis – Que não se move. / Diz-se de um bem ou propriedade que não é móvel.. Casa, edifício, prédio
Bens móveis - Direitos Bens móveis, todos os objetos materiais que por sua natureza não possam ser compreendidos entre os bens imóveis, e todos os direitos inerentes a esses bens. Também se diz simplesmente móvel
Captar - Atrair para si, granjear, conquistar
Catalogar – Inscrever em catálogo; inventariar, classificar: catalogar livros.
Cochilar – Adormecer quase sem perceber e dormir pouco tempo; dormir sono leve e passageiro; dormitar.
Coletiva - Que compreende, abrange muitas pessoas ou muitas coisas, ou lhes diz respeito; que pertence a um conjunto de pessoas ou de coisas
Comitiva - Acompanhamento, séquito
Contexto – Conjunto do texto que precede ou sucede uma frase, um grupo de palavras, uma palavra. / Conjunto de circunstâncias que acompanham um acontecimento
Cotidiano – De cada dia: trabalho cotidiano. (Sin.: diário.) / &151; s.m. Aquilo que se faz todos os dias, o que acontece habitualmente: a monotonia do cotidiano.
Crenças – Ação de crer na verdade ou na possibilidade de uma coisa. / Convicção íntima. / Opinião que se adota com fé e convicção. / Fé religiosa
Cultos – Homenagem religiosa que se tributa a Deus ou aos entes sobrenaturais; liturgia; ofício divino. / Religião
Demográfico - Relativo à demografia: estudo demográfico.
Demolidos - Destruir, arrasar, derrubar pedra por pedra: demolir uma casa. / Fig. Arruinar, destruir: demolir uma instituição.
Diversificado – Tornar diverso, fazer variar
Empenhar - Dar em penhor; hipotecar. / Impelir, obrigar. / Empregar ou aplicar com toda diligência. / Arriscar: empenhava a vida em jogo perigoso.
Entoada – Fazer soar. / Cantar, começar um canto: entoar/ Fig. Entoar loas (ou louvores), celebrar, louvar.
Específica – Descrever, determinar; enumerar todos os detalhes; esmiuçar.
Folguedo – Ato de brincar; brincadeira, divertimento.
Funcional – Que responde a uma função determinada: arquitetura funcional.
Incorporados - Reunir intimamente: incorporar óleo à cera. / Proceder à incorporação de: incorporar os novos alunos. / Reunir (condôminos) para construção de imóvel. / &151; V.pr. Entrar na composição de algum corpo ou nele se meter. / Fig. Congregar-se, reunir-se, juntar-se a.
Içando – Levantar, erguer: içar as velas de uma embarcação; içar uma bandeira.
Identidade - Conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa (nome, idade, sexo, estado civil, filiação etc.): verificar a identidade de alguém. // Identidade pessoal, consciência que alguém tem de si mesmo.
Indefinição - Que não se pode definir, explicar; vago. / Incerto, indeciso, indistinto.
Imponente – Que é próprio para atrair os olhares, as atenções, o respeito; que impõe admiração: figura imponente. / Considerável: forças imponentes. / Arrogante, sobranceiro: falou-me com modo imponente. / Majestoso
Indivíduo - Todo ser, animal ou vegetal, em relação à sua espécie: o gênero, a espécie e o indivíduo. / Pessoa considerada isoladamente, em relação a uma coletividade
Inventariado – Registro, catálogo por escrito e por artigos, dos bens, móveis, títulos, papéis de uma pessoa: fazer o inventário de uma sucessão. / O papel em que se acham escritos e descritos esses bens. / Avaliação das mercadorias armazenadas e dos diversos valores, para conhecer lucros e perdas: o comerciante deve fazer de vez em quando seu inventário.
Jurisdição - Poder ou direito de julgar. / Extensão territorial em que atua um juiz. / Alçada: a jurisdição da Corte estendeu-se a todo o país. / Competência: minha jurisdição não chega até aí.
Legado – Valor ou objeto que alguém deixa a outro em testamento.
Manejo – Ato de manejar, de servir-se de: o manejo de um instrumento. // Manejo de armas, exercícios regulamentares executados pelos soldados com suas armas, seja para se servirem delas em combate, seja para desfilar, para render homenagens etc.
Mascote – Fetiche, amuleto para dar felicidade. / Animal de estimação que se crê trazer sorte e que, por isso, se adota como símbolo totêmico de clubes, corporações etc.: a mascote dos Fuzileiros Navais é um carneiro.
Metrópole - Nação, considerada relativamente aos países que dela dependem. / Cidade principal de um país, de um estado, de uma região; cidade grande.
Motim - Revolta contra a autoridade. &151; O termo ficou popularmente restrito a uma tentativa ilegal por parte da tripulação de um navio para assumir o seu comando, mas se aplica também a qualquer tentativa ilegal de um grupo militar para assumir ou derrubar a autoridade militar. O motim é uma das mais graves ofensas militares.
Peculiaridade - Que é próprio de alguém ou de alguma coisa; que constitui atributo característico de alguém ou de alguma coisa. / Relativo a pecúlio.
Possante - Que tem força, robustez. / Poderoso.
Prazerosa – Satisfação, deleite, delícia. / Boa vontade, agrado. / Distração, divertimento.
Premissa – Lógica Cada uma das duas proposições de um silogismo (a maior e a menor), das quais se tira a conclusão. / P. ext. Ponto de que se parte para armar um raciocínio.
Privada - Impedir ou tirar alguma coisa de alguém: privar uma criança de brincar; privar um homem de seus direitos civis. Estar em convivência íntima; conviver: privar da intimidade dos governantes. / &151; v.pr. Impor-se privações; abster-se.
Prodigioso - Que tem o caráter de prodígio; miraculoso; maravilhoso; espantoso; extraordinário.
Professar – Declarar; reconhecer publicamente; confessar. / Preconizar, ter a convicção de: professas idéias socialistas. / Ensinar. / &151; v.i. Fazer votos, entrando para uma ordem religiosa.
Propícia - Tornar propício, favorável. / Proporcionar.
Província– Divisão territorial colocada sob a autoridade de um delegado do poder central: as províncias romanas. / Qualquer parte do território de um país que não é capital; interior: viver na província. / Distrito de ordem religiosa.
Rebeldia - Ato de rebelar-se; não-conformidade, reação. / Fig. Oposição, resistência. / Birra, teimosia.
Reduto - Pequena obra de fortificação isolada. / Espaço fechado. / Recinto demarcado. / Ponto de concentração.
Reestruturação - Dar nova estrutura a; reformular em novas bases estruturais: reestruturar o setor agrícola da economia. / Reorganizar./ &151; v.pr. Adquirir nova estrutura; reorganizar-se
Relato- Narrar, expor: relatar o ocorrido. / Apresentar relatório. / Resumir, verbalmente ou por escrito, o conteúdo de um processo, de um projeto de lei etc., e sobre ele manifestar-se, para orientar a votação de seus pares em órgão de deliberação coletiva. Resgate – Recuperar algo cedido a outrem mediante pagamento do preço: resgatar um objeto. / Libertar a preço de dinheiro ou concessões: resgatar prisioneiros. / Salvar: Jesus veio
Serpentear- Mover-se como as serpentes fazendo curvas; serpear: o regato serpenteia entre as rochas.
Sopé – Falda, base de montanha, parte inferior da encosta. / Parte da rocha ou muro mais próxima do solo.
Sorrateira – adj. Que faz as coisas com manha, à calada; matreiro. // Olhar sorrateiro, olhar disfarçado, olhar oblíquo.
Sublevados - Levantar de baixo para cima. / Incitar à revolta; insurrecionar: sublevar as massas. / &151; V.pr. Amotinar-se, rebelar-se, revoltar-se.
Subsistência - Estado daquilo que subsiste; estabilidade, permanência, sobrevivência. / Conjunto de coisas necessárias para a manutenção da vida; sustento, alimentação, víveres: garantir a subsistência da família. // Serviço de subsistência, serviço da intendência militar que tem a função de fornecer o necessário para a alimentação da tropa.
Tombado– por sob guarda para conservar e proteger os bens (móveis e imóveis) de interesse público.
Varjão - Planície, terreno plano em vale extenso e cultivado. / Bras. Terreno cultivável junto aos rios e ribeirões.
Vigilante- Que vigia. / Cuidadoso, atento, zeloso. / &151; Pessoa encarregada de vigiar. // Maçon. Irmão vigilante ou vigilante, indivíduo encarregado de zelar pela segurança do templo.



BIBLIOGRAFIA

· Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre;
· Padre joão Batista Boaventura Leite, CSSR/Morro da Garça No Centenário da Paróquia/1966;
· Agenda 21 de Morro da Garça;
· Arquivo da Casa da Cultura do Sertão.






EQUIPE TÉCNICA
COORDENAÇÃO:
LILIANE DIAMANTINO BOAVENTURA
CAPA:
ADRIANO NEVES
FOTOS:
ADRIANO NEVES
MARIA DE FÁTIMA COELHO E CASTRO
LILIANE DIAMANTINO BOAVENTURA
ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO DE TEXTOS:
FÁTIMA BOAVENTURA
COLABORADORES:
DIVA MARQUES DA SILVA
ALINE GOMES BARBOSA
ILUSTRAÇÃO:
DIÊGO PACHECO ARAÚJO
ANA CLARA MATOSO RODRIGUES
JÉSSICA PEREIRA
TEXTO DA HISTÓRIA “MINHA PEQUENA CIDADE E SEUS GRANDES ENCANTOS:
ADILSON SILVEIRA



Lançamento deste livro e noite de autografos no dia
28 de setembro de 2010, na Casa da Cultura doSertão
Por ocasião do XV Encontro de Arte e Cultura ao Pé da Pirâmide do Sertão – de 25 de setembro a 02 de outubro de 2010.