terça-feira, 10 de maio de 2011

A MENINA E O LOBO GUARÁ

A MENINA E O LOBO GUARÁ


Silenciosa e calma, a floresta escuta um cântico que quebra a melodia rotineira dos ventos e pássaros. Um grande ipê Amarelo se pergunta:
___ Quem vem lá? Não é possível tirar um cochilo com tamanho barulho e desafinamento!
A voz ressoa cada vês mais alto, sinal que o responsável por tanto barulho se aproxima cada vez mais,
___ ... levar estes doces para a vovó fraquinha, venho de longe, atravessei o deserto, vou lavar meus pés no córrego aqui bem perto...
O grande Ipê olha para baixo e vê uma menina assentada sob sua sombra, trazia uma cesta de palha trançada, abanou-se para ficar refrescada, espreguiçou com os braços para aliviar o cansaço, pois era mais de meio dia, o sol era um mormaço. A menina era negrinha, logo a arvore à trilha do quilombo lembrou:
___ É filha dos escravos que entre nós se esconderam, certamente vai p’ro ranchinho na clareira, onde mora gente do povo seu. Minutos passaram a menina sumiu, mas logo adiante um perigo surgiu. Um guará bem amarelo (lobo astuto, habitante naquele sertão) sentiu o cheiro do lanche, seguiu seu extinto de cão, vou roubar aquela cesta e fazer minha refeição. A menina parou na beira do lago, a cesta encima da pedra ficou, foi banhar seus pés e assim se aliviar do calor. O guará veio sorrateiro, logo na cesta pulou, correu para o meio da mata, mas uma coisa não contou. O ipê vigiava a menina e viu o furto acontecer. Mandou então um cipó, a negrinha defender, o pé do lobo prendeu no golpe que o cipó armou, com a outra ponta depressa, a cesta o cipó levantou. Levou para o alto da arvore, onde o lobo não podia pegar. A menina chegou correndo, veio sua cesta buscar. O lobo não gosta de gente, atrás da arvore se escondeu, viu a menina pegar a cesta, nesta hora, a baba desceu. Tinha que arrumar um plano para aquela cesta roubar, adiantou-se pelo caminho foi no casebre se esconder, pois aquela menina seguia a trilha, que naquele casebre dava, certamente era p’ra vovozinha que aquelas gostosuras levava.
___ Quem é? Respondeu a velhinha ao chamado na porta.
___ Sou eu, sua netinha, venha logo me receber?
___ Já conheço esta estória, neste truque não vou cair, dê meia volta e vá embora, que eu preciso dormir.
Que velha sacana murmurou o lobo, mas ela não vai me escapar. Correu para detrás de uma arvore, esperou a menina chegar.
___ quem é ? respondeu a vovozinha ao chamado.
___ sou eu, sua neta que vim lhe visitar, trousse doces e tortas, mamãe quer saber como a senhora está.
­­­___ quando a velhinha abriu a porta, o lobo encima das duas pulou, rolaram para dentro da sala, com um chute na porta, logo o lobo a fechou. Se agarrou firme na cesta, queria os doces devorar, a velhinha gritou por socorro, a floresta veio ajudar.

Um cipó entrou pela janela foi logo no lobo batendo, mas o Guará era esperto com os dentes foi se defendendo, cortou o cipó a dentadas e p´ra velhinha foi dizendo:
___ Aqui não há caçadores que na outra estória me ferrou, vou comer os doces primeiro, um a um , ora se vou. Depois se vocês ficarem boazinhas, vou embora sem me enfezar. Do contrario fico nervoso, aí o bicho vai pegar. Não há cipó que me segure, é melhor não me amolar.
Dos olhos da menina correu uma lagrima, que até o sol se comoveu, mandou um raio de luz no pingo da lagrima que contra o lobo se refletiu, a luz foi tão intensificada que os olhos do lobo feriram .
___ Aai ... o que é isto, meus olhos estão queimando com esta luz que aqui entrou, a cesta, cadê meus doces, estou cego, que horror...
Aproveitando a distração do lobo, a velhinha a vassoura pegou, pulou no lobo a pauladas que gritando assim falou:
___ Chega, chega, eu vou embora, vou voltar pro meu lugar, nem, tanto eu gosto de doces, chega vovó, deixa eu passar...
Debaixo da surra da velhinha, para o lado da janela o lobo pulou, a vassoura assoviava no ar, e batia, batia de fazer dó, o lobo conseguiu fugir prometendo nunca mais voltar.
___ chega, aaí, ai, velha burrona, nunca vi tanta ignorância por causa de uns docinhos, nunca mais venho te visitar e esta menina de boné, nunca mais... só me deu azar
Cruz/credo doscêss.


Adilson Silveira
02-2011

EXPERIMENTANDO A ESPINGARDA (ADAPTADO)

__ Olha compadre, a espingarda que eu comprei!
Dizia todo feliz o senhor Lorenço ao seu compadre Joaquim, enquanto lhe exibia uma polveira que havia adquirido de um outro caçador que mora nas terras altas entre as montanhas, lá nos fundão dos gerais.
___ Mas compadre Lorenço, o senhor fez uma compra boa deveras, esta espingarda está como nova! Vamos faze o seguinte, vamos exprementar logo este trem, pra ver se ela é boa mesmo.
___ Mas compadre, eu não tenho nada pra dar tiro aqui comigo.
___ Larga disto, sô, aqui em casa tenho tudo, se assenta que eu vou lá dentro buscar.
Assim o Senhor Joaquim vai á dispensa buscar os apetrechos para poderem experimentar a polveira, tava doidim para escutar o tiro.
___ Olha compadre, é melhor nos irmos lá pra fora, pra fazer uma carga boa nesta bichinha e ver se valeu seu dinheiro.
Vão os dois porta a fora e param sob a sombra de um antigo pé de manga.
___ Oia compadre Lorenço, se acomode aí neste toco de pau, aqui ta a pólvora, a palha pra bucha e chumbo médio, carregue esta belezura que eu vou fazer meu cigarim de cá.
Então Lorenço acomoda a espingarda entre as perna e lhe coloca um traço de pólvora, o Joaquim lá..., fazendo seu paiero. Então Lorenço que já havia mascado um pouco da palha para amaciar a bucha, a tira da boca e quando vai coloca-la no cano, seu compadre lhe fala.
___ Espera aí compadre, esta pólvora está muito pouca, isto só vai dar um tirinho...
___ Mas compadre, este tanto ta bom demais, é o normal sô...
___ Não compadre deixa de ser mão de vaca, coloca mais pólvora nesta espingarda sô, vamos fazer um tiro bão, daqueles que dá pra ouvir lá pras bandas da casa dona zifinha.
___ Oia compadre, este trem vai ficar forte demais...
___ Ce besta sô, pode dobrar esta pólvora.
Então o Lorenço coloca outra talagada de pólvora, prepara a bucha e comece a socar com a vareta para dar firmeza na pólvora. O Joaquim ta lá, enrolando seu cigarinho, mas de olho. De quando em quando falava: encarca bem esta pólvora que eu quero ouvir um tirão. Depois da bucha da pólvora já bem prensada, Lorenço começa e colocar o chumbo, já ia parando quando o Joaquim falou:
___ Mas só este tiquim de chumbo compadre, pode por mais chumbo neste trem, só isto não vale de nada, senão como nos vamos ficar sabendo que a espingarda é boa!
O Lorenço dá um balançado nos ombros e lá vai mais chumbo, depois de colocar a bucha e socar bastante a vareta, pegar a espingarda nos braços, lhe levanta o cão e coloca a espuleta, daí, abaixa o cão bem devagar para melhor assentar a espuleta e passa a espingarda pro compadre Joaquim.
___ Toma compadre, pode detonar, porque eu não tenho nem coragem.
___ Que isto compadre, ocê ta doido, eu só quero ouvir o estrondo da bicha, eu hem...
___ Mas foi o senhor que mandou eu por muita carga, agora o senhor atira...
___ Nem pensar compadre, eu não conheço esta espingarda, vai que ela não aquenta... tô fora...
___ Então nos temos que arrumar um para detonar este tiro.
Nisto acaba de chegar para uma visita um tal de Raimundo, um homem de meia idade, também é caçador, mas não escutava nada dos ouvidos, tinha ficado surdo desde que foi atacado numa caçada por uma colméia de abelhas brabas do cerrado. Então Joaquim acena e faz muito movimento para chamar a atenção de Raimundo, ele percebe os dois homens debaixo da mangueira e se dirige para lá, atendendo o chamado dos dois caçadores.
___ Vem cá Raimundo, dá um tiro aqui pra nos, exprementa aqui pra nos vermos o tiro.
Depois de muito gesticular os dois homens fizeram o surdo entender que queriam apenas que ele desse um tiro com aquela espingarda. O pobre pega a espingarda com cuidado, levanta a coronha na altura do ombro vira pra o tronco do pé de manga e rasta o dedo. A espingarda deu um tiro tão bem forte e formou um fumaceiro branco na hora que cobriu todos os três caçadores. Quando a fumaça se desfez no ar e deu para os homens se enxergarem, aí viram o mudo com os braços esticados e segurando a espingarda deitada na palma das mãos, com uma cara de decepcionado lhes disse:
___ Ué, a espingarda mascou?


Adilson Silveira
03 - 2011

A CAÇADA DA ONÇA...

___ É pedreira!...
___ Que isto, tu estas chorando só de ver o rasto da onça.
___ É compadre, mas desta vez o pé parece ser grande demais.
___ Calma, compadre, para que serve estes dois trabucos que nos estamos trazendo? Isto não faz so barulho não, isto mata sem base!
___ Mas pra matar é preciso ter tempo de atirar. E se o bicho não der folga?
___ Uai, nos somos dois, enquanto ela aperta um, o outro passa o burraio nela.

Assim vai os dois compadres conversando pelo caminho e de olho em tudo que se movia. Qualquer movimento no mato ou barulho de algo, era caminho para a mira das armas. Assim os dois chegam ao final do mato á beira um poção d’agua, que é a bebida de todos os animais daquele capão. Abrindo as folhas para olhar com cuidado, um compadre fala:
___ olha compadre, o bicho está ali, bebendo água que dá gosto. Desta vez ela não escapa.
___ cuidado compadre, não deixa ela te ver, hem!
___ Sorte nossa que o vento está soprando do lado de lá para cá, senão ela já teria sentido nosso cheiro e já tinha corrido, esse bicho, rumm!
___ olha compadre desta vez ela não nos escapa, faz o seguinte o senhor rudeia o mato e vai do lado de lá, porque se ela dê de fugir, ela irá pro seu lado ...
___ cruz- credo.
___ Aí compadre, o senhor lhe mostra como se atira, com estes cartuchus, só com o barulho já é capaz dela morrer.

Assim o compadre vai silencioso e sorrateiro como um gato que fareja a caça. Do lado de cá da lagoa, o compadre calcula o tempo que o companheiro levaria para chegar do outro lado e se posicionar. Astuto está sempre ali, de olho na fera, que com a calma do ambiente nem suspeita que estão tramando seu fim, coitadinha, se tudo der como os caçadores pensam, será fatal para o felino.
O compadre quando completou a volta, não contava que estaria a favor do vento, que rapidamente levou seu cheiro direto nas narinas da onça, com o olfato bem apurado, sentindo o cheiro de homem, percebe o perigo que corre. Levantando-se rapidamente, dá um rugido e se prepara para fugir. O compadre que já estava com a onça na mira, não perdeu tempo, quando viu que a onça ia embora, fechou um olho e apertou o gatilho, nesta mesma hora o outro compadre que tinha dado a volta para cercar a onça, percebeu que tudo ia dar em nada, pois o bicho o havia percebido e já estava leve nas pernas para cair no mato... se apruma depressa, se prepara para também dar um tiro. Seu compadre já havia disparado e num relance vê seu parceiro se levantar bem na frente da mira de seu trabuco que já tinha queimado a espuleta e detonado o tiro. O desespero foi enorme:
____ É divera, a onça acaba de saltar e a bala vai chapar em cheio meu compadre que ficou na mira.

Na esperança de salvar seu compadre o caçador leva a mão na boca da espingarda que já estava com a bala viajando dentro do cano, tampa sua saída com a palma da mão e grita apavorado:
___ sai fora compadre, já detonei e lá vai o tiro.
Enquanto a onça já levantava os pés do chão alertado pelo grito, cai na margaça e deixa os dois homens resolvendo o rolo que eles tinham armado.
O compadre vê o outro com a mão na boca da espingarda que já estava até gorfando para soltar a bala, mas não podia sair porque o cano estava tampado pela abençoada mão do compadre, aí ele se abaixa rapidamente e o compadre tira a mão do cano da espingarda que cospe a bala fazendo mil.
Aí ele falou pro compadre que assoprava a mão aquecida pela bala:
___ Hêe cumpadre, se o senhor não é esperto para tapar a bala, nesta hora quem tava com o coro furado era eu.
Hêee diacho! Sô...




Adilson Silveira
Estórias fantásticas
02-2011