sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

ERA UMA VEZ NOS GERAIS – III

(A Ignorância Deu Em Nada)

Nonato ainda adolescente matou para vingar sua mãe, anos mais tarde...

Homem típico da roça, com instrução escolar apenas de segundo ano, depois, só serviços para ajudar sua mãe e se manter com o pouco que ganhava. Este homem traz uma historia de muito sofrimento e falta de afeto de um lar bem constituído. Cresceu criado quase sempre de mãos em mãos, e agora entendendo melhor as coisas da vida chegou a dizer que sua mãe quando o trouxe ao mundo, ao invés de lhe dar a luz, fez foi a roubar. Mas como sempre foi muito valente e bom de serviços, nunca faltou um fazendeiro que lhe desse teto e comida por seus serviços. Hoje casado e pai de três filhos, se considera feliz, pois é homem de confiança de seu patrão. Que para não perder seus serviços para outros fazendeiros, lhe permite manter algumas criações em seus pastos, lhe dá casa boa para morar na fazenda e o alegra dizendo:
___ Na fazenda é você quem manda.
Um dia ao chegar para almoçar, mau o coitado desceu da mula, ainda do terreiro, seus tímpanos vibraram com a voz de sua mulher!
___ Nonato, o menino esta com tosse e não há chá de sabugueiro que de volta, almoça e aproveita o animal arreado, vai lá dentro (centro da cidade), compre um vidro de xarope para ver se assim ele dorme melhor esta noite.
Ainda com o gosto da comida na boca, sem apear do animal, ouvi-se o barulho da porteira se fechando e seguidamente o estalar da chibata no lombo da besta. O sol se inclinava do centro do céu em meio a um azul chuviscado com nuvens ralas. No bolso da calça de Nonato se percebia o volume do vidro da infusão comprada na farmácia para combater a tosse do filho. Lembrando da recomendação de seu filho menor, lhe pedindo que comprasse balas na venda, apeia da mula junto a uma sombra fresquinha, passa um nó no estacado e vai em direção a um armazém. Depois de bater a poeira das botinas, tira o chapéu da cabeça puxando-o pelo bico com a mão esquerda. Dizendo boa-tarde se debruça no balcão de madeira, logo, pede uns trocados de bala e deixa escorregar pelos dedos algumas moedas que conferindo-as, logo são catadas pelo comerciante. Apesar da pressa de voltar para casa, movido pelo instinto de sobrevivência, Nonato se voltar para um canto escuro do comercio, de onde um homem recostado na ponta do balcão, segurando um copo de pinga junto a boca, o observa como bicho que atocaia a presa. Os dois olhares se cruzam e Nonato percebe que o homem é o soldado Medeiros, este trajava uma farda empoeirada da Policia Militar, e os seus olhos miúdos e brilhantes, demonstram que aquela não era sua primeira pinga do dia. Por sua vez, o militar aprumando o corpo se dirige a ele com uma pergunta que denota autoritarismo e presunção:
____ O que é isto aí no bolso? Passe para cá este revolver.
Nonato se surpreende com a indagação e rindo lhe responde:
____ Que revolver que nada Medeiros, isto é vidro de remédio, vou lhe mostrar agora o que te deixou cismado...
Neste instante Nonato leva a mão no bolso para tirar o xarope, mas o soldado que tem experiência com este tipo de conduta, se lança sobre ele, tentando imobilizar-lhe os braços temendo que este fosse arrancar uma arma. O choque dos dois homens faz o vidro de remédio cair no chão e quebrar. Nonato se estica tentando evitar perder o remédio esperado por seu filho, mas, é inevitável, o soldado o mobiliza de tal maneira que somente seus olhos acompanham o medicamento que se derramaria em frações de segundos ao se estalar no chão. O matuto que nunca se permitiu um desaforo como bagagem, dá uma rodada no corpo e se solta do gancho de seu agressor. Olha rapidamente o liquido vermelho do xarope escorrendo no chão e xinga baixinho “ bebum safado”. Um pensamento toma conta de seu juízo “agora sim esta fazendo falta minha peixeira”. O soldado esbravejando palavras de ordem militar, se encaminha para prender o matuto que já bufava como um touro no brite.
Já aconteceu!... Agora só Deus segura a fera despertada do homem, um vôo espetacular leva Nonato a pousar na garganta do infeliz, que com o impacto rola porta afora levantando uma nuvem de poeira. O comerciante grita por ajuda e tenta apartar os dois... mas, nesta hora nem mesmo a madrinha de Nonato seria ouvida, coices, muros e pontapés eram distribuídos entre os dois e a quem mais chegasse perto. Já havia juntado uma boa torcida quando o Jipe da policia trava os freios junto aos brigões. Nonato é algemado e levado á delegacia, onde por desacato à autoridade, ficou preso por três dias. Infeliz decisão do comandante em serviço, pois a cada instante crescia mais e mais o ódio por aquele que o fez passar esta vergonha. Em meio a um dia de sexta-feira, a cancela se abre e o seu ranger traz para a porta da casa, toda a família de Nonato que o recebeu com alegria. O menino que estava doente parece ter tomado chá de milagre, pois estava curado e brincava alegremente com os irmãos. A mulher serve o almoço, mas, Nonato que calado chegou, calado ficou, nem buliu na comida, sua mulher puxa conversa, mas só silencio, conhecendo bem seu marido esta também se cala.
De repente Nonato diz:
____ Vou embora amanhã!
Sua mulher já esperava esta decisão, então tenta acalmar seu amado.
____ Está pensando naquele desgraçado que fez você ir pra cadeia, não é isto?...
____ Nunca tolerei desaforo, este também não vou engolir.
____ Mas você não pode abandonar assim a fazenda, seu patrão confia em ti, e tem também nossas coisas, quem vai cuidar, os meninos ainda são pequenos...
____ Pode deixar mulher, vou entender com o patrão, arrumar um lugar pra vocês e terminar o que aquele safado começou.

Na cidade comentam que Nonato vendeu tudo que tinha, comprou uma casinha pra mulher e os filhos e vai atrás de sua vingança. Numa manhã, junto ao cântico de cigarras, em uma casa no fim da rua, os eixos de pau, fazem parada trazendo a mudança. Por sua vez, o comandante da policia já prevendo o que poderia acontecer, a muito havia transferido o soldado Medeiros para longe de sua guarnição. A mulher de Nonato ao vê-lo lustrando suas armas, e sabendo que desta vez o desfecho será desigual, pede ao marido que desista de sua vingança e fiquem juntos para melhor criarem os filhos. Alerta-o:
____ desta vez você não vai lutar com um homem, mas sim com a policia que nunca te deixará em paz.
È madrugada... uma chuva fina banha a morte montada em uma mula, que segue em direção ao norte do estado, nas pegadas do homem jurado.
A busca é minuciosa, de vilarejo a vilarejo ou cidade a cidade, ninguém dá noticia de um militar novato naquela comunidade. Depois de seis meses andando e já muito longe de casa, alguém lhe informa que estava de férias em sua cidade natal, e, a alguns meses atrás, foi completado o contingente da policia local com um soldado que pelo ouvido dizer não é flor que se cheire, é fanfarrão e de poucos amigos. Com uma pista a seguir, mais três dias a passos de animal, junto com a noite Nonato pede pouso em uma pensão.
Amanhece... montado em sua mula a vasculhar as ruas da pequena cidade, ouvi o batido do sino da igreja. Nonato pergunta a um desocupado porque o sino batia tão cedo naquele dia:
____ É que roubaram uns bois na fazenda do filho do prefeito e dizem ter encontrado a pista do gado e dos ladrões que os vão tocando, agora a polícia está juntando gente armada para os ajudarem na recuperação do gado.
Nonato não perde tempo, em poucos minutos se junta ao grupo de cavaleiros que na porta da pequena delegacia aguardam as ordens do delegado em comando. Por terem que fazer a perseguição pelas montanhas os três policiais usam cavalos cedidos pelo proprietário do gado. Nonato em meio aos voluntários puxa o chapéu na testa com intenção de ocultar sua face, ao mesmo tempo sente o coração bater como quem ganha um presente, pois na verdade seus olhos avistaram em meio aos oficiais o motivo de sua jornada.
Um forte tropel corta a rua principal da cidade e segue pelo estradão de poeira solta, que afunila na direção das montanhas, cai a noite, nem a beleza da lua faz o trote diminuir a marcha. O delegado grita:
____ Vejam há um clarão de fogueira logo adiante, soldado Medeiros, se adiante e verifique se são os canalhas.
Os sete cavaleiros diminuem a marcha enquanto se arrumando melhor sobre a cela, o batedor vai fazer o reconhecimento. Logo volta e comunica ao delegado que realmente são os bandoleiros, os safados estão comemorando o roubo fazendo churrasco e dizem que ao descerem a montanha o gado será embarcado. Sobe o comando do delegado o grupo se aproxima o máximo do bando, procuram descansar para fazerem o ataque logo ao amanhecer. Nonato sempre de olho no soldado Medeiros, agora pede ao seu anjo protetor que o mantenha vivo, certamente até que eles se encontrem. No primeiro sinal que o sol logo se apontaria, ouve-se a voz de prisão, bradada pelo delegado que se aproximou a pé com a milícia. Os bandidos fazem um alvoroço danado, se levantam atirando a esmo e rapidamente tentam se esconder atrás das pedras ou arbustos. Junto ao manto escuro da madrugada, era visível o fogo que reluzia das armas em serviço. Nonato agia com cuidado para não perder na escuridão seu jurado, as balas luziam e cantavam uma melodia mortal. O soldado Medeiros percebe um dos bandidos se distanciando do grupo como quem tenta fugir ou se proteger melhor. Medeiros se desloca sorrateiro, abrigado por umas pedras grandes, com a intenção de pegar o bandido, Nonato percebe a manobra e faz o mesmo. O bandido atalha o caminho por entre as pedras descendo atrás de Medeiros, que pasmo engole sego ao ouvir um tiro disparado pelas suas costas. Por facões de segundos, seu intimo experimenta o horror de ser surpreendido por uma bala. Com as pernas trêmulas, vira rapidamente e se alivia ao ver o bandido que ele perseguia, caído sobre seu rasto. Incrédulo, com a ponta do revolver, levanta o chapéu na testa como quem agradece aos céus sua salvação. Por instinto percebe um homem que se aproxima, ainda com o revolver encostado na aba do chapéu, arrisca perguntar ao militante que se aproxima:
____ Foi você que me salvou?
A resposta lhe gela a alma.
____ Não podia deixar este ladrão de gado roubar a vida do canalha que a muito eu procuro.
Diante do espanto do soldado, Nonato tira o chapéu para clarear sua memória e seguidamente lhe diz:
____ Aquele vidro de remédio que você quebrou, marcou uma nova vida para mim e decretou o fim da sua.
Em tempo tão rápido que só a mente consegue percorrer, Medeiros relembra o equivoco acontecido a meses atrás. Reconhecendo o matuto e sabedor de sua intenção, rapidamente desce a mão com o dedo apertando o gatilho, mas suas forças lhe faltam antes de concluir sua defesa. A bala da espingarda de Nonato viajou tão rápido, que lhe perfurou o coração jogando seu corpo para traz.
A caçada ao pé da montanha ainda fervilhava enquanto Nonato segue seu rumo com a alma lava.
O delegado ao encontrar o corpo do soldado Medeiros caído a alguns passos do bandido, deduz que os dois se alvejaram ao mesmo tampo, declarando que o militar morreu no cumprimento do dever. (Num vacilo da lei, não perceberam que o bandido portava um revolver calibre 38 e no peito do policial descansava uma bala calibre 22 disparada pela falobé de Nonato).
Trinta e seis dias depois deste ocorrido, Nonato chega em sua casa, antes dele, chegara a noticia que em uma pega a bandidos, o Soldado Medeiros morreu em cumprimento do dever.
Recebido com alegria pela família, Nonato diz que vai falar com seu ex-patrão e tentar voltar para a fazenda. Se entristece quando sua mulher lhe conta que dois meses depois de sua partida, o homem vendeu as terras para uma firma que vem plantando eucalipto por todo o sertão. Conta mais... as terras já estão sendo cultivadas e todo o cerrado vai virar carvão. Consola-o dizendo:
___ É meu velho, é melhor você mudar de profissão, por aqui agora so se fala em eucalipto, carvão e ferro guza.

Nonato se adaptou ao novo serviço tornando-se carvoeiro, sem hora para pegar ou largar no batente... tenta juntar dinheiro para comprar seu pedacinho de terra, se Deus lhe permitir.

Adilson Silveira
Agosto de 2009

A Fé e a Graça Alcançada

___ Augusto, me deixe o dinheiro para comprar uma lata de tinta, assim que tiver um tempinho, eu mesma pintarei o armário da cozinha.
___ Larga disto mulher, já está inventando moda.
Mesmo resmungando, o dinheiro fica sobre a mesa da cozinha. O relógio batia a caminho de meio dia, de uma loja de tintas, Dona Francisca saía, organizando a compra dentro de sua sacola de feira. Com carinho, serve o almoço aos filhos e os libera para brincarem no quintal. Enlaçando o avental na cintura, observa o casal de filhos que brincam sob sombra de um flambo-iam. Depois dos afazeres do lar, usando uma chave de fenda, extrai a tampa da lata de tinta azul, emolindu-a com solvente, abastece o reservatório da pistola que deixará seu armário semi-novo. As crianças atraídas pelo barulho do compressor ligado, deixam a brincadeira e vêem ver a arte de sua mãe. Um jato de tinta aqui, outro ali, vai deixando como novo, o velho armário da cozinha.
De repente, pitiziii, a pistola de tinta parou, entupiu!...
Pobre Dona Francisca, a falta de pratica a deixa insegura, nervosa, certamente até ensaiou alguns palavrões para desabafar, mas diante das crianças não seria conveniente. Pensando alto fala:
___ Bom, se entupiu, o negocio é desentupir”.
Sai como doida, em carreira para a estante, lá haviam alguns preginhos guardados dentro de um copo de vidro. Pega o mais fino, usando a ajuda de um martelo tenta desentupir a pistola de tinta. Força um pouco de um jeito, um pouco mais de outro, sem se lembrar que o compressor continuava ligado, pondo em risco a operação – funciona trem -. Seu casal de filhos ali pertinho, só olhando a luta da mãe com aquela maquina, até se divertiam.
O compressor continuava em sua função, súbito: buuumm, a mangueira não agüentou a pressão, explodiu esguichando tinta azul por toda parte, acertando em cheio o rosto de sua filhinha, que caiu sentada com o baita susto levado. A mãe se desespera:
___ Meu Deus, meu Deus, que foi que eu fiz, matei, matei minha filhinha, coitada.
Logo se refaz do susto e acolhendo a menina nos braços, tenta abafar- lhe o choro com um abraço. Mas isto é pouco, pegando-a pelos ombros, estica seus braços e fala:
___ Chora não, minha filha, mamãe vai te limpar num segundo.
Passa a mão na lata de solvente, embebendo um pedaço de pano branco, tenta limpar-lhe o rosto, mas a solução química lhe queima a pele, fazendo-a chorar com mais desespero. Vendo que assim seria impossível e rogando sempre a Deus pela filha, corre com ela p’ra debaixo do chuveiro, com a intenção de tirar a tinta com a água morna que caia.
Seu filho (o mais velho), a acompanha tão assustado que nada conseguia dizer. A pobre mãe usava sabão, champoo e bucha de banho, mas, nada estava adiantando.
Vem o desespero, agora ajoelhada na frente da filha começa a chorar e rezar, em meio as orações, roga a Nossa Senhora de Aparecida que mostre como tirar a tinta que lambuzou todo o rosto de sua filha.
O menino que a tudo assistia e ouvia, corre até a cozinha, volta ao banheiro com uma lata de óleo de soja na mão, estica o braço e fala p’ra sua mãe:
___ Toma mãe, passa nela...
___ Isto é óleo de soja menino, vá colocar lá na cozinha, depressa.
O menino, mantendo o braço esticado em oferta, insiste:
___ Sei que é óleo mãe, mas passa, passa assim mesmo mãe, vai, passa...
Pegando a lata, a pobre mãe que já não sabia o que fazer, molha o dedo no óleo e o passa sobre a pele azulada, no rosto da filha, em pranto percebe que o óleo retirava a tinta, como que a esponja retira o branco do giz de um quadro negro.

A emoção foi tanta que até o menino entrou sob o chuveiro para ajudar a tirar a tinta que colou em sua irmã.

(este testemunho de fé, é baseado em fartos verídicos)

Adilson Silveira-
01-2010

MORANGO MÁGICO

___ Olha o papai aqui!...
Rapidamente as crianças deixam no sofá os controles do vídeo games, e se agarram ao pai que chega do serviço. Enquanto demonstram afeto, o menino lhe cobra:
___ cadê pai, o que o senhor prometeu que traria?
Tirando a mão direta detrás das costas, ele exclama quase cantando:
___ olha, olha, olha o que o papai trouxe!
___ estes morangos são só meus.
Gritou o menino se agarrando na caixa de morangos vermelhinhos que seu pai lhes havia prometido, quando voltasse do serviço. Nesta hora a menina já agarrada na caixa disputa com o menino o direito aos frutos. O pai lhes chama a atenção e recomenda:
___ Não quero ver brigas hem, entrem num acordo e comam sem bagunça: entendido?
O menino muito astuto, enquanto comia pensava em como passar um trote na irmã, que deliciando comia o ultimo morango da sua parte. O garoto já de plano feito, reserva um dos frutos e sai para o quintal dizendo em tom macabro:
___ Este morango é o ultimo da caixa, ele é encantado, tem o poder da vida, matando a fome do mundo, ou de matar uma família inteira se for colhido antes da hora, há há há há há... há há
___ Mano, pare com isto, coisa mais boba; os morangos estão é muito saborosos, se não quer comer este, me da que eu como.
___ Não, este não pode ser comido, ele é encantado e eu sou seu guardião. Eu o enterrarei no jardim e vigiarei até que ele nasça, cresça e dê muitos frutos.
Assim, seguido pela irmã o menino, caminhando tal qual Merlym, vai para o jardim, cava um buraco no chão e ali enterra o fruto encantado. No capricho de seu plano, coloca uma folha verdinha de morango, para tornar mais real seu poder e mago.
___ Seu mágico mentiroso, eu não acredito em nada disto...
­­___ Então arranque este morango e verá o fim de toda nossa família...
­­­___ deixa de ser palhaço, achas que sou boba de acreditar numa brincadeira desta...
___ Não faça pouco de mim, minha mágica é poderosa, se este morango for desenterrado antes de dar mais frutos, toda nossa família morrerá, começando por mim.
___ Pois o desenterrarei agora, mago de meia tigela.
___ Por favor, não faça isto, eu lhe imploro!
Dramatizou o menino, em súplica desesperada. Mas a menina se ajoelha no chão e cavando com as mãos mantém os olhos fixos no irmão, com ar de quem espera ver desmascarada sua magia. De repente um grito “achei”, seu irmão grita desesperado por sua vida “nãããão!” mas já é tarde.
Puxando de uma vez o morango, a menina sente o coração querer lhe sair pela boca ao ver seu irmão gritando e caindo como quem morria fulminado por um encantamento maléfico. Em choro desesperado a menina grita.
___ Meu Deus, matei meu irmão, certamente morrerá meu pai e minha manzinha. O que vou fazer se ficar sozinha no mundo. Não vou agüentar, morrerei também, será o fim de minha família.
Gritando pela mãe, sai correndo em direção á cozinha, mas antes de alcançar a porta, para, ao ouvir o irmão cantando em grande algazarra.
___ Minha irmã é boba, / caiu na pegadinha, / ficou desesperada, / quando viu a morte minha.
Sentido novamente a alegria de viver a menina se volta para o irmão e lhe dá uma bronca com grande sabedoria:
___ Nunca mais, assim comigo volte a brincar,
em morte não perco tempo a pensar,
para mim, morte não tem vida, ta? ...

Adilson Silveira01-2010