sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A INGRATIDÃO DE UM HOMEM

Meu Deus que faço nesta vida?
E da minha vida...
O que foi que eu fiz?

Queria ter algum orgulho,
Mas como ter
Se no fundo do poço
Não tenho orgulho nem do comer.

Caído nas sarjetas
Muitas vezes eu me vi,
Pedindo um pedaço de pão
Ou um paninho p’ra dormir.

Virei escoria do mundo
Não sou contado como mais um
Sou isto que virei,
Mais um, no mundo de nenhum.

Sem perspectiva de vida
Tornei um mane ninguém,
Sou lembrança de um passado
Tornei-me nada, sem valor de vintém.

Mas ainda lembro de onde vim
Esperança nos braços a balançar
Minha mãe em mim confiava ...
Como a pude decepcionar.

Ao lembrar de minha mãe
Sinto algo em mim despertar
Será a benção que é todas as mães
Querendo agora me levantar?

Se lembro de quem amei
Caio novamente no chão
Se falo em minha mãe
Sinto inquietar meu coração!





Me acabei nas dores do mundo
Não acho forças para levantar
Mas quando penso em mamãe querida
Me sinto na obrigação de mudar.

Se eu ficar como estou
É puro egoísmo, posso dizer
Desiludi tantas pessoas
Esta confiança não pode morrer.

As moedas que me jogarem
Uma a uma vou guardar
Vou comparar uma roupa nova
Esta derrota vai passar.

Seu moço me vende um terno,
Do nada, vou me levantar
Vou comparar uma passagem de trem
Esta vida eu vou mudar.

Vou embarcar p’ro meu sertão
Consertar o meu passado
Pedir perdão minha família
Recomeçar um lar honrado

Me sinto estranho voltando p’ra casa
Neste ônibus, nenhum conhecido tem
Parece até que peguei o carro errado
Aqui não conheço ninguém.

Sinto meu peito amargurado
Como estará minha mulher
A quem a tempos deixei
sem uma noticia siquer.

Fui levado pela aventura
Dôidura que não tem perdão
Uma cabroxa formosa
Me enfeitiçou o coração.





Larguei tudo que eu tinha
Nem a ultima colheta fiz
Saí de casa a galope
Procurando ser mais feliz

Tava cego seu moço, Eu juro
Se eu tivesse pensado um segundo
Esta doidura não faria
Não trocaria toda a felicidade do mundo
Por aquela que eu já tinha

Junto com a noite chego na cidade
Sem coragem de procurar
Alguém ali conhecido,
P’ra poder lhe perguntar?

O que é feito de Maria dos anjos?
Amor que a muito deixei
Partindo com uma ingrata
A minha honra manchei.

O dinheiro que eu guardava
Para na velhice gastar
Foi-se embora em pouco tempo
Com uma vida de esbanjar

Um homem sem dinheiro não tem valor
Descobri num despertar
A ingrata me largou
Com muitas contas p´ra pagar.

A mobilha da nova casa
Tive então que vender
Já não tinha um teto p’ra guarda-la
E precisava comer.

Voltar p´ro meu rancho não tinha coragem
Como eu iria enfrentar,
Pedir perdão a Maria dos Anjos,
Sei que fui um ingrato, mas não vou assim me humilhar.




Nasce o dia, estou chegando no rancho
Fico incrédulo ao perceber
Cadê o canavial e o arrozal no brejão
Cadê tudo isto, cadê.

Sigo o caminho entristecido
Não escuto as criação
Não escuto um só galo cantar
Já me dói o coração.

Não posso acreditar que estou no terreiro
Só vejo mato ao meu redor
A casa que foi meu lar
Desmoronada, virou pó

O que terá acontecido,
meu Deus vem me dizer,
Onde está Maria dos Anjos.
Porque não vem me receber?

Estou ainda de joelhos no chão
Quando um cavaleiro chegou
Perguntei o que aconteceu,
Porque tudo aqui se acabou?

___Tudo foi obra de um desgraçado
Que, com Maria um dia casou,
Desprezou a coitadinha
E nunca noticias mandou.

Maria descobriu que estava grávida
Chorava o pai que se afastou
A menina foi crescendo nesta amargura
Cadê papai, cadê, busca ele por favor.

De uma bronquite fatal
A menina veio a falecer
Falando sempre no pai
Que não pode conhecer.




Aumentou o sofrimento de Maria
Que de tristeza se definhou
Foi ficando fraquinha e miúda
Até que a morte, um dia a levou

Do covarde maldito ninguém soube mais nada
Aqui na fazendinha a tristeza se arriou
De sede e fome morreram os porcos.
Fogo um dia a pastagem queimou

A casinha abandonada
Sem morador, começou a se afundar
A estrada da fazenda criou mato
Por aqui, é difícil alguém passar.

Mas todos conhecem a historia
Aqui já foi um grande lar
Era um cantinho feliz
Que a ingratidão de um covarde
Um dia fez tudo se acabar.



Chamou o animal na trilha
Seu caminho seguiu
Me deixou ali solitário, minhas lagrimas
se emendaram feito um rosário,
na poeira do chão sumiu.

Eu que pensei ter sofrido
Toda dor ao ser desprezado,
Descobri que o remorso dói mais
E me tornou um desgraçado.

Desprezei quem me amava
Nem minha filha conheci,
Meu Deus que vagabundo eu fui?
Só me resta esta dor me consumir.

Fim

Adilson Silveira
Maio de 2010.

Heloisa, festa à pequena cristã

A oferta me chega pela ponta do fio
___ Como vai meu irmão, quando você vem p’ra cá?
Preciso de sua presença e nesta você não pode faltar
Minha filha já faz três meses e o senhor vem batizar.

___ Querido irmão você ta doido, em São Paulo não quero ir
Tenho muito que fazer, não arredo o pé daqui,
fico honrado pelo convite, mas tem coisas que não dá
confira seus planos direito, faz as malas e vem p’ra cá.

___ Meu irmão vamos combinar, para o próximo feriado
Você cuida das coisas por aí, que a peteca não cai do meu lado.
Vou juntar minha família, o batizado tem que sair
Prepare tudo e me aguarde, esta promessa eu vou cumprir.

___ Aproveita e traz meus irmãos que há muito tempo não vejo
César, família e Joaquim, todos tem que estar presentes,
O branquinha e sua família estes não podem faltar
Dos daqui eu me encarrego, estaremos todos a esperar.

É minha sobrinha e afilhada, eu tinha que me orgulhar,
Programamos a festa, construí barraca, pus pindoba p´ra enfeitar,
Instalei som, fiz musica ao vivo, contratei gente p´ra tocar,
O batizado se aproximava, não via a hora de chegar.

Era para cinco de setembro, mas dia três começou tudo a se engrenar,
Chegavam os primeiros convidados, na churrasqueira carvão a queimar,
Cada carro que chegava mais alegria trazia,
Vinham amigos e parentes meus, de alegria eu quase explodia.
Minha afilhada tão bela, foi a segunda vez que a vi,
Tinha crescido tanto e tão linda, quase não a reconheci,
Os pais tão vaidosos, tinham alegria no olhar,
Esperavam com ansiedade o dia do batismo chegar.

Tudo é festa, sábado a noite a alegria multiplicou,
Convidados, amigos e irmãos. A minha casa transformou.
Tinha gente p´ra todo lado, em harmonia e amor,
Cerveja é dona do sábado, a carne assada acompanhou.

A energia elétrica fez sua graça, piscou três vezes depois se apagou,
A lua tímida foi vencida pela escuridão, mas a festa não parou.
Sob luz de velas e lanternas, as cordas do violão bradaram,
Modas rancheiras e sucessos da hora, em roda de viola todos cantaram.

Com o efeito das velas acessas, o requinte aumentou,
As pessoas se juntaram mais, aumentando a força do amor.
Violão, música e fogão aceso, o tira gosto não faltou,
Foi assim por mais de duas horas, de repente a energia chegou.

Veio saudar aquela gente, festejando com satisfação,
Éramos todos uma só família, pois com o Carlinho,
Não tinha separação, ambientado, carismático e delicado,
O japonês se adaptou logo ao povão.

A festa se manteve por quatro dias, era alegria no coração
Deste anfitrião privilegiado, nem parecia o menor dos irmãos!!!


Adilson Silveira
Mês de setembro de 2010.